domingo, 28 de agosto de 2011

Basta sentir...

   



Nem tudo a gente precisa entender.

Há muitas coisas que a gente só tem que sentir.

Abrir o coração, deixar entrar e então...sentir.









Existe uma beleza no fazer arte ou estar diante dela..

é a de intuir que basta sentir, sem explicar, sem julgar, apenas deixar existir...


É como descobrir a beleza que existe em fazer sexo
com amor, que não se quer compreender nem é preciso ver, apenas sentir...









Isto acontece com os sentimentos ou momentos fortes que nos arrebatam, apaixonam...



Crônica fotográfica- texto e fotos:
Vera Alvarenga



terça-feira, 23 de agosto de 2011

Reforma em Votorantim prevê solucionar problema de poluição do rio.

Semana passada participei pelo MSN do programa Debate dos Fatos da TV Votorantim, fazendo 1 pergunta que me foi respondida no ar, pelo que agradeço.
Perguntei: - " Se a reforma que a Prefeitura de Votorantim está fazendo na Praça de Eventos onde acontece a Festa Junina, prevê a canalização também da água suja que entra direto no Rio Sorocaba por um cano de esgoto que passa por baixo da avenida ( nem sei se vindo apenas da Festa)."
  Isto me preocupava desde o dia que fui fotografar o rio que adoro, e me surpreendi com a sujeira que vinha deste cano e entrava direto no rio, durante as Festas Juninas de Votorantim. Me surpreendeu porque deveria estar acontecendo há anos e é um problema sério que precisava ser urgentemente resolvido. Sei do esforço da Prefeitura de Sorocaba em seu Projeto de  despoluição do rio, portanto Votorantim, sua cidade irmã e vizinha, deve cooperar. Cheguei a colocar as fotos no meu blog e falar do assunto também por email a jornalistas da TV, pedindo-lhes apoio, porque isto havia me entristecido.
Foi feita reportagem muito boa a  respeito da poluição, convocando a população a se conscientizar da importância da qualidade da água do rio, e cidadãos entrevistados falaram de seu desejo de continuar a pescar no rio, como sempre fizeram. Mas,parece que não tinha sido citado o problema dos canos levando sujeira. Por isto, aproveitei a oportunidade do programa para mais uma vez, tentar saber se na reforma, foi pensada uma solução.
Então, fiquei contente com a resposta da Luciana que apresenta junto com o Werinton o programa de TV que mencionei, dizendo que o Prefeito citou em outra reportagem, que sua intenção com a reforma também é sanar este problema. Que bom!
Então, vamos esperar que tudo se resolva. Que o rio possa continuar a ser o símbolo de um relacionamento de amor e respeito à natureza, por parte da população de suas margens. Assim evitaremos o que ocorre com o rio Tietê por exemplo, que sofre pela irresponsabilidade dos homens.
A Festa Junina é um evento maravilhoso que traz turistas à cidade.
O Rio Sorocaba é lindo, tem recantos que, em Votorantim, poderiam ser transformados em belos locais para a comunidade e turistas poderem usufruir, como já foi feito na cidade de Sorocaba. Espero que assim seja. Que em suas margens possamos ver árvores floridas e que suas águas se mantenham isentas de despejos indesejáveis. Que a vida que ali existe se multiplique. A cidade de Votorantim pode ficar muito bonita e valorizada se este aspecto for cuidado.
 E, evidentemente, isto não se trata só de educação voltada à ecologia, ou de um serviço de valorização ao meio ambiente com o respeito devido à flora e fauna, mas inclui respeito aos cidadãos e moradores da região, que merecem lazer às suas margens... e também precisam responsabilizar-se por mantê-lo limpo. A água é do planeta.
  Que bom, parece que vamos ter uma atitude de coerência e cooperação que trará benefícios a todos, com certeza! Estas 2 cidades bem poderiam servir de exemplo a tantas outras! E eu continuarei feliz a fotografar as belezas deste rio!
Texto e fotos: Vera Alvarenga



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Colcha de Retalhos - a arte imita a vida...

Ah..acho que foi em 1992  na Casa da Cultura de Paraty, numa exposição minha onde Máscaras eram o elemento principal, fiz um quadro que chamei de "Colcha de Retalhos" e com ele aconteceu algo interessante.
Evidentemente ele tem uma história... numa de minhas constantes viagens a Paraty, eu levava minha máquina de fotografia e ia por todos os caminhos, inclusive na mata, com olhos de procurar, sentindo-me atraída por cores,relevos, texturas e pelo Belo, principalmente o belo que aparece onde menos se espera, e mesmo no caos. Sempre fui uma pessoa intuitiva, gosto disto - encontrar o belo é uma solução intuitiva para a sobrevivência.
Uma noite, andando com minha sogra e marido, entramos no Asilo dos Idosos, (hoje diriam Casa dos Idosos). Ela, que viveu em Paraty, disse que gostaria de ir para lá quando estivesse bem velhinha, pois encontraria certamente conhecidos. Isto me surpreendeu, me impressionou. Então, já entrei impressionada, num lugar onde teria de encarar algo não muito fácil - a realidade de que a velhice chega para todos. Ela caminhava e conversava com algumas senhoras, mostrando-se à vontade com a crua realidade. Eu, fazendo de conta que estava bem, me senti uma idiota porque não sabia o que dizer a nenhuma delas. Aliás, quando algo me emociona muito ou mexe comigo, geralmente não sei mesmo o que dizer, pois falar é algo bem racional e eu sou muito menos racional, eu acho. De repente me sentei ao lado de uma senhorinha que estava calada e não parecia ter nenhuma expectativa em relação a alguém conversar com ela. Me senti mais à vontade e fiquei olhando a colcha de retalhos que ela fazia. Quando vi, estávamos conversando. A colcha era linda!
   Foi logo depois, que fiz este quadro. Pelo menos nele, eu tinha o que dizer,sem precisar falar..rs... Geralmente, expresso melhor meus sentimentos através do corpo ou das mãos, de um carinho, um abraço, fazendo arte ou artesanato. Nunca tinha visto alguém fazer um mosaico de fotos cortadas, mas era a minha colcha de retalhos, em homenagem e respeito àquelas senhorinhas lá do asilo. Retalhos da cidade onde tinham vivido a vida toda. Sobre ele coloquei vidro e uma máscara também recortada de cerâmica que fiz do meu próprio rosto. A moldura era antiga, cor sóbria, lembrando o asilo. Bem, estas coisas da criatividade não se explica muito, mas foi o que tive de fazer para uma senhora que veio com a amiga na exposição e fez uma dura crítica ao quadro. Disse que entendia de arte e jamais aquela moldura deveria estar ali,numa obra tão contemporânea,etc,etc. Eu, nunca estudei arte, a não ser escultura,mesmo assim,em cursos práticos,com Calabrone e Reydon. A forma dura como me criticou me deixou sem graça. Quis então contar a ela a história da "minha" colcha de retalhos e, assim que o fiz, seus olhos se encheram de lágrimas e ela saiu. Fiquei passada, sem entender, pois não fui grosseira a ponto de ...
   Então a amiga dela veio em meu socorro, me contou baixinho que, uma noite antes disto,se não me falha a memória, passando pela calçada em frente ao Asilo, viram as senhorinhas dançando com alguém(acho que era um médico ou enfermeiro) que as chamou para participarem também daquele momento e a amiga se emocionou,mas não quis entrar. Foi realmente uma coincidência que ela tenha sido tão dura com algo que representava o que antes, já havia mexido tanto com os medos dela (e meus)! Bem, penso que a velhice, a solidão, o estar numa casa de velhinhos sem familiares por perto é mesmo uma coisa que assusta a muitos de nós...(com exceção de minha sogra! que, por sinal, morava com uma filha carinhosa, antes de morrer -não precisou ir para o asilo).
   O mais, seja em relação a Vida, ao amor ou à Arte, fica por aí mesmo, nem sempre é preciso explicar...

Texto e foto: Vera Alvarenga

sábado, 13 de agosto de 2011

Poder nas mãos de quem não reconhece limites...

Quem tiver oportunidade e tempo, veja a história contada por D. Adelaide, lá no site do Amores no Velho Chico. Aqui está o link: http://www.amoresnovelhochico.com.br/2011/08/11/e-tres-marias-inundou-o-sertao/
Esta comovente história me fez pensar novamente no abuso de poder nas mãos dos que pensam apenas em si e não percebem os seus limites e os de outros. Aqui vão flores simbolizando meus respeitos à D. Adelaide...e meu desabafo.
Na maior parte das vezes, governantes deveriam poder experimentar do próprio remédio para compreender o peso de suas ações.
Sou obrigada a reconhecer que nós, seres humanos somos imperfeitos e
portanto, tudo isto é algo a se esperar, 
mas que é importante darmos voz aos que tem histórias para contar, para que, com alguma esperança possamos crer que isto nos fará desejar evoluir.

Por que quem tem poder sobre as decisões que afetam outros, não consegue perceber seus limites? Para alguns, conseguir o que querem mesmo ao custo de outros é o que importa!

Sempre foi assim, no mundo, entre os governantes, nas comunidades, dentro das casas...Por isto é preciso podermos ouvir histórias como as de D. Adelaide, para lembrar de não nos acostumar com as justificativas e inversão de valores.
Há muitas maneiras de se viver histórias assim. Os detalhes e o número de pessoas atingidas pode ser diferente, mas tem algo em comum. Tudo começa quando alguém, ou uns poucos,não tem consciência do próprio limite e de sua imperfeição e então, não podem também reconhecer os limites do outro e seus direitos.
Então, com o poder nas mãos,seja ele de que forma for, impõe o que decidiram que para si é o melhor. Por levar em conta só o que querem,embora não lhes satisfaça nunca, minam a resistência do(s) outro(s) com diferentes táticas, acabam com sua auto estima, destroem o outro que, quanto mais tiver consciência de si e de princípios humanitários, mais sofrerá e acabará por ser considerado como alguém inapropriado ou incapaz. Que valores são estes que estão tão invertidos? As vítimas que tanto tem que suportar são consideradas como "fracos e loucos"!
E por que estas vítimas se calam? Por que tanta gente deslumbrada hoje pelas palavras fáceis, pensam que as vítimas é que são sempre culpadas pelos abusos que sofrem? Por que tanta gente ainda sonha com a ilusória crença de que a felicidade é algo que a gente sempre pode construir pra si ? A gente pode tentar mas felicidade é também a tranquilidade de sentir-se respeitado. Em parte sim, claro que a gente diante de abusos, ainda tenta transcender!! mas há que se levar em conta que, quando alguém vem e não leva em conta sua opinião e suas necessidades, esta historinha bonita de que tudo depende de nós mesmos, fica meio relativa, não é? Quanta facilidade ao julgar-se que vítimas são sempre vítimas de si mesmas! Nem sempre é assim, nestes termos. Pelo menos não pra mim. E nem sempre ter fé resolve tudo, embora concorde que, ter fé nos ajuda a seguir, a transcender, a tentar nos convencer de que não dependemos apenas de quem abusa do poder, e de que há de ter um destino melhor para nós em algum lugar...então podemos sonhar.
Claro que todos tentamos reagir, dentro de nossos limites, com nossas próprias forças, mas numa competição nunca ganharemos de quem não vê limites porque se julga perfeito e senhor de todas as decisões. Estes serão sempre incapazes de transcender os limites porque não os reconhece,nem as necessidades de outro ser humano comum,nem de si mesmos. Estão perdidos dentro de uma urgência por conseguir possuir mais que tudo, a qualquer preço!
Difícil lutar quando não tivermos as mesmas armas e, por vezes nem queremos tê-las. Então, parabéns a D. Adelaide, que soube esperar e lutar a seu modo, falar, contar, testemunhar, da maneira como pode. Ela sim está transcendendo os limites impostos a ela, tentando reagir na medida de suas forças, mostrando-se vítima sim, chorando suas perdas e nos lembrando que o mundo real e as pessoas reais merecem nosso respeito! e de que vítimas, nem sempre o são porque querem ser.
Parabéns ao blog Amores no velho Chico por dar voz a ela também.
Meu sincero carinho a todos.




terça-feira, 9 de agosto de 2011

Música que lembra meu pai...

 O dia dos Pais está próximo, e quem não o tem mais ao seu lado, certamente vai lembrar dele com carinho e saudade.
 Hoje encontrei no youtube uma música que meu pai cantava e assoviava para mim, quando eu era muito pequena. Me lembro que ficava impressionada com a letra, embora ele também assobiasse ...
 Bandas de rock, Milton Nascimento, Carlos Gonzaga, Elvis Presley muitos outros vídeos encontrei com boas interpretações, mas escolhi estas duas. Fica aqui em homenagem também a outros pais.
 Foi muito bom lembrar! A música,era linda quando ele cantava, eu ficava encantada com a letra dos  Cavaleiros do Céu e está uma beleza aqui com Willie Nelson e Jonny Cash:



Aqui uma versão em Portugues
cantada por Jayne, uma cantora que eu não conhecia, mas que interpreta muito bem a música
e a letra era a que eu ouvia ...


Aproveito para colocar aqui mais uma música
com Willie Nelson:

Always on my mind...

Gosto dele também cantando com Norah Jones e
outros,mas fica pra outra vez....

sábado, 6 de agosto de 2011

O inverno não traz só frio e silêncio..


 O inverno traz o frio e, às vezes, a morte. Alguma coisa morre enquanto outra está em gestação.
 Há também o que permanece. Ainda bem, porque a morte, aquela que determina o fim irremediável do que amo, me assusta. Não gosto de pensar na morte como aquilo que destrói o que, vivo, me encanta, embora saiba que preciso aprender a aceitar o fim do que eu quisera fosse eterno. Muito do que amamos jaz eternamente nas marcas do coração, e na pele.
  Se não possuo o dom e a magia de eternizar o que amo a não ser em meu coração, então pelo menos posso preferir esperar que alguns de meus amores, apenas se transformem, e um outro tanto esteja apenas em gestação. Assim, após o inverno, o silêncio de morte será substituído por palavras e sons transformados e vivos, e a mim mesma trarão transformação.
   O inverno não traz só o frio e o silêncio. Se souber olhar, descobrirei a vida que só ele traz em si. Por isto ainda não desisto e vivo, com todas as minhas forças, inverno após inverno.


 As sementes, se jogadas ao solo no tempo certo, quando tudo estiver seco e queimado pelo inverno, quando tudo parecer silencioso demais, quando eu estiver a ponto de me render ao que parece morte, então elas me surpreenderão com cores e vida!
  E eu esquecerei até se fui eu mesma que as plantei e agradecerei por virem me encantar. Porque ainda preciso de encantamento. Tudo porque temo a morte.

Fotos e texto: Vera Alvarenga

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Um mundo todo iluminado...

 Como em Paris...
   Ela já se perguntara muitas vezes por que motivo, apesar de todo o amor, tudo tinha acabado desta maneira.  Não sem luta, nem de repente, mas de uma maneira insidiosa, triste e sem jeito de se evitar.
Não encontrava resposta. Talvez porque o amor tinha sido sustentado por alguma coisa que era mais finito e passageiro do que o tempo deles. Talvez porque o amor deles tivesse beleza mas não possuísse a alma dos dois. Ela não tentava mais saber nem de si mesma. Aquele, era um daqueles dias em que o mundo parecia ter parado e ela, nem se importava. Não era mais possível recomeçar, apenas seguir em frente.
Então, o seu amor veio. Sem lhe pedir licença, andou pela casa dela a procurar e quebrar espelhos, quando os encontrava. E quebrou todos, menos um.
Já estava começando a escurecer. Ela devia estar sonhando acordada...só podia ser.  Foi acender as luzes. Ele a deteve. Levou-a de fronte ao único espelho que deixara restar na casa. Ela não queria olhar. Já sabia que se tornara uma estranha e que o amor não podia mais existir - faltava-lhe sua juventude, o que o sustentara até então. Por isto, virou o rosto.
Com mãos firmes, ele a sacudiu um pouco pelos ombros, como para acordá-la de um pesadelo. Quem era este homem? Então, ela olhou primeiro para o rosto dele e viu que ele a olhava.
O último clarão do sol entrou pela janela, refletiu no espelho. Era a mesma luz dourada que clareia intensamente tudo, antes que o sol se vá e deixe a sombra anunciar de vez, a noite. A luz refletiu em seus olhos e impediu-a de enxergar. Finalmente ela viu. No olhar dele viu tanto amor e cuidado, que o medo se desfez.
Devagar, foi descendo o olhar até encontrar-se com um rosto mais abaixo do dele... era o seu. Não conseguiu encarar o próprio olhar. Como é difícil olhar para si mesma quando se sente que o tempo nos escapou! Desviou o rosto, quis afastar-se dali. E ele a sacudiu levemente, de novo.
Surpresa pela insistência dele, olhou-se. Seus olhos encontraram-se com os daquela outra, que era ela. Que pena, pensou, o que posso oferecer agora? A juventude pela qual eu fui amada, se foi para sempre!
Ele, que nunca antes tinha amado aquela mulher, aproximou seu corpo ao dela. Virou-a de encontro a si e a abraçou. Por que ela não confiava nele? Ela encostou o rosto em seu peito, ouviu seu coração, sentiu seu calor. Fechou os olhos. Só pode ser sonho, pensou.
Quando abriu os olhos, já tinham sido apenas um, respirado o mesmo ar, experimentado  o mesmo sabor de vida e de amor. 
Sorriu para ele. Sim, ele estava lá. E ainda queria estar ao lado dela. O amor assim, como fora experimentado, sem espelhos, com cuidado, trazia em si a alma dos dois. No início, entregaram-se como se só aquele momento houvesse. Mais tarde, deixaram-se levar pelo desejo de descobrir, reconhecer os limites, percorrer a pele um do outro como se só assim fosse possível se misturarem e depois, ainda se adorar... e foi na brandura de um crescente carinho que, desta vez se fez o amor entre eles, sem pressa, porque queria ser eterno.
No escuro, corpos nus, como se a juventude nunca os tivesse deixado, e antes de perceberem que se amariam para sempre, foram até a janela. Ela lembrou-se de uma noite em Paris, um sonho que parecia distante...
Lá fora, nada mais podiam ver com detalhes, porque a noite havia chegado, mas juntos olhavam, e viam o mundo todo iluminado.


Texto: Vera Alvarenga
Fotos: retiradas do Google imagens.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

A Glicínia e seus limites...

   Seu olhar ficou azul ao se deparar com o azul dela.
   Foi amor à primeira vista. Assim que pode, levou-a para casa. Ela, já o amava também. Tirou-a do vaso e a plantou ao lado de outra árvore que lhe dava sombra. Ela queria florir e enfeitar sua vida.
   Ele a achou perfeita - disse a ela que era tudo que desejava desde menino,quando a viu em sonho. Ela,impressionada, decidiu que realizaria o sonho dele. Contudo, era demorado crescer e florir como ele gostaria, pois para isto havia exigências, precisava cuidados. Ele a amava, mas não queria estragá-la com mimos. E era homem ocupado. Assim, quando ela lhe perguntou porque não lhe dedicava mais tempo,não demonstrava estar feliz com sua floração, ele explicou : -"sei que me deu uma flores singelas neste ano, porém, tenho coisas importantes para fazer. Elogios não fazem ninguém crescer,acredite. Um dia terei tempo e ficarei à sua sombra admirando sua florada mais intensa." E se foi para seus afazeres. Os anos passaram, foi crescendo forte,vistosa, até que um dia, começou a sentir-se apertada em seus limites. Por alguma razão que desconhecia, foi construído ali ao seu lado um muro liso, de pedra, um pouco frio, o qual ela não podia abraçar com seus galhos que queriam florescer. Então, pensou que limites são para serem transpostos, e não seriam eles a impedir-lhe de seguir o exemplo de seu dono - " Mire-se em mim que não preciso de ninguém!"dizia ele. Ela precisava...precisava só dele. Não deixaria entretanto, que sua fragilidade a impedisse de ver a luz do sol. Em algumas ocasiões, porém, sentia-se desanimada, sem energia, com tal esforço. Entre o muro e a outra árvore que crescia frondosa ao seu lado, já não sabia quais eram os seus limites, o que era seu e o que não era, ainda mais que, nas vezes que seu amor vinha até ela lhe afirmava com convicção: -" Você não tem limites, de nada mais precisa". Que ela não tivesse necessidades, parecia ser o que ele pensava.
   Ela tinha seus brotos a cuidar e gastava muita energia com a própria existência e com a missão de amar os seus amores e florir. Era feliz assim. Seu único erro, foi o de nunca ter desistido - é preciso desistir, às vezes, quando não se pode fazer tudo. Ficava encantada quando ele vinha cansado e a abraçava para refazer sua própria energia de homem ocupado também com uma nobre missão. Deste abraço e do amor que sentiam, saía renovado. Ela, triste por não conseguir falar a lingua do homem a ponto de fazer-se ouvir, sentia-se algumas vezes, por um fio de desistir. Contudo, mantinha-se, talvez porque, um pouco vaidosa, acreditasse ser mesmo perfeita aos olhos dele. No fundo, sabia que não era...não se achava perfeita. Ele é que não conseguia compreender o que ela dizia. Para ela, o que era perfeito não era deste mundo, não precisava compaixão. Ela era compassiva e queria ser real.
Os anos foram passando e ela, que se habituara a sonhar, percebia que o sonho não tinha limites e por momentos a nutria. Só neles, tudo era perfeito. Contudo um dia, desesperada viu que algo estava se desfazendo nela. Misturada nos sonhos e nos galhos da outra árvore, e na ausência do reconhecimento dele pelo que era, ela própria já não sabia onde começava e até onde podia ir. Aliás, na verdade ela não queria ir, apenas ser, mas não sabia de fato o que era.Seus limites estavam confusos.
Um dia, conversou com um pássaro azul que ali pousara e percebeu que não podia mais aceitar a missão de ser perfeita. Tinha necessidades, medos, fraquezas que reconhecia agora ainda mais do que antes, pois estava envelhecendo. Apavorada percebeu que sua tristeza, antiga companheira, vinha das próprias fraquezas e que seus sonhos já não lhe bastavam mais.  Diante desta tristeza que tomava conta de seus galhos como praga da qual ela não conseguia livrar-se, ela que sempre fora sustentada por uma alegria que a motivava e a fazia olhar sempre para a luz, teve muito medo. E diante do escuro que não lhe permitia reconhecer seus próprios limites e portanto, sua verdadeira existência de ser incompleto e imperfeito, teve medo de nunca mais poder ser. Tal medo a assombrou de tal modo que um dia, a consciência da inexistência de seus limites e de seu SER, que só era inteiro em sonho, a assombrou tanto que ela percebeu que derretia. Derretia... e derretia, até que desapareceu. E, nunca mais pode florir para ele, como era o esperado.... 
  Sua alma ia levada pelos ventos...ela, que fora feita para fazer amor na sombra das flores, que fora feita para completar o sonho seu e de outro, era sem limites agora, e sendo assim, já não podia existir, nem tinha forças para voltar a ser. Sentia o vento levá-la para longe, para lugar nenhum... e nesta perigosa situação, só não morria deste pavor, porque percebeu em si, no seu corpo irreal, imaginário e ilimitado, que havia restado uma semente... talvez pudesse cair em solo fértil, e com todos os seus limites pudesse crescer, não imensa e vigorosa, mas feliz pela florada se um dia voltasse a produzir em sua existência imperfeita e, por isto mesmo, possuidora de certa beleza, mesmo que limitada. Sua alma, viciada na presunção de não reconhecer os limites  da materialidade, ainda tentava transcender a eles...mesmo sabendo que se quisesse ser uma Glicínia verdadeira, era preciso ter reconhecido estes limites e necessidades. Eram eles que a faziam ser o que era, ou o que tinha sido um dia. Seria preciso ter coragem para morrer um dia, mesmo sem ter sido capaz de sua mais bela florada.
 Aceitava agora toda a sua imperfeição, contudo... continuava a sonhar...
A Glicínia precisa de solo rico de onde possa retirar nutrientes, para florir.Não deve ser colocada ao lado de muro liso e frio, onde não possa haver oportunidade de abraçar....atrairá pássaros enquanto estiver florida e sentirá solidão quando não puder mais florir...
Texto: Vera Alvarenga
Fotos retiradas do Google imagens - a foto do Bonsai, do atelier do bonsai.com.br


     

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