terça-feira, 25 de outubro de 2011

Nova versão para a escolha amorosa de Páris..

 Na mitologia, o Julgamento de Páris representa o problema da escolha no amor, 1º grande desafio que a vida nos força a passar, e que representa nossos valores e o tipo de pessoa que queremos ser. Páris escolheu Afrodite seguindo mais seus instintos( de acordo com o livro que li),pois era jovem, e o apelo erótico e amoroso tinham grande peso, e não ponderou sobre a necessidade que teria dos dons que as outras escolhas lhe trariam.
  O mais importante nesta figura mitológica não é se ele cometeu um erro mas, que nos mostra que qualquer escolha que fazemos traz consequências para nosso "Destino". Pensando na escolha de Páris, cheguei à conclusão que, embora já não seja jovem como ele era da primeira vez, minha escolha continuaria a ser fundamentada no que mais acredito que necessito do outro e para mim como pessoa. Para brincar comigo mesma e com meus amigos, fiz uma nova versão de Páris, agora com idade madura..rs...tendo de fazer uma nova escolha entre 3 Deusas. Então é assim...
 - " No tempo em que deuses habitavam o monte Olimpo e os homens ainda apaixonavam-se por deusas, Páris, homem já maduro, foi chamado para escolher uma delas, desta vez já tendo conhecimento, por experiência, que as outras duas tentariam se vingar ( se ele se encontrasse desprevenido! ..rs...).
 A 1ª , numa grande bandeja de ouro, cravada de pedras valiosas, trouxe-lhe e lhe ofertou o Poder e a Influência no Mundo, ainda lhe prometendo deixá-lo ir e vir para usufruir disto, como bem quisesse. Páris encheu-se de júbilo ao imaginar com que prazer tiraria proveito desta oferenda.
A 2ª, numa bandeja igualmente grande de prata, forrada com valiosissimo brocado trazia um livro com inscrições de ouro. Ofertou-lhe o Conhecimento sem limites e garantiu-lhe que ela estaria à altura de sua Inteligência, podendo aconselhar-lhe para conseguir a realização de seus anseios políticos e de justiça, incluindo saber as respostas a todas as suas dúvidas existenciais. Agradou-o enormemente ao intelecto, tal proposta, o que lhe preocupou porque sentiu que seria difícil escolher e ficou apreensivo quanto ao dom da 3ª. Esta porém, o decepcionou de certa forma.
 Trazia uma pequena bandeja com uma taça dourada,onde apenas um diamante brilhava. Contudo, embora não fosse a mais exuberante e, para contrariar a história, nem a mais bela das três, vinha,mesmo assim, com um semblante calmo.
 Páris notou surpreso leve tremor em suas mãos, mas em seu olhar viu orgulho quando ela o dirigia a sua oferenda.
- Não lhe ofereço Poder, nem total Liberdade, pois ainda não os conquistei totalmente. Quanto ao Conhecimento, temo que terei de aprender muito contigo. Porém, não sou modesta! Prometo amar-te como se fosse o meu deus, embora saiba que não é, e oferecer-te a Felicidade numa taça a cada dia, nunca deixando de retribuir cada gesto teu que me surpreenda ou agrade, porque terei enorme prazer em amar-te. Te darei meu colo e irei aconchegar-me no teu. Através do ato de poder te amar, serei feliz e fiel ao próprio Amor, de quem sou cativa e sem o que, nada sou. Eu te farei feliz porque jamais rirei de teus sonhos e serei companheira em teus voos, com a única condição de participares comigo de um ritual uma vez por ano. Nele, nos olharemos nos olhos e, do que virmos dependerá o quanto poderei continuar a te fazer feliz.
Dizendo isto, afastou-se emocionada.
  Páris estranhou o fato da deusa, exatamente a que falava de amor, trazer velada em sua oferta certas condições. Desconfiou de sua idade, que não aparentava a beleza eterna das outras deusas. Virou-se e ao pé do ouvido de seu conselheiro Saturno, o também chamado Tempo, perguntou:
- Não achas estranho? Não te soa meio falso falar de amor e desafiar-me a merecê-lo?
- Tem razão, Páris. Quero alertá-lo de que, neste ritual a cada ano, notarás que ela estará envelhecendo um pouquinho e talvez também precise de ti.Contudo, posso garantir que não se trata de falsidade, mas de certa "condição" desta deusa.
- Conta-me, sem demora, então! Que segredo esconde esta deusa?
- Seu segredo e seu pecado foi uma vez ter deixado de amar, e então, renunciou a sua condição divina e tornou-se, para sempre, quase totalmente humana, com exceção dos momentos em que puder estar amando.

Foto e Crônica : Vera Alvarenga.


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Nem paraíso,nem inferno...

 - Hei! Você me deu choque!
 - Desculpe.Preciso fazer escultura, andar com pé no chão, descarregar energia. Estou como aquele pato, cabeça nas nuvens.Não comente com ninguém, tá?
- Amiga, ele está com a cabeça...
- Pois é, nem o reflexo das nuvens é real, tá vendo? Bem assim que me sinto.
- Huummm...Ontem li algo engraçado sobre estar apaixonada. Serviria pra você. Este mal que fica entre o peito e o coração, que parece o ar que a gente inspirou e fica lá, sem achar o caminho, desconcertado, fora de ritmo...disseram que, se ninguém mexer, não tendo futuro, um dia passa. Então, não se preocupe.
- É. Este "mal" que sinto, me traz leveza e desconforto, pediria realização se não tivesse medo que acabasse como tudo que se realiza.
- Realização... pode não ocorrer como se imaginou.
- Eu sei, mas isto é sentimento, pede expressão. Precisa de um container para tanto conteúdo - gostar, desejar tocar, querer existir, compaixão, ternura. Compaixão, li outro dia, é amor, sabia?
- Bem, tire proveito então, e sonhe. Sonhar não é pecado, é possível, você sempre dizia isto.
- Você tá brincando, né? Isto era no seu tempo, desculpe. Hoje uma mulher não fica sonhando por algo que não passa de um reflexo, quando nem sabe se contem algo real.Se você soubesse as coisas tolas que imagino.E é bem porque não tem limites pra se voar, que frustra e estou nesta enrascada. A gente se pega sorrindo. Sabe como é? Já te contei. Sem pé nem cabeça. É como ver revista de culinária, com a foto de um Petit Gateau derretendo e quando a gente começa a antever o prazer, aí acorda e percebe  que estamos aqui nesta pista, caminhando para queimar calorias. Ninguém merece!
- Você é engraçada. Ainda bem que é jovem e pode rir de si mesma.
- Se não estou no inferno, também não é nenhum paraíso. Nem de um lado, nem de outro.O que sinto é..é..
- Consumissão. Nossa, fui lembrar desta palavra! Desassossego, é melhor. É isto que sente?
- Sabe? Em alguns casos, concordo com você, é melhor a realidade nua e crua. Afinal, precisaria realidade pra gente poder sentar no colo...
-Você anda imaginando isto, é??  hehehe...
- Te falei! Preciso algo que contenha tudo isto. Você já se sentiu assim, não è? É sério, o que faço?
- Não. Nunca me senti assim, eu acho. Quando me apaixonei, ele já estava muito apaixonado, tudo se realizava muito no concreto. Eu não acreditava em amor à primeira vista, demorei mais pra gostar, mas depois, virou uma longa história.
- Você é  toda certinha...
- Nem tenho mais idade para ser diferente,não é? Não saberia como lidar com uma paixão não correspondida.
- Você diz isto porque tem alguém que sempre foi muito concreto a lhe esperar, alguém que possui todas as certezas. Tem sorte,então.
- Acho que sim. No seu lugar,tomaria um banho frio, ou me afogaria..ahahah..Não leve a mal. Estou só brincando, desculpe. Mas tenho saudades da intensidade de tudo o que ocorre quando a paixão vai se concretizando, se transformando em amor possível, real... Durou tantos anos. Paixão e amor podem se combinar, podia durar, mas não sem investimento,claro.
-Ahah! Então você é contida? Tem seus segredos.Tá, não leve a mal, também tô só brincando. Ainda bem que tenho você com quem conversar.Faz bem poder brincar. Pelo menos a gente pode rir de mim, juntas. Isto refresca.
- Falar nisto, vamos tomar um suco?
- Quem sabe um enorme e gelado Milkshake?
- Você não tem jeito.

Fotos e Crônica: Vera Alvarenga
vídeo e música do youtube.

domingo, 23 de outubro de 2011

Apaixonar-se? outra vez?

Estava lendo um texto sobre o apaixonar-se que fala de um modo divertido sobre as agruras por que passam os apaixonados.
Então me lembrei que já me apaixonei poucas vezes, na maioria, reapaixonei-me".
Pensava assim: Se conhecesse outro homem e me apaixonasse,  desejaria dar ao relacionamento todas as chances, teria paciência, valorizaria nele só as coisas que me agradassem, não é?. Então pensava, se a vida é um jogo, é preciso aprender a jogar com as cartas que ela nos dá. Alguém me dissera que a vida era um jogo. Não queria jogar para blefar, nem guardar cartas na manga. Pensava em "jogo da vida" para entendê-la como algo positivo que nos desafiava, que trazia surpresas, tinha regras, mas podia dar prazer a dois parceiros que jogassem com honestidade,pelo prazer de estarem juntos para se divertir, apesar de tudo. Eram, na verdade, dois parceiros a jogar unidos, o jogo que a vida lhes apresentasse! Não deveria ser um contra o outro. Deste modo, quando a rotina nos distanciava eu tentava embaralhar as cartas, trocar dados viciados, usar a criatividade.Olhava para aquele que estava comigo há anos e me perguntava o que eu gostava mais nele, o que nele me atrairia, e o que eu podia fazer para virar o jogo a nosso favor. Assim, nos seduzíamos, e não era difícil para mim, sentir-me novamente apaixonada, porque era bom, a não ser pelo fato de que demonstrava minha insegurança - tudo ficava tão bom que eu temia que acabasse. Portanto, outrora, nunca me arrependi deste sentimento. Talvez muitos casais façam o mesmo. De vez em quando tudo se repetia como num disco quebrado. Eu devia estar fazendo algo errado, embora resultasse certo. Pois apesar de a cada vez colhermos recompensas, parecia que era eu que devia proporcionar as condições para que tudo ficasse azul e em paz, como é o céu dos apaixonados.
Com o tempo, surpreendentemente, me reapaixonar ficou mais difícil, embora antes não fosse sacrifício nenhum, porque gostava de estar apaixonada, pelo mesmo homem. 
Estar apaixonada era desarmar-se, entregar-se, uma coisa pra lá de boa! E era fazer sexo, com frescor e juventude algumas vezes por semana. Bom demais, para ambos!
Contudo, falar em apaixonar-se já numa idade em que a gente está um pouco cansada de só receber quando agrada,  e começa a querer receber mais, numa idade em que a gente
se olha no espelho e não vê mais uma mulher cuja aparência seja coerente com o que ainda sente, numa idade em que o espírito ainda é mais alegre do que o rosto consegue demonstrar, apaixonar-se, entregar-se a este sentimento que nos lança no escuro já que estamos meio "cegos" como dizem alguns, apaixonar-se com romantismo, sem a imediata retribuição, pode nos fazer fugir ou tremer na base. É uma faca de dois gumes que mais se pareceria com uma ferradura, com as duas pontas voltadas para o ser apaixonado. Nesta idade, apaixonar-se é sofrer é arriscar-se demais, por isto muitos ficam anestesiados. 
E é bem nesta idade que a sociedade mais nos cobra que tenhamos maturidade para sabermos que nesta vida, "não há certezas"! Bobagem! A sabedoria da maturidade não nos garante maior segurança, pois o sentimento de apaixonar-se é o mesmo de quando estávamos mais jovens, mas o corpo então, podia fazer movimentos livres, soltos e mais sedutores, e não tínhamos medo! O nosso espírito quer, mas o corpo não é o mesmo. Ah, dirão alguns, mas no amor...
Sim, respondo eu, no AMOR, o corpo não importaria tanto! 
Mas e quando é preciso apaixonar-se ou reapaixonar-se primeiro? Afinal ele, eu, estaremos envelhecendo e sabemos, é preciso outro tipo de sedução, confiança. Penso que o desejo é movido pela alegria de estar junto, não mais por um corpo escultural ou sedutor.
Pois é, na maturidade é preciso coragem e decisão! Decidir não desperdiçar a vida, decidir assumir comprometimento, decidir resgatar ou valorizar a amizade e o carinho que começarão a ter uma importância infinitamente maior. Alguns homens se afastam, outros ficam amargos ou se fecham devido a insegurança que sentem quanto às mudanças no funcionamento de seu próprio corpo. Embora tudo pareça culpa da mulher, e se faça até piadas a este respeito, o que acho de extremo mau gosto, na maior parte das vezes, é ela que precisa sublimar desejos. Sei que alguns homens, sem precisarem se iludir,  mantem um relacionamento de amor e sexual satisfatório mesmo após os 65 anos de idade, mas certamente são os que tem um relacionamento no qual AMBOS ainda sentem a alegria de desejar proporcionar ao outro e a si, momentos de brincadeira e isto só pode refletir o prazer que sintam em viver juntos - e assim, comemoram a vida. Muitas vezes, mesmo quando o ato sexual não seja mais possível para o homem, como antes, se houver alegria no coração de AMBOS, corpo e  mente encontrarão uma maneira criativa de enfrentar mais este desafio.Então estarão juntos com uma qualidade de vida que transparecerá no brilho do olhar, apesar de envelhecerem juntos. 
Se apaixonar-se é loucura, na idade madura é ainda pior! não é fácil. Nem para um homem, nem para uma mulher, a menos que este apaixonar-se leve junto a alegria, e à descoberta do amor, carinho e grande amizade, pois é disto que precisamos ainda mais do que da paixão, após os sessenta e poucos. Embora apaixonar-se após os sessenta nos encha de uma vida que pensávamos não ter mais, e quando correspondido possa levar ao amor, é um sentimento que dá medo, eu acho, porque pensamos que não temos mais tempo de não ser correspondidos, não queremos mais ser manipulados justamente quando estamos talvez mais prontos e maduros para o amor, que voltará a ser leve, à sua própria maneira. 
O texto do qual falei no início termina dizendo que a loucura da paixão passa e ..."a alma que parecia apartada de tudo retornará dando vida ao corpo e então, você poderá compreender tudo isso e esperar que um amor de verdade chegue".
Pois eu não sei do que se trata esta ausência de minha alma, que há tempo demais está não sei onde! Se é medo ou o que. Queria minha alma de volta pra mim, para viver uma realidade que eu pudesse tocar, carinhar, reconhecer e por ela ser reconhecida, com a equivalente medida de carinho que dou. Compreendo muito bem agora, quem deseje fugir disto( como comenta a Sissy). rs....
Apaixonar-se é mesmo loucura, não é tão bom assim.rs... Amar sim, pois amar é atitude responsável e individual, mas o que resulta do verbo, o amor, é algo construído a dois, lenta e cuidadosamente. Amar é ser chamado porque o outro quer nossa companhia para as coisas boas também, porque o outro nos quer em sua vida e sente que nos ter é um tipo de presente, é retribuir este sentir naturalmente, é velar o sono do outro porque ele é jóia rara e delicada. Penso que é assim que se cuida de quem se ama. Quero voltar a sentir, calma e seguramente de novo, com todas as rotinas deliciosas e bem vindas, um apaixonamento que se descubra amor! Na minha vida, me reapaixonei tantas vezes. Onde estará minha alma agora? Minha alma amorosa e crente era o melhor de mim e sinto falta dela!
Por que agora é mais difícil? Por que agora somos mais condescendentes com tantas coisas e mais exigentes com poucas outras? rs... Por que deixamos nos escapar pelos dedos, como areia, o prazer de viver que ainda podemos sentir? Vejo o tempo e a areia escorrerem na ampulheta num ritmo diferente do meu, que desejo e sigo com mais calma, do que a pressa que ele teima em mostrar. Quero agarrar minha chance, mas tenho medo. Com a idade, enxergamos menos, mas sentimos mais?
Como avisar ao espírito que só ele não tem idade e que só para ele tudo é possível? Como acalmá-lo e dizer-lhe que tudo está bem, apesar das coisas que passamos a conhecer? Talvez por isto o "velho" volte a ser inocente, porque se desprende do que lhe era importante e muda seus valores,mas eu queria poder fazer isto por opção consciente,por ser feliz de fato, não apenas porque a vida é mesmo assim. Há velhos que apenas carregam a vida ou desistem e outros que flutuam em sua leveza!

Por isto o ser humano tem de sonhar. Se não puder sentir-se especial por qualquer motivo verdadeiro que alguém compartilhe consigo, ele acaba por inventar um, se não puder sentir-se  capaz de ainda viver um sonho, a vida a partir dos 60 seria como minha madrinha recomendava para minha mãe: 
" Vá pegar no terço e rezar!"..rs......

Texto: Vera Alvarenga
Fotos retiradas do Google
Texto citado da amiga Marcela no link:Paixão é navegar em barco de papel. 

domingo, 16 de outubro de 2011

Queria ser brisa para beijar-te...

    Hoje eu queria poder ser como o vento de primavera que leva consigo o perfume das flores, e passando por teu rosto, o faria levantar-se. Te distrairias, por curiosidade, do que te mantinha dentro do espaço cujos portões de ferro são pesados demais para minhas mãos abrirem e sairias para sentir o vento. E ele seria, em teu rosto, o meu beijo.
  Feliz e forte, como ventania, aos teus olhos incrédulos, varreria folhas secas e rugosas que o inverno teima em mostrar-te para te fazer sofrer. Num segundo me tornaria cálida e terna como brisa de verão para aquecer teu coração. Como brisa fresca, traria leve frescor para nossos corpos e libertaria nosso espírito.
   Eu me sentiria bela e te faria belo, e juntos, sem pressa dançaríamos a nossa dança. E eu iria envolver-te inteira, varrer do teu tempo e do meu, tudo o que fosse mau. E em nós e nossas lembranças traríamos todo amor que aprendemos e já pudemos sentir por alguém, o mesmo amor que já nos alimentou, ele que nos alimentaria ainda e  através de nós e de outros, alimentará o mundo, sempre e sempre.
   E antes que tivesses medo e te fechasses pra mim, ou que tua face se tornasse de novo séria e dura, ou triste, e que em sua fronte se fizessem as marcas de um olhar novamente descrente e distante, e que por isto minha alegria se dissolvesse, eu me afastaria de ti. Porque tenho medo de ficar novamente do lado de fora de qualquer fortaleza, porque sei que não sou perfeição nem solução, mas apenas amor que precisa se dar e receber, então, por este meu próprio medo e minha fraqueza, eu me afastaria, mesmo que longe de ti me sentisse morrer de um amor que não se fez por inteiro.
   E, no fundo do meu coração, prisioneira, esperaria que um dia tua mão viesse me buscar...
Texto: Vera Alvarenga
Fotos: retiradas do Google images-não estava citada a autoria.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Onde está ela?

   Me sinto doente. Disfarço para que não tenha de explicar o que sinto e porque. Talvez eu esteja como que suspensa no intervalo antes da cena final e perceba que esqueci as falas! Não sei se o que viria a seguir era o momento da virada onde a vida sairia vitoriosa, ou se tudo acaba com a morte.
  Sei que perdi parte de mim, talvez para sempre. A que foi, perdeu-se na estrada,não foi encontrada nem encontrou por si, o caminho de volta. Foi pura e ingenuamente de encontro ao desconhecido como sacrifício feito pela virgem que acreditava que seu gesto de amor salvaria os iguais a ela. Timidamente, levou consigo a alegria que também me animava. Mesmo ingenuamente, ela roubou-me algo de valor.
   Eu fiquei. Sinto sua falta. Esperei a cada dia que ela, encontrando enfim seu destino, viesse me buscar. Eu fiquei vazia dos sentimentos que ela levou consigo e,  fiel a ela, fui me distanciando mais e mais do que me cerca. Eu, que costumava estar inteira em cada lugar, estou em todos os lugares e já não estou mais em lugar algum. Porque eu fiquei, mesmo estando com ela. Por vezes me sinto oca, como se ela houvesse levado o que me pertence. E sem ele, o ser que sou já não é nada. Ausenta-se para fingir que é. A cada noite, embora sabendo que ela perdeu-se, chamo-a de volta. A cada manhã acordo pensando que ela voltou, só para perceber ao longo do dia, que ainda não estou plena.
  Então, na frente do espelho, jogo água em meu rosto para acordar-me, e com o toque frio e real me faço o mais consciente que possa de mim mesma, e do mundo que me cerca.
  - Deixa de ser egocêntrica! Olha para o lado, vê como antes, que outros sofrem mais que tu! mas cuidado, não te faças tão consciente que acabes por dirigir o olhar para si mesma, pois que então verás que tua tristeza é porque não tens mais teu coração...
Texto: Vera Alvarenga
foto: retirada do google images.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Dia das crianças...

Amanhã é dia das Crianças. Estava lembrando de quando era uma delas. Tinha 2 irmãos mais velhos que podiam brincar na rua, eu não, pois era menina e morávamos em São Paulo! Meu pai trabalhava no Hospital das Clínicas, um dos responsáveis pelo Setor de Custos daquela imensidão. Pessoa simples, carinhosa, humanitária, ensinou-me que um sorriso sincero era algo bom a oferecer ao cumprimentar as pessoas, naquele ambiente onde elas estavam preocupadas ou com dor. Sua ambição parecia se resumir ao viver em paz e tranqüilidade, poder escrever suas poesias e pescar, de vez em quando. Além disto, às vezes pegava o carro e no domingo dizia: - Vamos até o alto da serra, comer pão de semolina com mortadela...e lá íamos nós. Adorava o miolo daquela enorme fatia de pão - era uma delícia.
Minha mãe, também trabalhava fora e embora não muito afeita a carinhos físicos, era humanitária, ajudava pessoas que chegavam para atendimento no INPS,vindas de outras cidades, sem dinheiro para um lanche, às vezes. Animada, ambiciosa embora não em exagero, social, agitada, não esquecia de presentear aniversariantes, dizendo que uma data especial não podia passar em branco. Ensinou-me, com seu exemplo, sobre a disciplina, a força de vontade e persistência. Dizia que a ambição é necessária para um futuro mais seguro e que a vaidade era fundamental...neste último quesito eu fui uma péssima aluna, mas aprendi por observá-la, a importância nos apresentarmos bem socialmente ou no trabalho. Ambos tinham “caráter”,princípios dignos e eram honestos. Tive sorte em ter pais como eles.
  Fui feliz na infância. Nenhum grande trauma, nenhum drama. O que me faltou? Hummm... bicicleta, piano, oportunidade de estudar ballet. Dizem que eu dançava bem, desde pequenina. Tais faltas materiais fizeram parte do aprender a lidar com frustrações, mas, na verdade, não me lembro de frustrar-me por muito tempo, inventava outra coisa pra fazer, como tocar violão, e com ele, compunha minhas músicas. Sentia-me um pouco só, mas com isto me habituei a ficar bem comigo mesma. Quando tinha quase 8 anos nasceu minha irmã, para mim uma boneca viva, e eu adorava ajudar a empregada a tomar conta dela na ausência de minha mãe durante o tempo que ficava no trabalho. O fato de viver numa casa com quintal onde  permanecia horas sozinha, fez com que eu desenvolvesse  a capacidade de imaginar e criar, e também a de concentrar-me e entrar fundo no que estava fazendo.
Amadureci cedo, aos 10 anos sabia fazer bolo, cuidar de afazeres na casa e fiquei “mocinha”. A criança (contando com o periodo da adolescência inclusive) que ainda vive em mim, é crédula, ingênua, tranquila, feliz, criativa, “excessivamente” comportada, confiante em si em termos..rs.. e romântica. Foi no colégio das freiras quando criança, que recebi minhas primeiras asas de anjo... Hoje não sou mais anjo, mas guardo as asas e vôo com elas, sempre que posso por alguns minutos, para lugares onde recarrego baterias...rs..
  Tudo foram flores?? Não. Honestamente, gostaria que meu pai não tivesse se separado de minha mãe, que tivessem sido felizes juntos até o fim, sentimos muito a falta dele e ele a nossa. E, sobre minha mãe, gostaria que tivesse sido mais incentivadora, que fosse menos crítica e mais carinhosa. Contudo, apesar do amor que sinto por meus filhos, sei que não terei preenchido todas as suas expectativas. Somos todos humanos, temos falhas e necessidades. Penso que as pessoas de minha geração desejam que suas crianças brinquem mais e vivam por maior tempo a sua infância. Acho bom. Contudo,o que penso fazer falta realmente, é um olhar atento e carinhoso para o que a criança é e sente...hoje  me assusta um pouco o excesso de estímulos, brincadeiras e brinquedos, pois noto que isto não lhes permite desenvolver a capacidade de criar a partir do pouco, ou a se concentrar pelo menos até o final de uma brincadeira. Então, o desafio hoje, acho que é o concentrar-se apesar do excesso e filtrar o que é bom, do muito que chega. A criança de hoje talvez tenha mais trabalho que nós...
A criança que existe em mim saúda a criança que existe em cada um de vocês. 

sábado, 8 de outubro de 2011

Vim apenas lhe abraçar...

 Ela sabia que ele estava lá,em algum lugar,mas há algum tempo não recebia notícias. E naquele dia, quando ela já ia partir,com os ventos da primavera, as recebeu. Vieram nas asas do pássaro que entrou pela janela. Seu coração encheu-se de felicidade e o sorriso apoderou-se de todo o semblante.
  Mas o pássaro estava machucado, debateu-se  um pouco antes de sair em seu voo novamente silencioso e cansado. A saudade, que antes tinha sido sua companheira algoz e transformara-se há pouco em oposta alegria, logo vestiu-se com a palavra fria que não consegue descrever os sentimentos, como um abraço ou o olhar melhor fariam. E, como estátua, agora congelara e continha dentro de si, o impulso da vida, pois diante do oposto que lhe foi revelado,era o que lhe cabia. Nada podia fazer para evitar que ele sofresse. Não tinha o poder de protegê-lo, nem ele viera para ser protegido. Encontravam-se como sempre, por algum motivo que não ficava claro, além do querer bem, apesar de tudo e da distância. Quantas lágrimas ele tinha chorado outra vez e ela não pode enxugar? Era assim a vida.
 Mais uma vez, ela o abraçou ternamente. Isto, às vezes, bastava. Contudo, neste período das chuvas de primavera, gostaria de tomá-lo em seus braços, curá-lo de seu ferimento, ou quem sabe, ambos se curariam do que quer que ali houvesse que os machucava de maneiras distintas. Sim, ela também queria ser tomada nos braços, mas não por um momento. Apesar de saber do caráter efêmero de tudo, o que a curaria tinha de estar vestido da certeza do que é verdadeiro por estar ali para se realizar em gestos e olhar...como se fosse para sempre. Só o despojamento das vaidades e a disposição para viver o eterno, seriam capazes de curar os espíritos feridos pela morte, em suas diferentes roupagens. Era sonho. Talvez se encontrassem apenas para darem-se este abraço dos que sabem que não serão julgados.
Antes de sair, ele pediu-lhe um sorriso para lembrar-lhe de que a vida continua... e ela, ao fazê-lo pensou em como isto era difícil quando aquele que amava inconsistentemente do modo como era possível, sofria. Assim, ela aprendeu na carne, porque alguns amam e apesar de tudo, não conseguem proteger o outro. Era um desafio mais uma vez sorrir de encantamento, quando o que parecia realidade era oposto ao que parecia sonho. Por isto ela sabia que era impossível para o ser humano deixar de sonhar. Por isto ela permitia que sonho e realidade se confundissem, por vezes...
Fotos e texto: Vera Alvarenga

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