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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Corrupião....

 Com o tempo, apegara-se a ele. E tudo nele a agradava. Foi um gostar aos poucos. Cada um se aproximando devagar, com cuidado para não ferir ao outro, não assustar, não invadir o espaço.
 Ela tinha sentido medo. Talvez porque adivinhasse o que estava por vir.
  De vez em quando, podia senti-lo perto de si, mas ele não se deixava ver. Saía antes que ela tivesse tempo para ver a luz do sol entrar pela janela ou, quem sabe, nem estivera de fato ali, mas apenas dentro de seu coração. Por isto o sentia ainda tão próximo a si.
  Quem sabe o assustara naquele dia, ao abrir a janela tão impetuosamente, alegre com sua já habitual presença, desejando olhar nos seus olhos e compartilhar com ele o que tinha nos seus. Quem sabe, foi porque começara de novo a soltar a voz, incentivada por ele, pensando que ainda sabia cantar. Ou quem sabe aproximara-se demais, quisera tocar no que era intocável. E ele estaria bem? Algum menino cruel teria lhe tirado a vida com uma pedra lançada de um antiquado estilingue de mira certeira? Estaria preso em algum lugar distante?
  Se ele voltasse, ela não saberia mais como se aproximar. Teria de ter mais cautela, ser mais cuidadosa do que já era? Isto, então, lhe tiraria a alegria que tinha pensado ser possível. Ocorreu-lhe, pela primeira vez, que apesar de tanto em comum, o mundo deles talvez  fosse demasiadamente diferente. E que a união de dois mundos só valeria a pena se houvesse igualdade no desejo de fazer o outro tão feliz quanto a si mesmo - duas aves livres a aninhar-se juntas num imenso viveiro com portas abertas.  Era preciso ter a mesma natureza. Isto, a vida lhe ensinara. Então, apesar da saudade, agora, tudo estava em paz. Ela nada mais queria ser,do que era, e nada mais queria ter, do que já tinha. Nada mais desejava... a não ser, talvez, ouvir seu canto novamente, só para saber que ele vinha porque queria cantar para ela... e então, por sua natureza, talvez ela ficasse calada e encantada, ao sentir o coração iluminar-se outra vez...
Foto e texto: Vera Alvarenga.

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