segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

"Qual vida me será tirada agora?..."

 Mais uma viagem a trabalho.
 Recostou-se, fechou os olhos. Melhor cochilar para não ficar enjoado,não pensar em nada, descansar o corpo e a mente dos acontecimentos dos últimos meses.Tanta ansiedade,consultas,médicos,hospital. Detestava o cheiro que existe nos hospitais,mesmo naqueles que não havia cheiro, mas ele o sentia assim mesmo! Sentia-se mal com a realidade ali presente, a tristeza e a preocupação estampadas nos rostos, e pior ainda, no rosto daquela que era sua companheira por tanto tempo, e agora, parecia tão frágil. A vida viria roubar-lhe mais uma vida? Ele chegou a perguntar-se se foi necessário esta ameaça para que acordassem para o fato de que já não se pertenciam há muito tempo... a doença era uma ameaça, ou também um sinal que mais vidas estariam se perdendo ali? Vidas que não eram vividas, como se o tempo pudesse ser desperdiçado. Dizem que após grandes traumas, uma pessoa começa finalmente a viver... seria na mesma direção ou em outra? Teria de ser na direção da vida verdadeira, ou tudo seria mais uma vez inútil! Mas a verdade é tão simples, é tão mais leve como talvez só o amor o seja, e por isto, às vezes passa tão despercebida!
   Aquele que quase morre, mas se recupera e vive, tem uma experiência única e dá um novo sentido à própria vida, mas não necessariamente a daquele que o acompanhou. Então, levará consigo o outro com quem já compartilhava uma vida, ou apenas levará um refém, junto de si ?
   Ele não queria mais se permitir pensar sôbre isto.Tinha decidido! Ia ficar ao lado dela,apoiá-la, fazer o que era certo, tentar amá-la e rezar para que não ficasse sem seu amor, no futuro(fosse este amor, de que tipo fosse, pois era o que tinham entre si). Virou a cabeça para outro lado. Queria esquecer de si mesmo.Bom seria saber meditar,não pensar em mais nada, tornar-se leve,flutuar...como daquela vez em que, depois de desabafar um pouco da dor escondida no peito há tanto tempo, sua amiga lhe colocou a mão suavemente na direção de seu coração e falou baixinho:
- Vamos, respira.Solta este peso junto com o ar, você consegue...deixa sair. E encostou seu rosto perto do dele, e foi respirando com ele, mostrando-lhe como fazer...até que um soluço escondido saltou-lhe pela boca. Quis segurar, foi impossível. Ia se afastar, se recompor, mas ela docemente o abraçou e as lágrimas sairam teimosas, até que ele as libertou de vez, e chorou no abraço dela.
   Naquela única vez que estiveram assim juntos, ele se perguntou quem era aquela mulher, que tinha se aproximado dele a ponto de derrubar aquela parede,há tanto tempo construída? O que seria dele sem sua fortaleza a apoiá-lo? Como fechar as comportas do que começava a jorrar? Julgava a si mesmo um homem bom, contudo seria agora, também um tolo, um fraco?
   Não precisou preocupar-se com isto. Eram amigos, podia confiar nela. Fizeram amor, mas desta vez, de uma forma mais branda, embora também intensa. Ao contrário do que pensou, sentiu-se forte e potente, e como se tivesse dez anos menos, possuiu da vida todo o prazer que ela podia lhe dar. E, conduzido pela experiência da maturidade, deu àquela mulher o amor que ela sonhava receber. Como se não houvessem nuvens escuras no céu, sentiu-se tão leve, que podia voar. Por alguns momentos ambos flutuaram juntos, como ela sempre havia acreditado que fariam.
   Voltaram, aos poucos, à realidade. Ele sabia que já não era jovem. Sua barriga, seus músculos, já não eram mais ...
   - Adoro estar assim, deitada no macio do seu corpo. Sim, ela escondia partes de seu próprio corpo, também não era jovem mas sabia como fazê-lo sentir-se único e bem.
   Ele percebeu que ela enxugou uma lágrima. Tinha certeza que aquela mulher estava apaixonada por ele e isto,ùltimamente lhe dera ânimo para tudo o mais. Sabia que ela sonhava com um amor onde houvesse respeito e cumplicidade.Ele mesmo lhe havia dito, que merecia ser amada assim. Ele, com a experiência da vida e de tudo que já perdera, sabia mais do que ninguém que a ausência de amor é um preço muito alto a pagar, seja por que motivo fosse, então,se o desejasse saberia amá-la. Se colocassem a vaidade e orgulho de lado... o orgulho que faz com que seres humanos desconsiderem os próprios limites, o saudável desejo de viverem um amor verdadeiro e desistam de tudo que permita que alguém possa lhes acusar de terem cometido um erro...o orgulho que tanto teme não ser perfeito...o mesmo orgulho que faz com que se arraste uma vida em comum, sem que se note nela a alegria espontânea inerente da própria vida, a não ser pelo esforço de um só. Se a vida pudesse mostrar a eles, de algum modo, que não se pode controlar tudo,ou tudo sacrificar, que não se pode segurar uma vida nas mãos, quando já não é plena, pois que escapará, de uma forma ou outra...que só depois de reconhecer um erro é possível seguir-se inteiro numa escolha honesta em outra direção, que estarem corretos nem sempre é mais importante do que aquilo que sentiram naqueles momentos, nem mais do que o bem que a presença de um fazia ao outro, verdadeiramente... Se a vida pudesse lhes contar sôbre a falta que sentiriam um do outro, pelo que não tiveram a chance de construir, enquanto outros tem a chance e não o fazem....
  Pela primeira vez, depois de tanto tempo, ele estava sentindo seu corpo e coração vibrarem como um violoncelo afinado, tocado por mãos suaves da musicista que sabia tirar dele o som harmonioso, para o qual foi criado. Quando tudo parecia tão sem vida ao redor de si, tanta vida lhes foi dada!
   Depois daquela tarde, ele se perguntara se estaria certo em mudar sua vida... e se chegara finalmente o momento de aprender a se amar, deixar-se amar e amar na mesma medida. Queria entender como ela podia estar se tornando uma presença tão importante... algo que lhe trazia a sensação de tranquilidade e iluminava suas noites. Mas então, aquele problema maior surgiu, que lhe trouxe mais uma vez o medo da perda e era preciso controlar a situação. Era preciso, desta vez não cometer nenhum erro, dedicar-se por inteiro a resolver o problema,nem que para isto, tudo o mais tivesse de ser esquecido. Como ele poderia estar presente na vida de duas pessoas que gostava tanto? Será que sua amiga compreenderia se ele lhe contasse sôbre estes sentimentos tão seus? Talvez, só bastasse dizer a verdade...mas a verdade é tão....
   A aeromoça  servia o homem sentado ao seu lado e ele despertou. Balançou a cabeça, afastou os pensamentos e, com o mesmo olhar triste que trazia há algum tempo, aceitou o que ela lhe oferecia, pelo menos lhe confortaria o estômago....
Texto e foto: Vera Alvarenga                                                                          

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

" O velho do rio..."

    Estavam indo para casa.
    - Estaciona aqui, por favor! Só um minuto, prometo.
   O marido estacionou o carro ali mesmo, na avenida, à beira do rio que passava dentro da cidade. Ela pegou a máquina fotográfica e caminhou uns poucos passos.Tinha visto patos na água. Duas ou três fotos, era do que precisava. Estava descobrindo o prazer de fotografar aves na água, com seus reflexos e cores que se ondulavam formando desenhos incríveis. A buzina a chamou, mas as fotos já estavam ali. Podia voltar ao carro.
   De repente o viu.
   E foi chegando mais perto. Tirou apenas uma foto, pois lhe veio a mente um cuidado..
   - Até que ponto poderia tirar fotos de uma pessoa, sem pedir-lhe licença? Mas ele estava recostado ali na árvore, cochilando. O lugar era público e ela não o exporia ao ridículo, não estava lhe fotografando para expor sua pobreza, mas simplesmente porque ele era belo. Ali naquela luz, naquele lugar, naquele exato segundo, ele era belo.
   A buzina tocou novamente. E ela se foi,querendo ficar. Entrou no carro perguntando ao marido:
  - Você viu que lindo?! O marido a olhou espantado.Ela completou - A figura dele, é interessante, não acha?
  Decidiu que iria pesquisar sôbre a ética na fotografia e que procuraria saber sôbre o homem. Na tarde seguinte, o marido disse que perguntou por ali e lhe contaram algo que parecia mais um boato. O homem, disseram, falava alguns idiomas e tinha sido importante profissional projetista, até que a mulher o deixou e.... Que história! Se ela fosse jornalista,seria uma história e tanto,mas ela não queria saber de sua vida, queria apenas fotografá-lo.O marido contou mais, que perguntou a uma assistente social, na Prefeitura, e que ela dissera que ele era "maluco", que tentaram ajudá-lo, tirá-lo da rua, mas ele era agressivo, dizia besteiras e não aceitava ajuda. Não havia para quem pedir licença para fotografá-lo, a não ser para o pobre louco.
   Outra tarde, estavam voltando do almoço e lá estava ele novamente. Ela desceu do carro e, com sua câmera se aproximou. Tirou uma foto. Ele estava desenhando! Desenhava num papelão. Chegou mais perto e assustou-se! O cão que estava deitado ao lado dele,levantou-se e latiu, como para avisá-la que ela não poderia se aproximar mais. Havia um limite a ser respeitado. Mesmo assim, ela arriscou perguntar a ele, se podia fotografá-lo. Sem olhar para ela, o homem ouviu, continuou desenhando e fez um gesto com os ombros, como para consentir. Seria mesmo maluco ou apenas um pobre homem, pobre? Ela quis conversar um pouco e ele respondeu, a maneira dele, com palavras que pareciam desconexas e que ela não podia compreender, por mais que se esforçasse. Então, ele disse algo como "homem nu" e ficou um pouco agitado.
    Ela o deixou em paz, com pena de ter de se afastar por medo e por não conseguir se comunicar com ele.
Afinal, disseram que era louco e podia ficar agressivo e ela não queria ser ferida, mas também não queria ferí-lo, nem invadir sua vida...pois talvez, ali debaixo daquela árvore,aquele cantinho fosse o seu espaço íntimo e, aquele momento que ele dividiu um pouco com ela, fosse seu momento de entrega a si, a suas lembranças ou a sua loucura.
   - Adeus, senhor. Obrigada.
   Só então ele olhou pra ela, levantou o papelão mostrando o desenho e, num instante,voltou ao seu mundo tão particular, como se nada mais existisse ali, além de seu cão amigo,sua arte e sua história.


 Texto e fotos: Vera Alvarenga                                                                        

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

" As duas faces da solidariedade..."

- Acudam! Me ajudem por favor!
- Venham ajudar Dona Maria!
Verônica,no telefone com a irmã, contava como estava feliz de ter escolhido aquele tranquilo bairro para morar, onde muitos se conheciam,eram amigos,quando ouviu gritos pedindo ajuda.
- Mana,parece que aconteceu uma tragédia. Não gosto de me meter, mas a coisa é séria.Tão me chamando no portão.Vou desligar.
- Ô Dona Verônica, a senhora viu? Levaram Dona Maria.Tá muito mal, acabou de saber que os 3 filhos, mais a irmã,cunhado e sobrinhos, todos morreram naquele ônibus que caiu no rio!
- Meu Deus! Dá licença, vizinha, que meu telefone tá tocando... Quando atendeu, Verônica ouviu a voz entrecortada da Dona Maria, que deixara um recado na secretária, pedindo que rezasse por ela e pelos seus,que se foram. A linha caiu e quase que ela cai junto.Um arrepio corria pelo corpo todo; tremia por dentro. Como é que a Maria ia aguentar isto?!
Saiu apressada.Encontrou um grupo de pessoas conversando na calçada,em frente.
- Não adianta irmos lá, ela está acompanhada pelo marido.
- Na certa vão tomar providências cabíveis no momento senhores.Vamos aguardar.Não há o que fazer agora.E a gente nem sabe se não se trata de boato!
- Ô seu Oswaldo,parece que num tem coração! A mulher perde a família toda e o senhor aí, parece que num acredita! Tá querendo o que? A gente sempre foi unido, temos de dar apoio agora!Vou lá oferecer meus préstimos. Sei lá se precisam de alguém com carro...não é mesmo,Dona Verônica? O que a senhora acha?
- Pessoal, ela acabou de me deixar um recado! É muito sofrimento pra uma pessoa aguentar sozinha! Assim que passarem alguns dias, vamos visitá-la, levar flores,telefonar... sei lá, vocês que são mais antigos no bairro, amigos dela, é hora de oferecer seu carinho...respondeu Verônica, antes de se recolher,como todos os demais fizeram,em demonstração de respeito. Era o que a situação exigia.
Dona Maria não apareceu naqueles dias.Ninguém sabia se estava no hospital ou acamada em choque, mas amigos e vizinhos se faziam presentes. Eram novenas que Dona Helena tinha encomendado para o vigário, eram flores que os vizinhos levavam ao portão, bilhetes carinhosos, gestos de solidariedade, comida pronta... O bairro todo ficou de luto. Até seu Agenor, aquele que nem religião tinha, comparecera na novena,na igrejinha da esquina. Todos choravam imaginando a dor de Dona Maria,e ao mesmo tempo agradeciam a Deus por não estarem na pele dela.Muitas luzes ficaram acesas naquela noite, no bairro. Verônica,romântica, achou até bonito!
Na tarde do segundo dia, outro alvoroço. Gente brigando,discutindo,gritando,chingando...E lá foi Verônica, assim que viu em frente a casa,duas amigas que queria bem.Por um momento, ninguém mais se doía pelas vítimas do acidente, pois eram eles, as vítimas agora.
- Tudo mentira! Desavergonhada!
- E eu que fui até rezar! reclamava seu Agenor.
- Eu bem que avisei que era muito estranho...Viu, Dona Helena? A senhora acredita em tudo!
Dona Helena magoadíssima, se afastou de seu Oswaldo, aquele a quem ela tinha dado seu coração, sem que ele soubesse ainda...
- Pessoal calma! A gente não sabe direito o que houve - disse Verônica. Será que vocês não estão se precipitando? Afinal, a família dela estava naquele ônibus,não estava? Estas notícias se atropelam.
Dona Helena aproveitou o dito e completou:
- A coitada,só depois ficou sabendo que a família sobreviveu.Credo! Parece que vocês preferiam que tivesse sido verdade, só pra não gastar vela à toa. Vão crucificar a pobre,porque ela demorou pra avisar que a família estava em segurança?!
- Ah,ela brincou com nossa boa fé.Você não entende tudo que está em jogo? Sai daqui, beata!
- Tem gente sonsa mesmo! Pior do que aqueles que mentem, só mesmo os que ficam defendendo, acobertando. Estes deviam ser linchados!
Ui, será que era com ela, ou com a Beata? Pelo sim, pelo não, Verônica resolveu entrar, porque neste momento, quem não está com a maioria, pode levar tiro daqueles que escapam quando os ânimos estão exaltados e vai tiro pra todo lado.Entrou,mas não se sentia protegida do próprio pensar - era seu jeito de ser, não acusar as pessoas - mas,ficou lá dentro, dando tratos à bola. Se sentiu enjoada. Que coisa! ou morriam os familiares da outra, ou morria a confiança e a solidariedade que as pessoas precisavam ter, para viverem em paz? Será que não tinha meio termo, nesta história toda?
Verônica, só agora ficou mesmo de luto...não sabia mais no que acreditar.A família da dona Maria não morrera, mas alguma coisa morrera ali! Foi para o quintal, no meio de suas flores e ficou lá a meditar... e meditou...e meditou muito para tirar aquele nó do estômago, que teimava em ficar entalado ali.
O tempo, sabido como ninguém,passou indiferente a tudo e a todos, e as coisas começavam a voltar ao normal. Os que se envolveram nesta história,estavam mais certos agora de que, para se morrer, bastava estar vivo! Afinal, muitos morreram mesmo, naquele outro ônibus! E havia ainda a certeza de que, era repugnante,até odioso,tudo o que pudesse abalar a boa fé das pessoas de bem.
Afinal, como poderiam viver suas vidas, se não pudessem confiar?
Verônica agradeceu a Deus por não ser advogada, promotora ou juíza. Olhou pela janela,viu Dona Maria passando tranquila do outro lado da rua, como se nada a tivesse afetado, e pensou:
- Bem, quem tem a consciência tranquila age assim. Depois lembrou que, as pessoas que costumam mentir,ou exagerar para chamar a atenção sôbre si,também se saem bem destas situações. Comentou com a irmã ao telefone:
- Eu preciso da minha fé nas pessoas, mas confesso que neste caso,não posso mais confiar. Também não gostei do exagero nas acusações...nunca vou saber se estou sendo injusta,mas não me interessa mais...tá além do que eu posso.
Ao que sua irmã respondeu:
- Todo mundo sabe que há pessoas que vão nos mentir. E daí? Sigam a vida! Acho que quem ainda está triste, é porque não se conforma é de ter cometido este erro de "se deixar enganar", ou porque está aí com uma ponta de dúvida,como você irmã...e ninguém quer cometer um erro deste... Ninguém é perfeito, mana! Esquece. Nem sempre a gente pode ter certeza de tudo. Vai pro computador e escreve uma crônica, uai!
- E aí, não vão dizer que estou me aproveitando deste episódio deprimente,para aparecer?
- E está? Você não diz que só escreve quando algo te emociona, ou precisa organizar as idéias? Vai lá maninha...

Texto: Vera Alvarenga

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Humano Amor de Deus-para Cacau

Estou tentando há mais de 1 hora postar um lindo vídeo para Cacau, pra lembrá-la de que, apesar de tudo, ela não está sozinha e Deus a ama. Tomara que agora eu consiga!

sábado, 8 de janeiro de 2011

" Entre o desejo e o prazer..."

  O amor que oferecemos, se correspondido, permite que cada um possa desvendar-se, livres para experimentar o que podem ser e o que sentem, levando em consideração a 3ª pessoa formada pelo encontro = de nós.Isto proporciona alegria, segurança e tranquilidade e por isto, apesar da liberdade, faz com que um deseje estar mais tempo com o outro. Faz falta!
   Refletindo sôbre estas questões fundamentais da vida,li um texto que gostei tanto, que pela primeira vez, vou colocar partes aqui ( entre "aspas")...
    Ele diz que Deus nos criou livres para descobrirmos e vivenciarmos nossas potencialidades ( o bom e divino em nós) e que há pessoas que nos ajudam nesta descoberta, e através de seu amor,nos mostram outra realidade diferente às vezes, daquela que estava nos limitando. "É a forma como Deus nos ama através do outro que, nos promove!"
   Eu não havia pensado nisto! E concordo plenamente que, "quanto maior é o bem com que o outro me toca, maior também será o desejo que tenho de estar com ele", pois ele me faz sentir bem por  desvendar o mistério que sou, junto comigo. E isto não é egoísmo! (uma vez que o destino de cada ser humano é a realização do melhor que ele pode ser, sendo ele mesmo). Quando nos sentimos amados, nos transformamos para melhor, usamos nosso potencial e naturalmente podemos nos orgulhar do que sentimos pelo outro e oferecemos a ele. Junto com o outro nos sentimos mais fortes e melhor, mas não porque o outro tenha tentado destruir nossa individualidade, por egoísmo ou insegurança. Ambos fazemos concessões.
    Somos movidos por desejos e prazeres. Quando reconhecemos um amor que realmente nos faz  sentir bem e ter esperanças quanto ao que ainda temos para experimentar dos nossos sentimentos, queremos preservá-lo. É a força do desejo que manterá este amor(mesmo que não possamos compreender - é o melhor de nós,tentando se realizar).
    A busca apenas pelo próprio prazer nos cega em relação à dignidade do outro. O prazer, quando satisfeito, nos afasta porque queremos nos manter solitários, não sobra muito do encontro que realizamos! O desejo, ao contrário, pode nos levar a outros desejos focados na mesma pessoa, que vão se complementando num constante conquistar e se desvendar mutuamente.
    Se o relacionamento foi focado mais no prazer egoístico, o outro não aceita que não possamos satisfazê-lo em tudo, não aceita nossa imperfeição(carências!), e por isto critica exageradamente. Se eu gosto de você, sei que você precisa de mim, tanto quanto preciso de você, recebo e dou, e tudo se equilibra.Não transformei o outro num objeto do meu prazer!
     Já o desejo é uma motivação mais profunda, que aceita o real, o sacrifício e o desafio...só não pode aceitar o egoísmo, no qual uma pessoa não quer o encontro verdadeiro e se isola(não está a fim de dar de si)!
    Ao longo da historia o "desejo" foi associado ao "pecado". A Filosofia o associou à imperfeição pois "só deseja aquele que carece", portanto é imperfeito. O Budismo o aponta como obstáculo à realização humana.  
   O autor do texto retoma o contexto do desejo como algo que não se opõe nem à felicidade,nem à construção do outro como pessoa. Concordo com ele. Sinto que o desejo de estarmos com o outro nos salva, nos resgata, como a arte e o amor, e nos eleva para a realização. Assim, é ele que nos inspira, "nos mantém na estrada, mesmo quando nos deparamos com realidades adversas". O outro não transforma nossa vida num conto de fadas, mas traz alegria e tranquilidade para que possamos vivê-la da melhor maneira- e o desejamos ao nosso lado.
    " O que nos faz querer estar ao lado de alguém" é o desejo, "combustível da vida", que nos dá a sensação de estarmos cada vez mais vivos. Existem desejos temporários e há o que mantém o foco - " o outro mudou, foi transformado pela vida,mas continua sendo o foco do meu desejo".Sua permanência está ligada à preservação do mistério - " que não significa guardar segredos, mas manter a reverência que não permite a banalização"! O que foi focado no prazer não nasceu para ser definitivo; se durou longo tempo é porque um deles talvez se motivasse pelo desejo. O desejo é mais profundo,precisa de tempo para ser despertado e vivido,mas alimenta por mais tempo porque tem consistência, cria permanência porque acalma, e movimenta para novas buscas não porque estou descontente ( porque me devolve a confiança em mim),mas não desorienta.
    Claro que seria bom ter os dois juntos! O que foi focado só no prazer acaba, ou existe só para satisfazer este impulso rápido, enquanto uma das pessoas não se conscientiza disto - o relacionamento se transforma  em algo que possui em si uma "ausência", que não satisfaz. É como uma relação sexual que nunca encontra o climax, não se completa na paz. "O desejo nos faz respeitar a sacralidade do outro - é feito de vagarezas" - é assim como ter de caminhar muitos quilômetros, enfrentar uma viagem dura, mas por estarmos certos de que há um lugar que vale a pena chegar, onde o outro estará, onde nos encontraremos, o cansaço será vencido cada vez que nosso desejo for relembrado. É bom quando conseguimos criar e preservar este "lugar sagrado" onde nos encontramos com o outro, foco de nosso desejo, aquele que eu reverencio, por quem sinto mais desejo de estar vivo, para quem sinto desejo de voltar, de ser melhor e em quem posso repousar,sabendo que desta relação, ambos poderemos vivenciar e solidificar nossos melhores sentimentos.
    Quantas vezes me surpreendo a desejar estar com o outro ? Quanto é o bem que ele me traz e o meu desejo retribuir?

Texto e foto: Vera Alvarenga (Texto baseado no do Padre Fábio Melo)
Texto entre " aspas" : Padre Fábio Melo.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

" A arte é luz que resgata..."

Hoje,relembrando descobri,
que das vezes que senti medo
e achei que quase me perdi,
em todas eu reagia,
me debatia,reclamava,
me conhecia, me reencontrava,
e estancava naquele degrau,
apoiada por minha teimosia
providencial.
E ali ficava, criando algo belo
e esperava...
até a tempestade passar.
Foi a arte que me resgatou
quando eu não podia te amar!
Foi o trabalho honrado,
foi o sorriso tantas vezes dado
junto com os meus meninos!
Foi o modo de não prostituir
minhas crenças, de não me sabotar!
                                                            
Então, até quando me senti                    
vazia e sem sentido,
não foi porque tivesse me perdido!
Pois ainda me vejo aqui,
e em mim, em tudo me reconheço.
Ah, mas você me roubou algum tempo
que me pertencia,
e muitas vezes calou a alegria e o canto,
no instante que já quase brotavam,em mim.
Mas, o dom de poder criar,
era a luz que me resgatava,
me elevava a outro patamar,
só hoje compreendo.
Eu ainda estava ali,
só não sabia!
O que me apavorava era
a ausência de luz do amor
que naquele momento,não podia sentir
por quem não olhava pra mim.
Mesmo assim, eu ainda era eu.
Começo a perceber que não me perdi...
O tempo? inexoravelmente passou,
e foi o teu rosto, que em algum canto
do meu coração se perdeu....

Fotos e Poesia : Vera Alvarenga

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

"Tudo é como uma lenta bola de neve..."

PARTE II _  de (A importância de nossos limites)...
      Seja por insegurança devido a uma infância difícil ou por não saber lidar com seus sentimentos, seja por medo de perder o amor do outro, ciúmes ou egoísmo em  diferentes graus, penso que aquele que sabe exercer poder sobre o outro, porque este depende dele emocional ou financeiramente, deveria ter consciência de sua responsabilidade. É preciso que seja honesto com seus sentimentos, pois se for pesado a ele esta dependência, deve deixar livre e dar condições a sua mulher, de recomeçar sua vida, enquanto é tempo. Deste modo seria livre, não manteria a situação de dependência, nem cobraria direitos sobre sua parceira.  Quem ama e quer o outro a seu lado, deveria querer contribuir para vê-lo também feliz!
     Falamos de um mundo mais justo! Desde que não precisemos pensar e ouvir os que se sentem prejudicados, e possamos fazer de conta que são sempre aqueles que gostam de se vitimizar  a si mesmos! Isto é tão falso e perigoso, quanto seria aquele vizinho conhecido que, vendo na rua a adolescente sozinha (poderia ser a filha de quem me lê!), a chama para pedir-lhe ajuda  com a intenção de abusar dela, e sabe que a sociedade poderá culpá-la por ter se deixado vitimizar! Ele pode achar que a ingenuidade está aí para que se tire vantagem dela. 
     Quando olhamos para uma mulher que na maturidade olha com olhos mais experientes seu passado para compreender o presente, e vê com indignação,que foi abusada em sua ingenuidade(seja pelo marido ou por seu superior hierárquico no trabalho), tendemos a não crer nisto. Com certeza, ela mesma se espantará, ao olhar-se ao espelho, contudo, devemos lembrar que isto se deu quando ela era mais jovem, e foi crescendo lenta como uma bola de neve que apenas rola pelo vento e que foi crescendo enquanto ela se sentia diminuir. Talvez ela não tivesse tempo para parar e analisar sua vida,em meio a tarefas das quais dependiam outras pessoas e crianças. Talvez, nem na maturidade ela saiba o que fazer para se proteger da excessiva confiança ou ainda pense que a vida deva ser vivida com coragem e peito aberto. 
     É claro que há diferentes graus deste abuso, e homens que não são assim maus, apenas vem de lar e infância instáveis, o que lhes acarretou este olhar desconfiado e um tanto agressivo para com o mundo. Nós todos estamos constantemente aprendendo a nos conhecer e a superar limites possíveis. O problema é quando o homem se habitua com uma resposta para a vida e continua a usá-la com sua parceira,mesmo quando não se faz  necessário porque esta mulher confia e se entrega ao que acredita ser o amor, e quando criança não teve  necessidade de criar para si mesma, as couraças que ele teve de criar para sobreviver. Nunca representou um perigo,nem é páreo para ele!
      Após o período em que o casal batalhou junto e venceu as dificuldades, se  ela  continuar sobrecarregada com tarefas a que se dispôs para enfrentar a crise e não puder contar com pequenos prazeres e apoio que o outro tem, ou com sua companhia para juntos buscarem estes prazeres, isto minará sua capacidade de reação, sua energia, enquanto ao mesmo tempo, o outro se recupera sozinho e se fortalece. Isto se agrava quando a mulher não se relaciona com outros adultos porque trabalha em casa, por exemplo. Então, sente-se cada vez mais desvalorizada. Continuará a esforçar-se por longo tempo, para continuar a vencer obstáculos e o próprio descontentamento, por não ter mais a companhia do outro, que se distancia, por ter se colocado num patamar “superior” ou à parte. Talvez um dia não mais acredite em seu próprio valor. É como uma bola de neve...Sua fragilidade aumenta, o que a faz retrair-se e mais tarde, quando tiver oportunidade, talvez sinta-se despreparada e tenha real medo de enfrentar o mundo por não se sentir capacitada para isto e, por ser responsável pelo bem dos filhos, quando os tiver ainda dependentes dela.
     Fatalmente a mulher sentirá que aquelas suas características essenciais antes desejadas na relação, agora marcam mais e mais sua vulnerabilidade. Muitas vezes não percebe que sentir-se  desencorajada, se deve não a uma fraqueza sua, mas a não ter tido as mesmas chances de recuperação e valorização que o outro teve e, muitas vezes, por não ter outros relacionamentos importantes. Acaba culpando-se e tenta agradar mais para recuperar seu lugar ao lado do outro. Luta pelo amor e igualdade que acredita, e não para acomodar-se na situação de dependente! Seu erro é acreditar que o erro... é apenas dela!
     Acaba se esquecendo do que gostava, ou quem sabe nem tenha tido tempo de descobrir, se casou-se muito jovem e esteve anos ocupada a dedicar seu tempo a causa comum - família! Sua auto-estima sofre porque não consegue elevar-se aos padrões que lhe são exigidos pelo outro ou por si mesma, não tem apoio para respeitar seus limites, e para complicar, sente grande culpa por não compreender como não consegue mais ser feliz ao lado daquele, a quem tanto e sempre amou.
     Quando recupera forças e consciência, através de algo externo que lhe faz ver sua situação real, ou a faz acreditar que mereceria mais do que recebe em nome do amor, reage, exige o direito à igualdade, pede o reconhecimento do outro. Se o outro a reconhece, aproveita a chance para juntos reconstruírem... os dois crescem e o relacionamento frutifica.
     Se, ao contrário, o outro não quer abandonar sua posição individualista, com desrespeito irá culpá-la por estar “cobrando receber por tudo que ela deveria ter dado por amor e desinteressadamente!”  Talvez ela tenha dado amor desinteressadamente, e se adaptado a realidade a cada passo da vida, de peito aberto com sinceridade e movida pela fé, até o dia em que o tempo lhe branqueou os cabelos e ela finalmente olhou para si e para o passado, e deixou-se vencer pelo cansaço. A grande decepção não se dá por “coisas” que tenha perdido, mas porque a atitude que ela perdoara e era para ser provisória ,tornou-se permanente. O que é permanente, sequestra a esperança! À decepção se junta o reconhecimento dos próprios limites...não é mais culpa dele, é ela mesma que não quer mais isto para si! Contudo, tudo aconteceu tão lentamente como uma bola de neve que vai rolando apenas pelo vento e gelando aos poucos. Nem sempre o momento de romper, e as condições se apresentam ao mesmo tempo! Ela pode desistir de parte de si, neste ponto, e nunca mais recuperará a si mesma. Antes ela primeiro se rebelou, depois tentou perdoar para então decepcionar-se consigo mesma pois viu que não era capaz de fazê-lo total e sinceramente, a menos que conseguisse se afastar do que a magoa, a menos que conseguisse ser feliz novamente... e então..... passa a sonhar!
       Neste ponto, esta mulher sabe que, ao contrário do que muitos falam, não é a “mulherzinha dona de casa” que se acomoda no papel cômodo de “boazinha”.Definitivamente nunca foi a que vivia num mundo encantado a sonhar com um príncipe! Não! Vivia dentro da  realidade, não tinha oportunidade de sair dela , ou de “enfeitar-se” (como as que trabalham fora) , mas encarava a realidade com heroísmo,bom humor e dignidade..
      Neste momento, esta mulher sabe de todas as suas falhas, e vê novas qualidades. Olha com carinho para a jovem mulher que foi um dia e sente pena . Perdoa-se e perdoa o outro, mas não totalmente, pois já sabe que não é perfeita. Reage. Deseja mais. Sabe que, se falar disto para alguém, algumas pessoas podem pensar que ela gosta de se fazer de vítima, porque está sentindo pena de si! Então ela vê sua ternura e compaixão como duas características que, sendo suas, terão que ser direcionadas para outra pessoa, usadas de outra forma, ou voltarão a ser consideradas, como uma fraqueza. E ela não quer suportar isto novamente, mas está cansada e nada busca a não ser a tranqüilidade. Quer viver em paz, sem precisar amputar-se do que é. No fundo de sua alma ainda sonhava ser feliz.
     E neste momento, quando já desiste e parece afundar na tristeza de chegar a este ponto do arco-íris sem o seu tesouro, exatamente quando a realidade de sua vida foi tanta que a fez cair, quando ela pensa que não voltará a viver em seu coração a verdade do sentimento que preenchia sua vida, quando ela se rendeu ao tempo que já tem tantos dias que não pode mais contar, quando ela finalmente desiste até de si mesma.... alguém pode aparecer em sua vida.... alquém que a trate como ela nem sonhava, que veja nela as possibilidades, alguém que precisa dela e a toca de diferentes modos... então, esta mulher pode apaixonar-se  com tanta sinceridade quanto era sincero o seu desejo de sentir amor novamente e poder confiar em alguém!  E, finalmente, como para não decepcionar o que agora parece uma profecia.... ela sorri e reconhece:
     - "Agora sim, talvez seja absurdamente verdadeiro! Finalmente, pela primeira vez, estou a sonhar com um príncipe, que só pode ser encantado....e que mesmo em sonho, me parece tão real. E sinto falta dele."
     Mais uma vez ela sorri.... e imagina estar ao lado dele,e só assim o sol derrete a neve... e ao lado dele testemunha seu sorriso quando a outros ele provoca para ver-lhes a reação, mas para ela não esconde o que sente... e se olham cúmplices, compreendendo o que é prioridade, afastando de si os gestos e palavras fáceis e vazias apenas para seduzir vaidades...e ambos tranquilamente seguem para reconstruir suas vidas, dívidas pagas, missão cumprida, perdões pedidos e concedidos... de mãos dadas seguiriam em busca de ver o que mais ninguém vê, em qualquer canto do Brasil ou do mundo, no quarto, no sofá comendo arroz doce, na praça bebendo cerveja alemã, sorririam benevolentes, de toda a realidade desta vida onde as pessoas ficam anos e anos se debatendo, porque ainda não aprenderam a reconhecer que é o amor aquilo de que mais precisam... não aprenderam a se amar e se comprometer com o amor verdadeiro, enquanto a vida lhes pertence e é possível construí-la a cada dia que ainda nos cabe viver.
     Mas, isto é apenas um sonho, que ela acalenta... só para não desistir ! 
      Foto e texto: Vera Alvarenga

sábado, 1 de janeiro de 2011

" Seremos tão tolos assim?"

Até onde podemos ir por amor? Quais nossos limites?

A importância dos nossos limites!" (Parte I)
  Pensando sobre a dificuldade de impor limites, li um texto importante que me fez refletir e colocou alguma luz para que entendesse melhor, a respeito de como somos levados por circunstâncias financeiras, pelo amor e até por nossos idealismos espiritualistas, a deixar o que somos de lado, por muito tempo. E a compreender o papel dos sonhos e apaixonamentos em nossa vida, como algo que, por vezes nos salva do esquecimento total do que ainda somos.
      Quando sabemos o que somos, e o que não somos,conhecemos nossos limites.Isto completa o que nos descreve, o que gostamos, o que nos faz bem, o que permite que sejamos felizes e nos sintamos seguros, as coisas e pessoas das quais queremos nos aproximar. Todas estas coisas fazem parte de um conjunto de “significados” que delimitam nosso espaço de segurança. Eu, sei facilmente o que “não sou” e não gosto, mas tinha dificuldade para ver os limites que tenho, como algo que teria de aceitar, pois fazem parte de mim, e que eu só deveria transpor no meu ritmo e quando estivesse pronta, sem atropelar a mim mesma.
     Se, por exemplo, sei que sou sensível e criativa, será mais fácil desenvolver e explorar minhas possibilidades,usando estas características nos artesanatos, música, fotografia, para escrever poesias, embelezar ambientes, criar filhos e educá-los, e no convívio com as pessoas. Certamente poderei influenciar positivamente na vida dos que me rodeiam, enquanto puder viver com os limites do que sou.Não me fará bem tomar muito sol e expor-me a muito barulho, brigas, permanentes discussões, agressividade. Se, além disto sou compassiva,  e dependendo do grau, talvez não seja indicado trabalhar em hospitais, com pessoas doentes ou pelas quais eu possa sentir compaixão, pois ao invés de ajudá-las a lidar com seus problemas apenas, talvez  me sobrecarregue se não souber preservar meus próprios limites. Experimentar e depois respeitar meus limites será sempre algo fundamental para o bem estar.
     Minhas características essenciais podem ser incentivadas, ou não, fazem parte das minhas digitais, me acompanharão para onde for, mas se forem negadas por outro, a quem eu respeito mais do que a mim mesma, seja pelo motivo que for, fico impossibilitada de desenvolver minhas potencialidades e sinto falta disto. Sentimos falta de viver podendo vivenciar os valores e crenças que temos. Se isto ocorrer por muito tempo, posso até esquecer parte do que sou! Pode ser por um período longo, mas será suportável se, meu companheiro de vida estiver, em nome do mesmo objetivo comum, tentando como eu, suportar algumas e vencer outras dificuldades que a vida apresenta. Por amor e somado a um caráter menos belicoso, podemos suportar qualquer dificuldade, desde que tenhamos fé e acreditemos não estar sozinhos nesta luta comum para enfrentar a vida e superar alguns limites ( não todos, porque estaríamos negando o que somos e nos convencendo de que seríamos melhores se fôssemos uma outra pessoa,com características diferentes do que as que são nossas. Se sou uma boa melancia, não preciso ser abóbora! E tomara que meu companheiro veja a coisa assim!).
    Quando casamos, somos duas individualidades a desejar caminhar “juntas”, lado a lado, enfrentando o que vier pela frente, com apoio mútuo. Contudo, terminadas as dificuldades, vencidas as batalhas por ambos, aquele que se caracterizava por ser o mais dominador na relação, deveria ter o bom senso de dividir com o outro o prazer que esta liberdade de ação pode trazer. Muitas vezes porém, ocorre o contrário ou ainda pior, quando este, pouco a pouco, sutilmente, foi deixando de proporcionar ao outro as oportunidades, que para si aproveita,ou negando-as, contando muitas vezes, exatamente com a sensibilidade e docilidade do que tinha estas características inicialmente.Quando, por egoísmo ou prepotência, deixa de dividir com o outro os direitos e passa a decidir tudo sem levar o primeiro em consideração, manipulando-o, negando-lhe o direito a igualdade, está manipulando a situação para preservar sua superioridade sobre o outro, de alguma forma. Aí estará surgindo uma vítima, e uma relação de dependência que não mais se justifica.
     Somos sempre nós que devemos impor os limites do respeito, como se repete modernamente? Toda culpa recai sobre a pessoa que é abusada, de alguma forma?(seja o “homem”, ou a “mulher” em se tratando de um casal). Mesmo alguns homens de ação podem ser “usados” ou “manipulados” . Seremos tão tolos assim que gostamos de nos tornar vítimas? Ou vamos nos enredando nesta triste condição aos poucos, levados por alguma característica natural nossa, e que o outro conhece, e usa para ter controle?
     Quando alguém grita ou protesta em voz tímida sua decepção quando teme ter percebido que foi manipulado, creio que é perigoso esta mania de apenas dizer:
     -" Acorda! Deixa de se fazer de vítima!”
     Claro que há variações em que estas coisas acontecem, e cabe a cada um no relacionamento, medir a proporção de sua parcela de responsabilidade.
     Penso que estaremos sendo um pouco algozes também, se colocarmos todos os que tiveram parte de sua chance de desenvolvimento impedida pela vida ou pelo outro, no mesmo balaio,rotulando todos igualmente de masoquistas, covardes, provocadores ou ignorantes, sem compreender o processo envolvido nesta questão. É o que fazem contra o povo quando vota em alguém em quem depositou sua total confiança e que depois se mostrou um governante que abusa do poder e tira do povo sua dignidade! E dizem:
    - " O povo tem o que merece!"
     Não podemos tirar dos ombros dos que abusam do seu poder ou negam ao outro viverem sua potencialidade e suas crenças, o quinhão de responsabilidade por sua atitude. Assim como a vítima vive com a consequência de sua ingenuidade, o outro precisa também compreender que um dia a "casa cai" e a moleza pode acabar! 

Foto e texto: Vera Alvarenga

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