segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O romântico, culpado de traição!

Entrou sozinha, sentou-se, pediu café com canela.
Tentou colocar-se à vontade, como se estivesse habituada a ir sozinha a cafés. Não estava. Olhou as mesas ao redor. Mulheres conversando aqui e ali, uma mãe com sua filha adolescente, um homem de cabelos grisalhos olhando no relógio e, em seguida levantando-se para cumprimentar a mulher um pouco mais jovem, que acabava de chegar sorrindo.
  Ao sentir o cheirinho e experimentar o sabor do líquido quente que lhe foi servido, sentiu-se estranha. Como se o prazer não pudesse ser experimentado num momento solitário. Como se tudo que desse prazer tivesse de ser compartilhado. Era assim para ela, por isto parecia estar traindo alguém.
  Sorriu. Quem sabe aqueles dois...olhando-se com aquele ar de cumplicidade, sorvendo tão rapidamente o delicioso café como se tivessem urgência em sair dali. Algumas coisas a gente reconhece à longa distância, é como o aroma que se espalha no ar. E eles se levantaram. Ela baixou o olhar, evitando ser intrusa e também desejando voltar a si mesma. A gente se distrai muito com outras pessoas e pouco olha para si, pensou . Claro que seria muito melhor estar ali com companhia, como aqueles dois, mas sentia prazer assim mesmo.Solitário prazer que deveria ter seu tempo alongado. Então, pediu torta de chocolate.
   Não tinha dito a ninguém que ia tomar café ali, sozinha, nem poderia imaginar que isto lhe daria prazer. Mas dava! E não, não estava traindo ninguém. Aliás, o que seria a traição? Tanto se fala sobre traição. Traição, algo sempre imperdoável. Ela não podia estar traindo com algo tão simples, para o que sabia não ter companhia apesar de ser desejo antigo, apesar de ser apenas uma das coisas que não podia compartilhar. Então, havia prazeres que devia buscar por si! Isto de querer companhia era um "problema seu", uma vez que há muito tempo sabia que o companheiro nem sempre esperava sua companhia para satisfazer seus desejos. Ah, e o que é o desejo? Algo que cresce em nós mas podemos sempre sublimar, transformar sua energia em algo "produtivo"? Por vezes, o que precisamos, e com certeza queremos, é satisfazê-lo ou matá-lo. Então seremos culpados, cúmplices de um crime. Seja porque matamos o desejo ou porque vem de algo que tanto nos fazia falta que cresceu em nós e acabou por ser imperiosa necessidade para sobrevivermos. E de tudo seremos capazes, até tomar para nós o que nos vai nutrir! Seríamos, por isto, menos culpados? Ah, mas se assim fosse, os que roubam para matar a fome cometem crime mas não seriam condenados. Imaginou alguém, num palco, dizendo: - Cortem-lhes as mãos, tirem-lhes a liberdade, olho por olho...!
  Esta coisa de traição era mesmo um assunto complicado. Para ela, era mais sério do que fazer sexo, ou mesmo amor, com outra pessoa! Traição era desprezar o amor que você tanto quis para si e substituir o acordo mútuo por uma atitude falsa e descomprometida.
   Sorriu mais uma vez, reconhecendo que seus pensamentos vinham-lhe de modo teatral, de certa forma. A vida em si, parecia um teatro de fantasias mesmo para ela que gostava da verdade. A vida estava no centro do palco, não porque fosse falsa, mas porque era vibrante e dramática. Quem seria o inocente? e o maior culpado naquele ato, qual seria? Certamente é aquele que, de olhos fechados,  com nada se contenta. Não dá valor ao que tem ou ao que veio a suas mãos porque  tomou pra si e conquistou, e transforma esta conquista no motivo de seu desinteresse, na certeza de que o poder sobre o conquistado é eterno. O que tem fome, vai buscar alimento por instinto de sobrevivência ou definhará. Mesmo o insaciável vai buscar o prazer em outro lugar, porque ainda tem fome!
   Contudo, o egoísta, este é o pior. Ainda que apenas suspire pelo que está distante não despreza totalmente o que possui, ao contrário, o desvaloriza e o enfraquece mas apega-se porque lhe dá prazer e o mantém junto a si com promessas que sabe serem uma ilusão, porque teme comprometer-se, dar igualmente de si. Irresponsável traidor de si mesmo, extrativista em busca de mais e mais para viver é como o homem que suga da terra tudo que ela lhe pode dar, sem notar que fertilidade é um processo de relacionamento e que demanda cuidado. Não há solo fértil que se mantenha assim, sem uma relação de respeito.
   Não era, no entanto, nos traidores cínicos que ela pensava. Era nos inocentes, nos que nunca antes pensaram trair.
   Os românticos que se entregam totalmente. E fiéis, e confiantes, seguem a lutar por uma bandeira, até o dia que percebem que, por quase todo o tempo, estiveram mais sós que acompanhados? Ah, estes apenas fantasiam, imaginam um amor para si com tanta ternura que todos ririam, se soubessem o que sua sensibilidade esconde. São ingênuos, estão perdoados! Não sabem que querem o impossível? diriam todos. Pobres coitados, não sobrevivem sem amor, como os artistas não vivem sem o belo. Contudo, atentos, os competitivos diriam: - Prendam-nos! eles são os piores, porque traem com alguém que jamais poderia ser vencido!
  O objeto de seu amor, pensarão, seria tão idealizado e perfeito, que ser humano algum poderia competir com ele. É como aquele cheirinho do café que a gente sentiu na nossa infância, ou daquele bolo que só a mãe ou a avó faziam...nunca mais alguém conseguirá vencer este desafio com o que se iguale a tão apetitosa lembrança e desejo. Seria por isto que os românticos e ingênuos são os piores?
  Não, não por isto. Eles apenas acreditam na partilha. Na verdade, são os piores sim, porque sem que muitos saibam,  eles se apaixonam por algo tão real, e muito simples, e fundamental - pelo amor. Simplesmente pelo amor que contém amizade e respeito, e quem puder lhes oferecer isto, realmente  terá toda a sua atenção. Eles sabem que serão saciados se encontrarem o amor. Porque já o provaram, já provaram de seu próprio amor. Não conseguem fazer de conta que nada sentem. Eles só desejam poder amar de novo.Conhecem o amor, porque foram capazes de amar, talvez durante muito tempo, uma vez. De fato, eles não trairiam jamais! O que ocorre é que, diante do que é amor, o que não é, finalmente a seus olhos livres da nebulosa ilusão, não sobreviveria.
   O sensível "trai" tudo o que não é mais amor, ou o que nunca foi.
   O que mais se sensibiliza com as sombras e demora a conformar-se com viver nelas, é o que já conhece a luz.
 Então, ao contrário do que parece, os sensíveis não desejam nem sonham com o que o companheiro jamais poderia ser para reconquistá-los novamente. Não desejam o impossível. Não como aqueles que fingem não sentir, não como os que se dizem traídos e que, se um dia são vencidos não é por um fantasma mas por sua incapacidade de compartilhar ou viver na luz. Porque na luz, descortina-se o simples no real, enquanto que no escuro, apenas o que é glamour consegue ser valorizado, e os sentimentos se escondem na penumbra. Os sensíveis desejam algo que está facilmente ao alcance, embora muitos não o percebam. Por isto sofrem. Os românticos, os sensíveis sofrem porque vêem a possibilidade na simplicidade, onde outros não conseguem ver. E, para não trair sofrem, mas acabam traindo de uma maneira ou outra. Porque traem a seu próprio ideal quando não encontram mais seu antigo objeto de amor, que se tornou inalcansável porque não quis descobrir-se do véu que o isola e o impede de compartilhar de si. O egoísta que não se mostra contente e exige cada vez mais, traiu primeiro a quem se uniu para compartilhar. E, ao trair, atrai para si, mais cedo ou mais tarde, o mesmo.
  Quando se fala em traição, não daqueles que traem porque é assim que entendem a vida, que traem em inúmeras pequenas e irresponsáveis atitudes, mas daqueles que gostariam de não fazê-lo, é porque no final das contas, seu desejo, saudade e carência tornaram-se imensos. E quando se fala em traição, na maior parte das vezes é porque já sofreram antes inúmeras pequenas traições, que passaram desapercebidas ou   não puderam encarar, porque o sol acabava encobrindo-lhes a visão. A traição que dói é aquela por amor, quando um não consegue mais evitar o desejo  de apaixonar-se outra vez, quando percebe que esteve vivendo parte do tempo no Ades, e quer sair à luz, banhar-se nela, mesmo que por isto fique momentâneamente cego.
   Podemos cegar-nos num ambiente triste, úmido e escuro, ou igualmente, com os raios de uma manhã de sol, ou com o pólen de dourado brilho das asas de um pássaro!
   O sensível adapta-se à sombra, mas prefere a luz.  Então acontece que, aquele que nunca desejou trair, trai, mesmo que por um segundo e em pensamento.  Apaixona-se pelo amor que conhece, pelo amor que sentiu e que o satisfará, porque já o experimentou. Trai ao outro porque apaixona-se pelo amor que o outro não pode lhe dar. Antes, já traiu a si mesmo, ainda que sem perceber, insistindo em amar mais ao outro do que a si próprio, apesar de tudo.
   O romântico e sensível num último olhar ao centro do palco percebe que mesmo aquele que o traiu por não cumprir sua promessa de partilha da benção do maná, também aquele foi vencido antes mesmo de se unir a alguém,  talvez porque nele, o desejo de amor estivesse desde o início, tão voltado para si mesmo que jamais poderia ser saciado.
Texto: Vera Alvarenga
Foto: retirada do Google -não está citado o autor da foto.

sábado, 26 de novembro de 2011

Se quer comprar, não desdenhe! Pense nisto!

Se não quer, nem precisa por defeito,diga que não quer,e pronto!Tá interessado? Reconheceu que pode ser bom negócio, vai te fazer feliz, lhe dará prazer? então valorize, faça a sua parte, tente fazer um acordo que também respeite quem lhe oferece algo, não desdenhe!
  Um exemplo de onde se aplica:
-  Vocês viajam a São Paulo, enfrentam 2 dias de stress, trânsito ruim,  procuram aptº pra alugar. Quando o aptº serve, condomínio ou o bairro é uma droga, e vice versa. Preço exorbitante. Você precisa CAIR NA REAL! Tá, caiu. Então, finalmente encontram. Bairro bom, aptº cabe tudo que você precisa quando se desvencilhar dos supérfluos, e condomínio perfeito!
Ah, mas você viu uma casinha em outro bairro não tão bom,porém do outro lado da rua tem umas árvores, tem até grade de segurança no portão! e tem um terraço onde poderá colocar algumas de suas plantas. Tá no teu preço, você fez uma proposta pedindo menos de 5% de desconto.Ela te serve. Vai ter que colocar grades de segurança nas janelas dos quartos, mas tudo bem.
Sua mulher não quer morar em casa, tem medo, não quer mais trabalho com quintal, mas tudo bem também.        
   Contudo,como o destino gosta de brincar com você, vão ver aquele aptº que ELA queria ver desde o dia anterior. Ela tem uma droga de intuição muito esquisita em relação à casas para vocês moraram. Uma vez, quando entraram num escritório de uma casa começou a sentir-se mal, ficou angustiada, faltava-lhe o ar, e, quando viu, estava saindo quase correndo da casa, foi respirar lá fora na calçada, sem graça, lágrimas caindo sem que ela soubesse porque...e o corretor então lhes contou que naquele quarto, alguém da família suicidou-se. Vocês encontraram algo muito melhor depois, com outro corretor. Uau! Mas isto era só quando ela era jovem e mesmo assim, raramente acontecia de ter intuições deste tipo. Era sensivel, só isto. Agora, está velha, é diferente- era uma fada, agora é bruxa...kkkk.......e fica de mau humor, de vez em quando..bem que você tem saudades de quando ela era uma fada flexível e sorridente.
O fato é que vocês dois gostam muito do aptº, de tudo! É mais barato que todos os imóveis que viu, e com mais estrutura - até você reconhece! Aliás, este tem um bosque com pássaros, tantos, que te encantou! Você abre as janelas e as árvores parecem estar no teu quintal, só que, sua mulher não precisa cuidar delas, tem um jardineiro no condomínio, e segurança, vocês podem chegar dirigindo à noite e entrar ali sem medo de abrir o portão! São Paulo é perigoso. Beleza! Você está no céu, embora no 1º andar!! Aliás, por isto mesmo é que está barato, pensam que, 1º andar é um defeito. Pra vocês não é! é uma promessa de paraíso...então, melhor desdenhar, não dar na vista e ah! tem um defeito:
- A porcaria da garagem - são duas vagas juntas e só uma será sua! Ah ha! Taí o problema, não é perfeito!!
Tá bom, o proprietário quer uma ou 2 coisas que você não quer dar, você não dá, e você faz a proposta ainda pedindo 16% de desconto! NA CASA VOCÊ PEDIU 4,5 % de desconto. Você quer o preço da casa, ora bolas! Tua mulher percebe e lhe diz que o aptº é bom, ela não quer perder, está em outras imobiliárias, cuidado! o aptº tem tudo que querem e mais a segurança e jardineiro e o bairro, perto de tudo! Dá pra andar à pé na rua até a padaria, agradável. Mas, quem precisa sair pra caminhar, você nem gosta disto. A casa tá perfeita pra você. Ela sente que pode perder o aptº ! Como ela é insistente quando tem certeza de querer alguma coisa! Diz que quer ver pessoas,não quer ficar trancada em casa. Ela lhe pede:
- Por favor, cai na real, só mais 100,00 nesta proposta! Se não, não é acordo!
Não, você não gosta de se flexibilizar...é fraqueza, melhor criticar e desdenhar. Se o cara quiser, tem que chegar no teu preço! É assim que se faz acordos ( será?) Não levando o outro em consideração?
Ela diz: - Se a gente quer, pega, valoriza, se flexibiliza!
  Resumo da ópera: Logo mais receberam a notícia que o proprietário recebeu outra proposta um pouquinho antes... e que está na frente, talvez tenha mais condições que o proprietário deseja.
  Agora, só milagre!   Sua mulher crê em milagres, é daquelas que acredita que um anjo virá trazer-lhe um presente, que alguma fadinha virá com os pirilampos, iluminar seu caminho...rs.... Bom, tudo bem! Triste, a tua mulher pensa que não era pra ela..vai aparecer algo melhor que Deus está reservando ( desde que ela vá atrás, ela sabe disto!). Isto logo passa e ela vai ficar bem.
  Mas você tá tranquilo porque gostou mesmo da casa e só precisou pedir menos de 5% de desconto! mas ninguém te ligou ainda sobre a casa...será que perdeu esta também? E sua mulher, será que vai aceitar todas as suas condições? Bom, agora ela tá mais dura. Será que você não percebe que não é o aptº que importa mais aqui, mas o tipo de acordo que vocês deveriam estar sendo capazes de fazer?
  SERÁ QUE É POR ISTO QUE, OS FLEXÍVEIS DEMAIS SE TORNAM MAIS DUROS, com o passar dos anos, E OS INFLEXÍVEIS ACABAM POR SE DOBRAR? Alguns só o fazem quando vem o reumatismo, ou pelos golpes da vida? Bem, há os que não se flexibilizam nunca e pegam da vida, só o que está dentro dos limites que se impuseram ( e aos outros!)
   Acho que esta frase vale para muitas coisas : Não acredito nesta história de desdenhar, fingir, não valorizar quando a gente quer, a menos que a gente se conforme em receber algo que também é falso, ou "meia boca", ou de alguém que também esteja acostumado a desdenhar, não valorizar. E isto se aplica também aos relacionamentos, não é mesmo? Não sejamos falsos!
 Não se faça de bonzinho, não há acordos quando você não leva o outro também em consideração. A única coisa que estará plantando são sementes de raiva, desconsideração igual, decepção, ferrugem que limita os movimentos em direção de uma vida mais simplesmente feliz! E ponto!
Texto e fotos: Vera Alvarenga

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Caia na real !!

Esta semana ouvi duas vezes a frase: " Caia na real!"
Uma,quando conversava com uma inteligente amiga advogada a respeito de algo acontecido com conhecidos nossos.A história era assim:
A mulher, saiu à noite para uma aula.Esqueceu de apagar a lanterninha do carro. Ao voltar, a bateria  estava arriada. Depois de procurar em vão o telefone do seguro, pegou o celular e pediu ajuda ao marido. Ela estava com medo de ficar ali, sozinha no escuro. Este a interrompeu e lhe disse que estava assistindo TV e que ela se virasse sozinha. Constrangida, mas tendo que engolir as consequências de seu erro, mesmo assim precisou ligar logo depois, pois ele havia ficado com os dois cartões de seguro com ele, inclusive o dela. Isto a impedia de resolver tudo sem incomodá-lo...blá,blá... rs...
  Dias depois, o tal marido liga afobado desta vez, pedindo ajuda a ela. O carro havia sido guinchado, inclusive indevidamente diante de motivos que não vem ao caso colocar aqui. Ela ajudou prontamente. O fato é que, o marido esquecera de pagar o licenciamento e, logo ao entrar numa avenida pela contra mão por ausência de placa de aviso, percebeu o erro e ia voltar quando ao mesmo tempo, por um destes azares da vida, foi barrado por policiais. Em resumo, carro guinchado sem apelação.
Vendo a cara aflita de nosso amigo ao contar, penalizei-me por ele, compreendi sua aflição afinal, com 67 anos teve de andar a pé e correr contra o tempo atrás de documentos,etc..quando deveria no máximo ter levado ele mesmo o carro ao depósito e não ser guinchado! Coitado, comentei eu.
   Minha amiga advogada me enviou um email então perguntando se eu estava sendo cínica ou meu comentário tinha sido mesmo sincero. Claro que fui sincera! Então ela lembrou-me de como nosso amigo costuma ser exigente com todos. Pediu-me para imaginar o que ele teria dito à esposa se o carro dela é que tivesse sido guinchado. Era só uma questão de REALIDADE! Nosso amigo era duro como é a realidade aí fora - tolerância zero! Ela contou-me que, em sua profissão, tem usado muito o colírio: " CAIA NA REAL!"
   A segunda vez que ouvi, foi alguém que gosto muito me chamando de Cinderela...rs... Rimos as duas, por perceber como estou desatualizada sobre algumas verdades da vida. Pessoas como eu, que ficam "protegidas" no lar e são artistas sensíveis, estão acostumadas a enfrentar realidades que tenham a ver com trabalho, emoções, dificuldades financeiras, mas tem uma visão diferente diante da "falha humana". Somos mais condescendentes com os outros. Não quer dizer que sejamos conosco..rs.. Tais pessoas esquecem-se de ser realistas e compadecem-se mais do que deveriam. Ainda bem que não convivo apenas com pessoas que, sendo crédulas e compassivas, passam a mão na cabeça da humanidade que há em cada um de nós! Errar é humano, compreender o erro e encarar as consequências é obrigação, mas deixar que pessoas que a gente gosta aprendam suas lições, experimentando também em si o remédio que usam para outros, é uma questão de reconhecer que podemos ir só até o meio do caminho.
Cada um de nós tem o que aprender...a vida não nos deixa passar impunes,a menos que sejamos políticos desonestos. Injustiças acontecem...alguns de nós devem aprender a tornar a pele mais resistente, outros a abrandar seu coração. Nosso amigo precisava também "cair na real!"
A "Vida" me mandou um recado nesta semana: "Cai na real, Cinderela!" De minha parte, aprendi ultimamente com 2 mulheres que admiro e gosto muito que, podemos manter em nosso ambiente mais íntimo um clima de cordialidade e certa tolerância, mas não o tempo todo! No mundo no qual vivemos, precisamos, com certeza e mais vezes : " CAIR NA REAL"!
Texto: Vera Alvarenga
Foto retirada do blog fotolog.com.br

domingo, 6 de novembro de 2011

Tempo de delicadeza...

Há o tempo da paixão
e o da delicadeza...
Sob suas águas mornas e calmas,
ainda que aceitasse com ternura
os frios desígnios da natureza
com suas asas de candura,
sob a luz, escondida correnteza
corria nela ainda livre, emoção
que pelo corpo se entranharia
feito pulsante artéria principal,
levando o desejo de vida
e cor, ao que então não morreria.
Assim, como era natural
a quem conhecera o verbo amar,
finalmente permitiu-se sonhar
que num doce e envolvente abraço
ao amor se entregariam.
E o que pele, corpo e alma sabiam,
demorou-se ela a compreender :
- mesmo seu delicado sentimento
jamais se poderia opor
ao que é da natureza do amor,
ao soberano desejo de pertencer.

Foto e poema: Vera Alvarenga
Vídeo you tube









sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Músicas...

Existem músicas que farão minha alma dançar...sempre...
Outras que falam de segredos confessados, ou não...
Outras que são o desejo de um sonho de felicidade e gratidão para se viver...
outras que explicam o que a gente não consegue explicar...






quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Despedidas...

Despedir-se do que se gosta é difícil para muita gente. Costumo despedir-me aos poucos, porque há muito aprendi que vida é movimento, nada é eterno e mesmo o que a gente goste, não dura. Assim, quando gosto muito de alguma coisa tento dar-lhe a devida atenção no momento presente em que ainda a tenho. Então, despedir-me? tudo bem.
Despedir-se das pessoas de modo geral é um pouco mais difícil. Então, dou-lhes atenção mas tento não apegar-me muito a elas porque sei que não me pertencem. Até dos amigos, familiares já tive de afastar-me, como muitas pessoas antes de mim já tiveram, movidos por contingências do trabalho, da decisão de recomeçar tudo em outra cidade, enfim... despedir-me, tudo bem.
Despedir-me ou me afastar de alguém ou coisas que gostava como atividades, ou mesmo trabalho que adore, cantinhos especiais onde faço o que me dá prazer, a casa onde se mora, já vai trazendo maior dificuldade, ou diria melhor, requer mais esforço para desprender-se. Contudo, a gente leva para onde for, a possibilidade de recriar a partir da própria criatividade e capacidade de amar que, esta sim, nos pertence. Então, tudo bem também.
 Agora, é diferente quando se trata de despedir do homem que a gente amou, ou por ventura do que deseja amar, a coisa complica muito e, reconheço, quase impossível!
Nossa! como sou lenta nisto! Como demoro a aprender com a raposa. Como é extremamente difícil desenrolar-me, desatar laços que estão adornados por sonhos, esperanças, desejos, sentidos, emoções, sensação de ser especial.
Quem não deseja sentir-se amado? Quem não quer ver um olhar dirigido a si, que traga brilho e  desejo de conhecer e ter mais do que somos? Quem não deseja ver-se reconhecido no olhar do outro? E disto, já foi comprovado, depende a vida! Por mais que nos façamos fortes e espiritualizados, é do que precisamos.
E quando se sonha com isto, ou pior, quando a gente chega mesmo a sentir que é finalmente ou novamente possível, quando a gente quase alcança ou até o faz, a gente tem tanto medo de perder. Porque tem muito a perder! Significa ter consciência de que a partir dali, por um tempo que não sabemos quanto, a vida será ainda mais frágil do que sabíamos que era, porque esvaziou-se do sentido principal. 
Ah, e a vida é tão frágil! E nela estaremos então, tão soltos, sem raízes, sem vontade de voltar para o leito, poder ir para os braços, perdidos que estamos do sonho que nos recarregava de esperança e luz. E tal modo de estarmos não nos trará a sensação de Liberdade, mas apenas da inconsistência, da impermanência no que vale a pena.
Um amigo enviou-me hoje esta frase : - "Todos os dias Deus nos dá um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é o momento em que um "SIM" ou um "NÃO" pode mudar toda a nossa existência"  Parece significar que é necessário aproveitar toda a chance que Deus nos dá. 
Sei bem disto. Quando eu era andorinha, não me sentia sozinha e costumava não deixar o trem passar na estação sem que aproveitasse o momento para uma criativa mudança. Entretanto, para mim agora, acima e além disto, a frase significa também que devemos levar em conta as responsabilidades com a gente mesmo, com o que a gente pode ser de melhor. É preciso antes olhar nos olhos do maquinista para ver se ambos queremos partir juntos para um mesmo destino, ainda que desconhecido para nós. Porque a gente já experimentou outros momentos que pareciam raros é que a gente sabe o que quer ou o que não quer mais! Nem tudo que cai na rede é peixe. A gente sabe que não é qualquer chance que nos interessa. Que não é qualquer pessoa que preenche em nós aquele vazio e nos devolve as asas da fé e da liberdade de viver a vida como ser único e divino em sua essência, e que quer viver a felicidade alcançável, respeitando o outro e sendo respeitado por ele. Não é com qualquer outro que a gente sente que está vivo novamente, ou com quem quer viver tudo que ainda for possível. Ah, e como a gente queria que o outro a quem entregamos nossos sonhos, quisesse nos entregar também os deles e pudéssemos voar juntos, além e acima dos trilhos de uma vida pré programada.
Ter de despedir-se deste sonho, porque não há o trem com o maquinista na estação, ou o que lá está não encaixa mais no que queremos construir do nosso destino, é como não poder mais alimentar o pássaro dourado que vinha cantar em meu terraço e alegrar minhas manhãs. É como perder a luz do sol porque é despedir-me do ideal, que estava já entranhado em mim e justificaria tudo o mais. 
Esta despedida sim, me apavora, de um jeito que nada mais o tinha feito e me deixa fora de prumo, meu ritmo entra em desassossego, perco a direção e isto me aflige. Por isto então é algo além de minhas forças, dói só de pensar, machuca, me acovarda, me deixa pequenina, frágil como a adolescente que está sentindo que vai lançar todo o seu orgulho no chão e abrir o maior berreiro! E sabe que ninguém vai escutar, porque não tem sentido que alguém venha lhe salvar, se antes já não tivesse vindo sorrir com ela.
Perder o sonho em que se apoiam outros valores significa, por um tempo que pode ser longo demais, esvaziar-se de sentido, do desejo e da crença em que : “ Por amor, tudo vale a pena, basta querer amar!”  E este é o valor pelo qual caminhei toda a minha vida até agora, sempre com esperança, levantando após cada pequeno tombo, porque nada era grande o suficiente para me fazer cair de vez. Agora estou no chão, embora ainda deseje voar. Não há peneira que tampe o sol que quase me cega mas deixa à luz, a verdade de tudo o que envolve minhas recentes descobertas sobre meus valores e sonhos e crenças.
Talvez o meu momento seja aquele em que tenha de aprender de um jeito que jamais esqueça, que não basta querer amar. Para isto é preciso dois, que queiram olhar juntos para o mesmo destino. Isto me parecia tão romanticamente óbvio, mas é na prática que dói. É um tempo em que tenho aprendido a dor da perda como a morte de alguém. E o tempo de luto é longo. É tempo de respiração suspensa, de medo e necessária coragem para encarar o fato de que não tenho nenhuma garantia,que o único sentimento que conheço é o meu, que é verdadeiro, forte e real e que quanto mais tentava explicar e evitar,mais me entranhava nele. É o tempo de reconhecer que nada mais posso fazer além de me entregar ao meu sentimento, com a humildade que devo a mim mesma, para depois de conhecê-lo, saber o que virá.
Texto e foto: Vera Alvarenga

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Na minha casa mora um anjo...

 Na minha casa mora um anjo
que se contenta com amar.
Já pensei em desfazer-me dela,
você a quer levar?
Gosta de carinho, de conversar
ou se aconchegar em silêncio
nos braços daquele que ama e
unicamente a ele dedicar seus dons.
Não mora ali sòzinha.
No sótão, é sua vizinha
uma mulher já idosa,
uma bruxa, com certeza,
mas do bem, pois cheira a rosa.
Tem certa sabedoria,
porém falta-lhe delicadeza
quando briga com a jovem
que, fiel, ainda crê
que a vida, apesar de tudo,
traz alegria e prazer
a quem quiser dar amor e receber.
Quando a bruxa percebe
que o anjo está feliz
e flutuando mal toca o solo,
para ela torce o nariz,
puxa-lhe as pernas,
quer fincar-lhe os pés no chão,
manda tocar tão alto as trombetas,
que assusta tudo o que voa
e faz o que era bom sumir!
Então, diz sem nenhum rodeio:
- Tu  te contentas com pouco,
isto é notório e sabido,
és tola, vais ferir teu coração.
Se confias ainda numa ilusão
deves estar enfeitiçada!
E o anjo aflito responde :
- "Perdão, estou apaixonada!
e não se engana minha intuição,
a meus olhos, o que vejo,
vem do que viu o meu coração.
Minhas asas trago machucadas,
verdade, já me fizeram sofrer,
porém minha natureza não muda,
temo, mas ainda desejo crer."
  Na minha casa também
  tem uma leoa no quintal.
  Briga por tudo e todos que ama
  e se enfurece contra o mal.
  Na minha casa tem uma mulher terna
  que  às vezes chora, comete erros,
  ainda ama e quer. Esta mulher sabe que
  agora, só a um homem deu o poder,
  deste feitiço de amor, se quiser, desfazer,
  e então,este grão de esperança não irá mais cultivar...

Fotos retiradas do imagens do Google
Versos: Vera Alvarenga
Vídeos: Ingenuidade - Tones Label
             Não precisa - Paula Fernandes
             Amado - Vanessa da Mata


terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sobre a morte...

 Quantas lágrimas a gente já chorou diante dela?
 Quantas vezes nosso orgulho se desfez diante dela?
   Ela vem por vezes tão inesperadamente, que a gente nunca sabe o que esperar dela. Algumas vezes é tão estúpida, injusta, outras vem de manso e a gente está tão triste de ver aquele que ama sofrendo que chega a bendizê-la. Sei que ela é necessária, de algum modo para renovação de tudo que há neste mundo. Mas de qualquer modo, é inexplicável sempre para mim. E ela sempre vem, infalível, eficiente, inadiável, cumpre seu papel e se vai, sem direito a apelação, sem emoção, sem nenhum sentido para quem fica. Daquela fonte, não podemos mais beber,daquilo que morre não poderemos mais nutrir a vida que há em nós.
   Quem fica é que cai de joelhos, chora rios, ou esconde tempestades no peito. Quem fica é que sente toda a incoerência de estarmos aqui, ao mesmo tempo que percebe como é necessário refletir no modo em que vive a vida, enquanto aqui estiver. Porque quando ela vier, tudo que conhecemos se acabará e não sabemos, de fato o que virá.
   Sim, eu sei, alguns sabem, ou assim acreditam. Que sorte a deles! Eu ainda não sei, procuro crer, há momentos em que realmente creio e outros em que sinto que é melhor nem pensar a respeito porque não posso aceitá-la, a não ser através de minha fé ou crença, que construa para mim, o que me salvará do medo que tenho dela. Porque ela é implacável e soberana, e tão superior a tantas outras verdades relativas, que iguala a todos nós, de todas as raças, de todas as crenças, de todos os amores. Ela vem e acaba com qualquer dúvida, e mostra que enquanto existirmos, ela existirá, e tá acabado!
Por isto, prefiro nem pensar nela e tenho de desprezá-la. Não me entenda mal, por favor, senhora, reconheço sua soberania sobre tudo e todos que conheço, sobre o reino fincado neste solo de tantas mães gentis, e até por isto, e por reconhecer-me impotente, deve desviar meu olhar de si e seguir em frente com sua opositora, feliz da vida enquanto posso sorrir e esquecer-me de sua existência. Perdoe-me por isto, mas é o que posso fazer... levar comigo em meu pensamento, nas boas lembranças, todos os que a senhora levou para não sei onde. É o que posso fazer, o carinho que lhes posso dar. E minha fé em que um dia vou reencontrá-los de alguma forma, sei lá como e isto nem importa, é o que me consola. E lembrar que temos tido pequenas evidências de que, o que vai consigo não é tudo o que temos, e mesmo o que levará um dia de mim não será tudo o que sou, me traz certa tranquilidade ao coração. Só assim, apesar da dor que fica quando perdemos alguém, só assim podemos imaginar que um dia, humildemente estaremos de alguma forma pisando em sua cabeça com algo que será eterno, mas reconheceremos então, que a senhora fazia parte apenas complementar no mundo de opostos, do que a gente chamava de vida! Quem sabe a Vida tenha sido mais esperta e numa tática do preservar o sempre existir, tenha se dividido em duas e, apenas uma de suas partes veio se colocar neste mundo de dualidades de igual força. Assim é que vida e seu oposto seriam apenas uma ilusão, apenas reflexo de uma vida perene. Como seria isto? Evidentemente não espera que eu lhe responda,não é senhora? Afinal, esta é a parte de mim que também não compreendo, mas que, ao contrário de si, ela não se dá a conhecer e ninguém que eu saiba conhece seus segredos. Por isto, não há o que possa destruí-la, perca as esperanças!

   Que os que perderam seus queridos possam ter alguma tranquilidade no coração e jamais desistir de viver a vida de modo a transformá-la numa benção, enquanto for possível beber desta fonte.
Texto e fotos: Vera Alvarenga   

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