terça-feira, 22 de setembro de 2015

A distância...

   
Existe uma distância das coisas, entre nós e as pessoas também. Podemos estar há anos ao lado de alguém e, de repente, só de repente notar que os olhos dele não buscam mais o nosso olhar. Que a busca foi substituída pela indiferença dos que sabiam que sempre esteve à mão, o que queriam encontrar.
    Pode ser que há algum tempo soubéssemos do que acabamos de descobrir mas não queríamos nunca desvendar. E mesmo ainda acontece que não levantamos todos os véus, porque o ser humano tem mania de insistir, que o que cismamos ou quase vemos não é mais do que bobagens, enganos, uma ilusão fruto de sinais mal interpretados. O ser humano tem mania de dizer que ama, sem amar. Quem sabe até inventamos esta intuição que temos! Quem sabe nada vemos! Pode ser, não sei. E por isto, o tempo passa.
   Talvez esta intuição sentida como sinal de que as coisas não vão bem, seja a cada vez, oportunidade de renovar gestos, olhar, sentimentos. Contudo, há os que jamais se darão conta, a não ser quando tiverem causado um mal que nem suspeitavam, quando tiverem plantado uma tristeza que marcará para sempre o olhar do outro, quando estiverem catando as cinzas frias do amor que antes, ardia.
   Quem mudaria uma vida inteira por um simples sinal? Que louca seria aquela que jogaria fora tantas lembranças, tanta história, tantos momentos de viver bem, por pequenos sinais, ainda que a certa altura da vida se repitam mais constantemente? Bem na altura da vida em que as pessoas precisariam ficar mais próximas, em que o prazer de viver e compartilhar as amenidades e insignificâncias seria finalmente possível?! E talvez fosse chegado o tempo de se alcançar a tal felicidade, a dos pequenos momentos, das pequeninas e deliciosas coisas que estariam bem ao alcance da nossa mão, de tão próximos.
   Talvez uma louca que fosse amada, que conhecesse também de repente, um amor cheio de olhares, imperfeito mas refletido de fato e simplesmente em gestos e palavras amenas, pudesse mudar um pouco o mundo. Duas pessoas que decidem viver o seu amor, um pelo outro, é assim que se vive um amor, seriam como uma pedrinha ao tocar o lago inerte e espelhado. E só assim ela poderia saber que felicidade não era aquele pouco encontrado até então, ao longo do caminho. Que não se tratava apenas de um ideal inatingível. Quem disse que não podemos nos decidir a nos comprometer com o amor? Quem disse que amar é impossível???!!
   Acontece que há, muitas vezes, uma distancia que nos separa de tocar a face de um sonho, aquela infinita distância que sozinhas não podemos percorrer, e que cria um abismo intransponível, um desejo insaciável, um oceano de silêncio que ensurdece e adormece os sentidos. Muitas vezes é impossível construirmos uma ponte.Talvez por isto, fiquemos meio cegos ao envelhecer ou busquemos tantos de nós, nos amigos ou na esquina, a alegria que perdemos em algum canto da casa.
   Quem ama e é amado não é perfeito e nem precisa, porque jamais deixa de ver toda a beleza que seu olhar encontra. Quem ama nem por isto tem a vida mais facilitada, mas ri mais vezes e ainda se encanta, apesar de tudo.
   Para consolo de muitos, o amor que sentimos, aquele que experimentamos dentro do nosso mais íntimo ser, esta capacidade de amarmos verdadeiramente, este sentimento que nos pertence, está estreitamente ligado a nós. Este amor nos faz nostálgicos, é verdade, como se lembrássemos de que já foi possível. Nos faz tristes também, por certo. Bastaria, algumas vezes, um outro sinal. Um sinal que diminuísse as distâncias, um gesto de carinho e verdadeira amizade, para que este sentimento se transformasse em alegria e transbordasse, o que muitas vezes nos bastaria, nos daria forças para atravessar as distâncias e suportar as tempestades quando estamos solitários em alto mar....
    

domingo, 20 de setembro de 2015

Asas partidas!


         
            Se Deus não queria que voássemos
                   por que então me deu asas?
               Pois eu as tenho, tenho sim!
                         E a prova é que
de tanto voar em busca daquele raio de sol e
do tesouro lá no final do arco-iris de meu sonho,
há pouco tempo tive, para surpresa minha,
o diagnóstico que explicava toda a minha dor,
          e tudo o que tirava o meu sono:
       - Ruptura parcial nos dois ombros -
que, em linguagem mais simples é o mesmo que me dizer :
- Voaste tão incansavelmente contra o vento, e sempre tão alto,
                     que suas asas partiram-se!
      Então foi a fisioterapia e algumas agulhadinhas que
    milagrosamente me permitiram recuperar movimentos,
               dormir de novo e quase sem dor
         ( será que anestesiaram minha mente?)
      Agora também meu desejo adormece,
mas continuo a fortalecer-me, conselho mesmo do tal doutor...
E fico por vezes cismando, se o melhor de todos os remédios
não seria, para cada um de nós, poder de novo voar,
            até encontrar, um pouco mais de amor.....

foto e poema: vera alvarenga

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Os pirilampos da alma....


Dora conversou com ele, como se ele estivesse lá. Conversava consigo mesma...
- Então, o que eu amei em você? A possibilidade!
- A possibilidade de sentir alegria. Não só a alegria daqueles rápidos encontros, mas de muito mais! A alegria de brincar com seu corpo, de sentir que suas mãos brincavam com o meu. A alegria do encontrar você, tantas vezes quantas fossem necessárias para matar as saudades de cada breve ausência. Porque amor é encontrar-se, muitas vezes, em alegria vivida de diferentes maneiras. E é também a fidelidade, a cada ausência, com a esperança do reencontro, como escreveu Rubem Alves.
- E eu concordo com ele. O amor " é evento de graça"... "e quando ele volta, a alegria volta com ele."

   Ela sempre soubera. Intuíra, que apesar de tanto prazer, era preciso cultivar as alegrias dos encontros, ou o amor se tornaria abatido e triste. Ah! como sabia disto! E assim, foi por isto que ela o amou. Porque era fiel ao sentimento de amor, e dele necessitava como do ar que se respira.
   E ali, no começo da noite, ela encontrava-se com sua alma e refletia... O amor apenas da convivência nas dificuldades e nos momentos de prazer que o sexo traz, acaba por ficar triste, constatou. É preciso a alegria sincera em cada reencontro. O amor precisa contentar-se com os encontros, nem que seja apenas do olhar, ou do tempo que se dedica a se ouvir o outro, do instante de se rir junto, do delicado toque num momento de cuidar, ou do impagável gesto de carinho quando o outro sofre, e ainda da gratidão por perceber a generosidade daquele que controlou em si a vontade de caçoar do outro no momento em que este mostrou sua fragilidade.
  A paz que se sente por estar com um outro desta maneira, com tal alegria por alguns momentos, é algo que faz brilhar o olhar. Mesmo depois de ter queimado o fogo da paixão, o brilho das brasas que deste modo não esfriam, basta para alegrar o que recebe este olhar. Era assim que ela sentia este amor -com toda esta possibilidade. Esperava demais? Não! Isto é apenas amor.
- Então...é isto! Foi isto que amei em você! Aconteceu. Foi este sentimento de fé absoluta de que não teria sido possível amar você sem sentirmos alegria por estarmos juntos, apesar de qualquer outra coisa.
- É claro, disse ela com seus botões, para se vivenciar o amor é preciso dois, ou não haverá jamais o encontro. Contudo, sentimento e desejo podem ser algo solitário. Pois é, preciso parar de falar sozinha.... mas afinal, estou apenas lembrando, conversando comigo mesma, refletindo como é moda hoje se dizer, e não é hábito esconder de mim mesma, evitar meus próprios sentimentos, não é? Apenas talvez um ou outro que seriam dolorosos demais. Amei você porque era um presente, luz num caminho que não tinha mais alegrias, apenas heróis de um passado glorioso de batalhas vividas e duramente vencidas. Batalhas que forjaram a resistência, perseverança, coragem, testaram o caráter, e apagaram os pirilampos da alma....
- Amei você como se pode amar um pássaro dourado que pousa em nosso jardim, à nossa janela e com o brilho de suas asas nos cega por momentos e faz o mundo exterior desaparecer na sombra. E nestes momentos voltamos nossa atenção para dentro do desejo mais antigo de nossa alma, e penetramos em nosso coração, para ver dentro dele o ouro que refletia em suas asas. Amei você porque pensei que finalmente poderia ter companhia para tocar este tesouro que tanta gente procura e tantos outros desperdiçam. Amei você mesmo quando se foi. Amei você para sempre!

sábado, 12 de setembro de 2015

Uma feliz oportunidade - visitar Sainte Chapelle

Numa manhã fria como a de hoje, ora garoando ora chovendinho, a gente saiu sem guarda-chuva, e foi andando, ora mais depressa ora se escondendo nas entradas das lojas, até chegar ao destino programado.
Hoje, com este tempo e baixa temperatura, só saí de casa uma vez para almoçar e outra, para olhar o jardim do Condomínio que estou ajudando a arrumar. Mas lá, a gente tinha de aproveitar, afinal, com garoa ou não, era Paris! Paris!
  Nosso destino era a Sainte Chapelle. Íamos andando, eu perguntando, e afinal chegamos. Quando fui verificar porque a fila não andava, nos avisaram que, apesar de ser dia de visita,excepcionalmente, não poderíamos entrar. Havia uma reunião importante acontecendo lá no Palácio da Justiça. Para entrar na igreja, temos de passar por uma porta e entrar no pátio que também dá acesso ao Palácio da Justiça. Voltamos à tarde e, decepcionados soubemos que ainda não poderíamos entrar. Contudo, no dia seguinte, lá fomos nós novamente.
Este é o Portão pelo qual saímos. Muito bonito! Atrás dele, à esquerda está Sainte Chapelle, o monumento gótico mais bonito da França. Tive esta feliz oportunidade de conhecê-la. É realmente uma Igreja belíssima, com seus grandes vitrais. As fotos teriam ficado mais bonitas com o reflexo da luz do sol por entre os vitrais coloridos, mas, não havia sol. Um dia, quem sabe, se eu ainda puder voltar à Paris, vou repetir a visita, desta vez num dia de sol.














sábado, 5 de setembro de 2015

A árvore está velha...mas os frutos, doces!

Se eu guardar pra mim, tenho a posse e portanto o poder?
Parece que é assim com o dinheiro, por isto tanta ganância e usura...
... mas o conhecimento é uma outra coisa. Intuitivamente e cada vez mais conscientemente agora, o ser humano sabe que conhecimento precisa ser partilhado, e que compartilhar de seu "tesouro" é uma das formas de se viver, depois da morte... deixar no mundo um pouco de si. E é claro, que seja para o bem, é uma escolha que, não sem enfrentar dificuldades, muitos fazem, quando não pensem só em suas vaidades mas na tranquilidade de suas consciências e em ser coerentes com seus princípios humanitários.
   Penso que o conhecimento é, desde o início dos tempos, uma luz que nunca se apaga, e quando usado com humanidade e respeito à vida, pode iluminar o mundo.
  Assisti ontem uma entrevista com o neurocientista Miguel Nicolelis e depois, por coincidência um filme( acho que era Lucy). O que ficou bem claro pra mim nas 2 oportunidades foi a constatação de que, é maravilhoso quando a mente criativa do ser humano e sua sede de conhecimento são incentivados e direcionados para o bem(alcançar qualidade de vida melhor para os viventes, evitando ao máximo destruir). E que o conhecimento partilhado/transmitido para este fim, pelos que tiveram acesso a ele, é um sonho, é até mesmo uma razão de viver para aqueles que percebem a importância de contribuir, de cooperar, de deixar a melhor parte de si no mundo ( e falo desde a mãe ou o homem simples do campo que transmitem seus saberes para os filhos ou próximos, até os professores que ensinam com carinho e os nobres cientistas que se isolam em seus laboratórios durante anos, até passarem a outros o que descobriram, visando o benefício não só de seus umbigos). Parabéns aos que tem o dom e podem usá-lo! 

   Tanto o filme quanto a entrevista me fizeram lembrar de meus filhos. Tenho 3 filhos - um deles, o Robson, quando menino me disse uma vez , a respeito de se envelhecer, mais ou menos assim : - Mãe, quando a gente ficar velho precisa ensinar o que sabe. De que vale ficar velho se não puder ensinar alguma coisa? E os outros 2, Rodrigo e Roberto, desde a faculdade descobriram que gostavam de "dar aula para os colegas que tivessem dificuldade nas matérias que, por ventura eles não tinham muita". 
  Eles são diferentes entre si, em inúmeros detalhes, mas também tem muito em comum. Cada um, diante de experiências pessoais e das dificuldades, aprendeu a lutar duro para manter-se íntegro e coerente com seus valores, que reconheço serem morais e humanitários, além de, é claro, atender às suas próprias necessidades.
   Cada um, à sua maneira, compartilha seus sonhos, divide e beneficia outros com aquilo que tem em suas mãos que foi resultado de seu empenho, responsabilidade, aprendizado,horas, dias e meses de trabalho e dedicação. Cada um tenta modificar o que está estabelecido para o benefício de mais pessoas, mesmo que isto lhes custe um valor alto a pagar. 
   Relembrando algumas coisas do que observei na vida profissional deles, vejo algo comum na atitude dos tres! Eles sempre procuraram, desde o primeiro momento que entravam no seu ambiente de trabalho, idealizar, colocar em prática, dar exemplo de como  viver algumas soluções que podiam trazer benefício, conforto ou bem estar, não só para si mesmos mas para todos os que estavam próximos! 
   Creio que o pai contribuiu muito com o exemplo  de integridade, esforço pessoal e perseverança na luta pelo que acreditam certo. Creio que eu contribuí  com a determinação de buscar justiça, portanto, de considerar e ouvir o outro, e com a idéia de que se podia libertar a mente através do conhecimento e de se trazer paixão e prazer para o trabalho que se tem a fazer. Eu lhes dizia: - "Se tiverem de limpar banheiro, que o façam bem feito pra não fazer outra vez, e assobiando/cantando!" A liberdade para a criatividade ou para ponderar sobre as coisas também foi incentivada. É claro que não conseguimos dar apenas bons exemplos. Como um casal que se amava mas não se combinava muito, não fomos o exemplo que eu gostaria, contudo, por eles mesmos e apesar de nossas falhas, sairam-se muito bem! Como diriam minha mãe e avó: - " Melhor que a encomenda!" A árvore está velha e trincada, mas os frutos, doces! E isto é uma benção.
   Tenho orgulho dos 3  e sempre me sinto abençoada por Deus por vê-los conquistando saberes e valores que não são apenas as moedas, e por tentarem persistentemente deixar ao redor, a vida um pouco mais confortável ou melhor para os demais.
   Obrigada meus filhos! Obrigada a minhas noras que são excelentes companheiras e sabem incentivá-los  e cuidam para não podar deles, o melhor que eles tem.

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