quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Aprender a nadar,aprender a viver...

   Como era bom estar na água novamente!
   Final de uma tarde muito quente. A água estava na temperatura ideal. Envolveu seu corpo, proporcionou prazer. Conseguiria atravessar a piscina? Há meses que não nadava e mal havia aprendido! Ainda tinha medo. Uma vez, engoliu um pouquinho de nada de água mas como não dava pé, tossiu, se engasgou, foi horrível. Não queria lembrar. Não podia lembrar, ou não chegaria do outro lado! Afinal a piscina não dava pé, a não ser no início...ou no final de todo esforço.
   Deu uma braçada e mais outra. Estava indo bem.    
   - Engraçado isto! No início as coisas são fáceis, não parecem oferecer risco.Sim, era uma armadilha, sedução, um convite que parecia levar à ventura desejada, mas então no meio do caminho, tudo ficava mais difícil, quase impossível. Ela tinha certeza de que não dava para desistir...tinha que chegar até o final. O final, apesar de tudo,sempre traz uma possibilidade de sucesso e é seguro novamente, mesmo quando tristemente for apenas o final. Mas é preciso chegar lá, ver a linha de chegada claramente, ver as possibilidades. É impossível ficar em luta o tempo todo, para se manter na superfície e não se afogar...calma...mais um pouco, mais um pouco e você consegue.
   - Nossa, como isto cansa, vou desistir... seguro na borda,descanso e saio daqui. Respiro aliviada, no meu ritmo, volto para minha rotina e pronto. Não, não posso! Concentre-se. Sinta o corpo, pense nele, na sensação boa que vai ser poder entregar-se sem medo. Como é bom isto!
   Ela pensou nele. Por que não? Serviria de incentivo. Fazer algo bom para si mesma, a fez lembrar dele.
   - Dele quem? Do corpo? Atenção, calma, respire... Pra que fui inventar isto?
   - Ora porque é bom! pense, como é gostoso sentir o corpo cheio de vida, fresco...
   - Quem é gostoso? Ele ou o corpo? ou estar com ele?
   - Nada disto, estar aqui! Quase se engasgou...teve vontade de rir de si mesma. Valeu! O escuro da raia demarcada, dos limites estabelecidos, tinha terminado. Então, faltaria apenas mais uma braçada, duas e ...
   Não aguentou, parou antes do final. Frustrada,tirou a cabeça da água, como se há muito não respirasse! e respirou como para se devolver à sua própria vida. Ar é pensamento,raciocinar... precisava respirar devagar...recobrar o controle dos sentidos, acalmar seu coração que disparava quando nadava e também ainda quando pensava nele. Pensar nele ainda a fazia sorrir dentro de si. Sentiu-se frustrada. Não queria desistir. Disto não! Mas não queria fazer feio, engasgar, passar ridículo... Ora, para o inferno seus medos! Olhou para frente. Piscina quase vazia. Liberdade para tentar, errar. Como era difícil aprender a nadar ( e a viver!), como era difícil coordenar a respiração, o racional, com a água, tão teimosamente macia e perigosamente emocional! Contudo, valia a pena. Se conseguisse  sentir-se segura, se pudesse entregar-se totalmente a ele, sem medo...
   - A ele quem?
   - Ao coração, ao corpo, ao amor... juntar tudo e ela mesma, à vida, à emoção, à água... seria tão bom.
   Respirou fundo, procurou o salva vidas, estava lá, lá longe. Colocou novamente nos olhos o que a faria enxergar melhor dentro de tanta água, tanta emoção e foi, entregou-se ao seu exercício em busca do prazer de viver! Mesmo que tivesse de aprender a nadar sòzinha!

Foto e texto: Vera Alvarenga
   

4 comentários:

  1. Interessante narrativa, água é vida amiga Vera. Te deixo de presente um poema que fizeram sobre as águas dos rios.

    "Rios de águas vivas"

    Ainda há um fio aquoso e tênue de esperança

    Gotejando em mim a água da bem-aventurança

    Anjos dançam ao meu redor

    Querem me ensinar o que é o amor

    Não falo de pele, de sentimento carnal

    Falo de rios de águas vivas

    Que fluem da fonte límpida de puro cristal

    Sentimento espiritual

    Não me refiro, pois, ao amor entre iguais

    Ou entre um homem e uma mulher

    Falo da pétala aromática do bem-me-quer

    Da flor que não murcha jamais

    Que o mal-me-quer invejou

    E não quer mais

    Escrito pela poetisa : Úrsula A. Vairo Maia

    Abraços

    Expedicionários

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  2. Amores! Muito lindo este presente que me trouxe!
    é mesmo isto...a gente sai dali com o corpo formigando, ou quase..mas não é como se estivesse adormecido não! é como milhões de minúsculas bolhas de luz, como as do champagne, estivessem ali, borbulhando no meu corpo todo...
    " Rio de águas vivas" muito lindo e água é vida, com certeza!
    Obrigada! Beijos, Vera.

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  3. QUERIDA AMIGA MUITO INTEREÇANTE SUA POSTAGEM
    MARAVILHOSO,ESTE TEXTO,,,QUE NOS FAZ PENSAR QUE AS VEZES PENSAMOS TER MAIS FOEGO E RESISTENCIA DO QUE REALMENTE TEMOS,MAS A AGUA,É SEMPRE BOM,EMBORA SEJA TÃO PERIGOSA,MAS NOS PURIFICA,NOS RENOVA AS ENERGIAS,PARECE NOS PENETRAR NAALMA,BJS QUERIDA UM ABRAÇO
    MARLENE

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  4. Vera:
    Delicioso o seu texto. Como eu viajo fácil no que me encanta, até senti a sensação da água no meu corpo e a sua falta de ar. rsrs
    Eu já me afoguei 3 vezes na vida. Primeiro aos 7 anos num rio, depois na piscina e por último no mar.
    Acho que estou livre de morrer afogada, não? rsrs
    A água é fundamental para nós, é terapêutica.
    grande abraço

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