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domingo, 22 de julho de 2012

Levando tombos...

   No inverno, e quando se mora em apartamento, é preciso sair um pouco para caminhar e melhor, quando se pode aquecer ao sol. É o que fazemos aos domingos. Claro que preferiria ir ao Parque Ibirapuera, caminhar entre as árvores, ao lado do lago... mas, é tão difícil estacionar por lá, então, uma grande volta no quarteirão já tá de bom tamanho.
  No caminho da volta, a rua é toda arborizada. Agradável de se andar nela, não na calçada, que a cada laje de concreto de um metro há duas canaletas de uns 15 cm., uma próxima da outra, que atrapalham bastante o caminhar. É necessário andar olhando para o chão para não se torcer o pé. Sabendo disto, costumo ser atenta.
  Geralmente venho pela rua e só entro na calçada quando a rua se estreita por conta dos carros estacionados. Hoje, me distraí. Vinha vindo tranquila, com minha câmera pendurada no ombro enquanto um lindo cão preto vinha do outro lado da rua e eu, por um segundo olhei para ele. Já tinha dado uma daquelas espiadas rápidas para reconhecer o terreno à frente, já tinha visto que havia uma placa de cimento um pouco levantada, mas não imaginava que logo após havia uma canaleta sem terra, buraco no qual a ponta do meu tênis enfiou-se, prendeu-se e me levou ao desequilíbrio, em seguida, ao chão.
  Tive consciência de que num milésimo de segundo estaria estatelada na calçada, mesmo assim, deu tempo de puxar a câmera fotográfica tentando protegê-la, depois, mãos para frente e plunft ! Já era. Lá estava eu com dor nos joelhos e mãos, esparramada na calçada.
  Recebi pronta ajuda de quem estava comigo- a mão estendida para me ajudar a levantar. Que bom!
  - Detesto andar nesta calçada com todos estes buracos! Desabafar me fez bem, naquela situação.
  - Mas aqui não tem nada, foi falta de atenção! Ouvir isto me fez mal.
  - Claro que tem, olha ali onde enfiei meu pé! Meu tênis com a ponta esfolada também comprovava. Pronto, lá estava eu sentada na calçada, tentando explicar. Queria que ele tivesse conseguido ficar calado, embora não tivesse sido o culpado do meu tombo. Por que há pessoas que nos chamam a atenção quando a gente ainda está estatelada no chão?
  - Ela está bem? A mulher na calçada em frente lhe perguntou. E, simpática, olhando pra mim : - Você se machucou? Ah! que frase maravilhosa de se ouvir numa situação daquelas.
  - Não, obrigada. Só o susto. E é desagradável cair na rua, não é? Sorrimos, uma para a outra.
  Claro, é desagradável cair em qualquer lugar, mas em público e numa calçada áspera, mais ainda.
  O homem com o cachorro, andando mais depressa, já ia longe a cuidar da própria vida.
  Interrompi os resmungos do meu companheiro de caminhada. Sim, eu sabia que tinha sido culpa de minha falta de atenção, embora nem estivesse tão distraída assim buscando o que fotografar, como ele dissera. Apenas não queria ficar olhando sempre para o chão!
 - Por que você não me perguntou se eu me machuquei?
 - Porque eu me assustei!
 Eu também tinha me assustado! Então, éramos dois. Contudo, fora joelhos e mão ralados, roupa, câmera e tudo o mais estavam bem. Maravilha, não torci o pé. Apesar do tombo, tive sorte.
 Lembrei de quando uma criança cai ao nosso lado e a gente logo vai atender, e para sermos solidárias, brigamos com a porcaria da calçada que a fez cair! Cumplicidade faz bem. Logo depois a gente ensina que é preciso mais cuidado. Bom ser criança... Mas, talvez, quando o susto é grande, por vezes a gente acabe por querer ensinar o outro a se proteger, naquele exato momento em que bastava o apoio... sei lá. Isto não é necessariamente falta de carinho. Acho que depende do momento, e depende de cada um.
  Interessante perceber o que fazemos quando nos assustamos e não temos tempo para pensar.
  E interessante lembrar que, mesmo sendo adultos, quando menos esperamos, podemos cair no chão, na calçada, da pose. Melhor na calçada do que por uma rasteira na vida. E sempre se aprende... se você quer fotografar, se distrair ou levantar a cabeça em sua caminhada, vá em seu ritmo, com cuidado, devagar... e se cair, o jeito é levantar, sacudir a poeira e seguir em frente. 
Texto: Vera Alvarenga
Foto: retirada do Google.
  

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

"Qual vida me será tirada agora?..."

 Mais uma viagem a trabalho.
 Recostou-se, fechou os olhos. Melhor cochilar para não ficar enjoado,não pensar em nada, descansar o corpo e a mente dos acontecimentos dos últimos meses.Tanta ansiedade,consultas,médicos,hospital. Detestava o cheiro que existe nos hospitais,mesmo naqueles que não havia cheiro, mas ele o sentia assim mesmo! Sentia-se mal com a realidade ali presente, a tristeza e a preocupação estampadas nos rostos, e pior ainda, no rosto daquela que era sua companheira por tanto tempo, e agora, parecia tão frágil. A vida viria roubar-lhe mais uma vida? Ele chegou a perguntar-se se foi necessário esta ameaça para que acordassem para o fato de que já não se pertenciam há muito tempo... a doença era uma ameaça, ou também um sinal que mais vidas estariam se perdendo ali? Vidas que não eram vividas, como se o tempo pudesse ser desperdiçado. Dizem que após grandes traumas, uma pessoa começa finalmente a viver... seria na mesma direção ou em outra? Teria de ser na direção da vida verdadeira, ou tudo seria mais uma vez inútil! Mas a verdade é tão simples, é tão mais leve como talvez só o amor o seja, e por isto, às vezes passa tão despercebida!
   Aquele que quase morre, mas se recupera e vive, tem uma experiência única e dá um novo sentido à própria vida, mas não necessariamente a daquele que o acompanhou. Então, levará consigo o outro com quem já compartilhava uma vida, ou apenas levará um refém, junto de si ?
   Ele não queria mais se permitir pensar sôbre isto.Tinha decidido! Ia ficar ao lado dela,apoiá-la, fazer o que era certo, tentar amá-la e rezar para que não ficasse sem seu amor, no futuro(fosse este amor, de que tipo fosse, pois era o que tinham entre si). Virou a cabeça para outro lado. Queria esquecer de si mesmo.Bom seria saber meditar,não pensar em mais nada, tornar-se leve,flutuar...como daquela vez em que, depois de desabafar um pouco da dor escondida no peito há tanto tempo, sua amiga lhe colocou a mão suavemente na direção de seu coração e falou baixinho:
- Vamos, respira.Solta este peso junto com o ar, você consegue...deixa sair. E encostou seu rosto perto do dele, e foi respirando com ele, mostrando-lhe como fazer...até que um soluço escondido saltou-lhe pela boca. Quis segurar, foi impossível. Ia se afastar, se recompor, mas ela docemente o abraçou e as lágrimas sairam teimosas, até que ele as libertou de vez, e chorou no abraço dela.
   Naquela única vez que estiveram assim juntos, ele se perguntou quem era aquela mulher, que tinha se aproximado dele a ponto de derrubar aquela parede,há tanto tempo construída? O que seria dele sem sua fortaleza a apoiá-lo? Como fechar as comportas do que começava a jorrar? Julgava a si mesmo um homem bom, contudo seria agora, também um tolo, um fraco?
   Não precisou preocupar-se com isto. Eram amigos, podia confiar nela. Fizeram amor, mas desta vez, de uma forma mais branda, embora também intensa. Ao contrário do que pensou, sentiu-se forte e potente, e como se tivesse dez anos menos, possuiu da vida todo o prazer que ela podia lhe dar. E, conduzido pela experiência da maturidade, deu àquela mulher o amor que ela sonhava receber. Como se não houvessem nuvens escuras no céu, sentiu-se tão leve, que podia voar. Por alguns momentos ambos flutuaram juntos, como ela sempre havia acreditado que fariam.
   Voltaram, aos poucos, à realidade. Ele sabia que já não era jovem. Sua barriga, seus músculos, já não eram mais ...
   - Adoro estar assim, deitada no macio do seu corpo. Sim, ela escondia partes de seu próprio corpo, também não era jovem mas sabia como fazê-lo sentir-se único e bem.
   Ele percebeu que ela enxugou uma lágrima. Tinha certeza que aquela mulher estava apaixonada por ele e isto,ùltimamente lhe dera ânimo para tudo o mais. Sabia que ela sonhava com um amor onde houvesse respeito e cumplicidade.Ele mesmo lhe havia dito, que merecia ser amada assim. Ele, com a experiência da vida e de tudo que já perdera, sabia mais do que ninguém que a ausência de amor é um preço muito alto a pagar, seja por que motivo fosse, então,se o desejasse saberia amá-la. Se colocassem a vaidade e orgulho de lado... o orgulho que faz com que seres humanos desconsiderem os próprios limites, o saudável desejo de viverem um amor verdadeiro e desistam de tudo que permita que alguém possa lhes acusar de terem cometido um erro...o orgulho que tanto teme não ser perfeito...o mesmo orgulho que faz com que se arraste uma vida em comum, sem que se note nela a alegria espontânea inerente da própria vida, a não ser pelo esforço de um só. Se a vida pudesse mostrar a eles, de algum modo, que não se pode controlar tudo,ou tudo sacrificar, que não se pode segurar uma vida nas mãos, quando já não é plena, pois que escapará, de uma forma ou outra...que só depois de reconhecer um erro é possível seguir-se inteiro numa escolha honesta em outra direção, que estarem corretos nem sempre é mais importante do que aquilo que sentiram naqueles momentos, nem mais do que o bem que a presença de um fazia ao outro, verdadeiramente... Se a vida pudesse lhes contar sôbre a falta que sentiriam um do outro, pelo que não tiveram a chance de construir, enquanto outros tem a chance e não o fazem....
  Pela primeira vez, depois de tanto tempo, ele estava sentindo seu corpo e coração vibrarem como um violoncelo afinado, tocado por mãos suaves da musicista que sabia tirar dele o som harmonioso, para o qual foi criado. Quando tudo parecia tão sem vida ao redor de si, tanta vida lhes foi dada!
   Depois daquela tarde, ele se perguntara se estaria certo em mudar sua vida... e se chegara finalmente o momento de aprender a se amar, deixar-se amar e amar na mesma medida. Queria entender como ela podia estar se tornando uma presença tão importante... algo que lhe trazia a sensação de tranquilidade e iluminava suas noites. Mas então, aquele problema maior surgiu, que lhe trouxe mais uma vez o medo da perda e era preciso controlar a situação. Era preciso, desta vez não cometer nenhum erro, dedicar-se por inteiro a resolver o problema,nem que para isto, tudo o mais tivesse de ser esquecido. Como ele poderia estar presente na vida de duas pessoas que gostava tanto? Será que sua amiga compreenderia se ele lhe contasse sôbre estes sentimentos tão seus? Talvez, só bastasse dizer a verdade...mas a verdade é tão....
   A aeromoça  servia o homem sentado ao seu lado e ele despertou. Balançou a cabeça, afastou os pensamentos e, com o mesmo olhar triste que trazia há algum tempo, aceitou o que ela lhe oferecia, pelo menos lhe confortaria o estômago....
Texto e foto: Vera Alvarenga                                                                          

domingo, 31 de outubro de 2010

Mulheres na casa dos 40( comentado pelas de 60!)

Hoje, no blog da Márcia, estávamos comentando sôbre o tema:" Mulheres na casa dos 40!"

Meu comentário ia ficar longo então, trouxe para postar aqui.

Desculpem mas agora vou abrir o verbo!
  Ah, meninas, entrar na fase dos 40 é muito bom!(Só que eu só sei disto agora!!) Eu tinha quase 10 kgs. a menos, era inteligente e muito mais corajosa. Os homens me achavam bonita e eu nem olhava pra eles, (nem de rabo de olho!!).Era bonita e não sabia !(baixa auto-estima é uma merda!!).Eu já havia me separado do meu marido por um ano, e havíamos voltado. Me sentia mais mulher e sexualmente mais amadurecida; sabia o que me dava prazer e conhecia muito mais o meu corpo do que antes- sexo passou a ser muito melhor do que até então!! Ao entrar nos 40,eu tinha voltado para a faculdade, tinha planos e tempo para concretizá-los!
   Pessoal, meninas...acordem!! Podem crer que entrar na fase dos 40 é uma maravilha!! Não é o tempo só de semear amizade e cumplicidade com o homem com o qual decidimos envelhecer! É o tempo para olharmos com respeito para nós mesmas e visualizarmos os frutos que já temos que começar a colher, para preparar as compotas que nós dois iremos apreciar, depois dos 60! Ou agora, ou teremos que nos conformar com o que tiver na despensa!
  Aproveitem com olhos bem abertos a fase dos 40!! rsrs..........(ninguém me avisou). Aos 60, cá pra nós, nem sempre nossa alma e vontade entendem muito bem esta coisa de terceira idade e do corpo que emagrece e não volta mais para o lugar! Lembrando o comentário de Veríssimo,eu tenho " flexibilidade e posso brincar com meus pés" ..rsrs.... mas,preferia brincar mais de fazer amor e de sorrir ( não que não faça isto, mas,tudo ficou muito mais sério,rs...). E não me venham com a história de que a terceira idade é a melhor idade!! Todas as fases tem coisas boas, mas "melhor" idade, já é demais!! Nesta fase dos quase 60 a gente começa a perder pessoas e coisas...e percebe que não deveria ter abandonado os planos para ajudar o outro só nos planos dele. Na fase dos 40, se você se apaixonar por outra pessoa, ainda poderá reconstruir sua vida, sem parecer ridícula! O apaixonamento é lindo em qualquer idade, mas garanto a vocês que é mais lindo aos 40 anos. Eu, na ocasião, conversei comigo mesma e me reapaixonei por meu marido. Faria tudo outra vez, por que fiz por convicção...mas,o importante é perceber se estamos acompanhadas no processo ou se vivemos dourando a pílula, pois aos sessenta, isto será cobrado, de um jeito ou outro!
  Gente, a fase dos 40 pode ser o auge em muitas coisas,e é bom encontrar tempo para unirem-se aos companheiros e não para continuar a renunciar, por eles! Claro que não devemos ser mesquinhas, mas não podemos perder tempo da nossa vida, que é um bem precioso, acocando amores egoísticos demais. A amizade, cumplicidade deverão ser semeadas nesta fase, mas também é o momento de garantirmos nosso espaço e de compreendermos e mostrarmos nossos limites, se não o fizemos até então...isto sim, é o que garantirá uma vida muito boa aos 60!! Pois, se continuarmos a pensar que somos capazes de suportar muito mais coisas, estaremos criando uma ilusão - e ilusão não é culpa do marido, não!! Ilusão é pensar que teremos tempo mais tarde, para olhar com respeito para nós mesmas. O tempo passa depressa. Se não nos respeitarmos aos 40, aos 60, convenhamos, sem dinheiro, sem um apaixonado a nos valorizar, será quase impossível! rsrs.........Aos 40 é hora de, com maturidade e perseverança, garantir a "aposentadoria" de modo a curtirmos tudo na melhor companhia...Nada de acreditar, como eu, que um dia os frutos cairiam do céu porque seu amor iria respeitar você , finalmente, mais do que você mesma se respeita.
   Se não nos prepararmos com consciência na fase dos 40, inclusive financeiramente, então nos restará rezar para que Deus nos dê depois dos 60, discernimento para suportar com dignidade e amor, o que não pudemos mudar, e que nos ajude a evitar a depressão e a preencher nosso coração com o amor pela beleza que houver em cada flor ou gesto, em cada passo do caminho. Só assim sobreviveremos e conseguiremos ainda manter um pouco da doçura da alma. 
  Um brinde à fase dos 40!! e a todas as coisas boas que pudermos ainda fazer, depois dela!! rs.....

Texto e foto : Vera Alvarenga

terça-feira, 27 de julho de 2010

- " Fidelidade X traição,e a busca da verdadeira intimidade..."

Fidelidade,traição e a busca da verdadeira intimidade, foram assuntos debatidos hoje, em 2 programas na TV,por jornalistas, pesquisadores, psicólogos...
   Um ponto que me chamou a atenção,e com o qual concordo, foi que a fidelidade não é conceito tido como antiquado, mas atual, e está em primeiro lugar hoje, como motivo de se querer ter um relacionamento sério e real.      Como não há mais casamentos obrigatórios, pelo menos não no Brasil, e as pessoas casam mais tarde hoje, quando um casal decide viver junto, na maior parte das vezes, há um pacto subentendido entre eles. Ambos sabem que não lhes basta relacionar-se com várias pessoas ou amigos, mas que valorizam a intimidade e estão comprometidos com uma vida a dois. É necessário o comprometimento.
    Contudo,ainda existem traições e algumas pessoas acreditam que há maior facilidade com a internet. O que se discutia é que o motivo principal apontado para a traição, não é apenas sexo. As mulheres desejam e buscam a intimidade, que foi descrita como o sorrir juntos, a amizade, a confiança, o conversar, elogiar e serem elogiadas. Os homens, por sua vez, mesmo que façam sexo satisfatório com suas esposas, acabam traindo, pelo desejo de compreensão, elogio, interesse e atenção. Assim, com as facilidades da net ou não, o que vejo é que todos desejam encontrar o tesouro no arco-iris : intimidade verdadeira e reconhecimento.
   No meu tempo de menina, aprendi que amar era renunciar. Hoje sabemos, é normal e saudável que precisemos da atenção, sorrisos, amizade, cumplicidade e compreensão daquela pessoa com a qual escolhemos viver! E, se encontrarmos isto, seremos o melhor,pois o amor nos faz pessoas melhores, além de realizados. Seria normal, que casais não fizessem apenas sexo de maneira rotineira, sem cultivar entre si, a intimidade verdadeira. É ela que nos permite "criar o clima", namorar, colocar aquela mão um pouco acima do joelho e ainda provocar arrepios, querer agradar, se importar com o outro, conversar no restaurante ( e não apenas comer), olhar nos olhos e ter uma vida satisfatória na maior parte do restante do tempo, quando não estamos com a pessoa com quem a gente escolheu viver. Quando o casal a tem, não fica fragilizado. Muitos casais fazem "bom sexo", embora não consigam a tão sonhada intimidade verdadeira, e mantém seus relacionamentos com base nestes poucos momentos em que a satisfação lhes dá uma sensação de conforto, que pode durar pouco. Precisarão de muito esforço para manter-se juntos, quando as dificuldades se aproximam, como é normal que ocorra, vez ou outra.
   A intimidade verdadeira deveria ser algo que cada um buscasse encontrar, não se contentando com menos e que soubesse que deve ser conquistada a dois e depois cultivada com responsabilidade. Se a gente quer ter um relacionamento com intimidade e cuidados verdadeiros, e uma vida mais plena, precisa acreditar que merece isto, e então comprometer-se com a mente e o coração, para o realizarmos.
   E não é possível viver de ilusões,  implorar por este "tesouro" ou nos enganar a respeito, sem que o tempo nos cobre, mais cedo ou mais tarde! É necessário termos amor a nós mesmos, para entender que o amor real é este, que nos traz a intimidade verdadeira e que temos direito a isto, juntamente com as responsabilidades desta descoberta, mas seremos, com certeza, mais capazes de amar e mais felizes, se tivermos a coragem de fazer esta opção, lutar por isto. Foi muito bom poder refletir mais a respeito deste assunto.
Texto: Vera Alvarenga
foto: retirada da net; pode ter direitos autorais.

sábado, 12 de junho de 2010

- " Sôbre estar apaixonado e amar..."

 Acabo de ler um texto que fala sôbre a diferença entre o que um homem sente quando ama e quando está apaixonado. Me fez refletir bastante.      
Concordo que quando a gente ama é algo que depende mais do que temos em nós, do que daquilo que o outro nos está oferecendo, no momento. E acho que o amor vem com a maturidade do relacionamento. E é imenso,sim, mas não tão aparente..é mais discreto, do que a paixão!
Só que, estamos falando da CAPACIDADE DE AMAR, de cada um, claro. O apaixonar-se pode nos levar ao amor. E, que maravilha quando isto ocorre e pode ser vivenciado a dois!Porque, quando pensamos no amor entre um casal, e no sentimento que os une, então, este precisa ser alimentado por ambos e cultivado, sim, e até por ser "entre os dois", precisa de ambos,não pode existir só pra um. O texto comenta que "Quem ama, continua a amar, mesmo em presença da traição". Sei disto, quem ama, perdoa.E foi assim que "eu" sabia amar. Contudo, aqui está onde discordo em relação à repetição desta atitude, pois traição pode ocorrer de várias formas.O sentimento de uma pessoa que é traída pela outra, de diferentes formas, não pode perdurar como amor incondicional,pra sempre... O amor existe, mas o sentimento muda e não é mais tão nobre, leve e belo.
  Na minha história de amor, eu sinto que meu sentimento por ele vai perdurar para sempre,de uma forma ou outra, mais do que os 40 anos de nosso relacionamento, mas, o sentimento que nos une, o que caracteriza o relacionamento "entre dois", infelizmente não é tão bonito, altruístico e não conseguiu ser cúmplice. Meu companheiro diz que me ama e acredita nisto...mas, em minha opinião, como o texto tambem afirma, o amor é algo que, quando existe, é, está lá , brota do coração naturalmente, em atitudes nas quais nem se cogita mais em traição no momento de se escolher entre a pessoa amada e outro objeto qualquer de desejo egoístico. E esta é uma decisão intrínseca que traz a tranquilidade de nunca se estar "sacrificando" por amor, pois não é sacrifício fazer uma escolha natural.
  E, neste caso, uma pessoa pode não saber o que fazer com sua capacidade de amar, então pode direcionar este sentimento para outras formas de amor e de se apaixonar, até que encontre a cumplicidade e comprometimento que pode valorizar imensamente a vida. E este sentimento pode ser oferecido a uma pessoa, muitas ou a uma ação, onde o amor possa florescer.
  Quem ama de verdade, quem tem a capacidade de amar, pode ter este sentimento de amor às vezes, ameaçado por uma atitude egoística,oposta e constante do outro. E, quando isto se dá, o sentimento "entre os dois", pode perder sua força, e a pessoa que realmente amava, pode desejar sim, amar outra pessoa, que perceba que este sentimento poderá trazer a cumplicidade e uma vida imensamente mais significativa, para os dois. Então, apaixonar-se pode ser este caminho, na tentativa de realização deste "amor entre dois" que não se realizou da primeira tentativa..
  Porque, penso que o amor, aquele que vive em nosso coração, se não é alimentado pelo outro, só pode perdurar apenas dentro do coração, e não no relacionamento. Amor totalmente incondicional, na minha opinião, é algo que o ser humano só alcança sentir, mas não consegue vivenciar dentro de seu relacionamento com o seu companheiro(a), porque mesmo que não queira, vai desejar ver-se refletido no outro. O amor, em presença do persistente egoísmo se retrai, ou vira em outra direção para poder brilhar e distribuir suas bençãos.

texto: Vera Alvarenga
foto : que tirei da foto lindíssima, que ficou em 2º lugar no Concurso (Re) Tratando o Rio Sorocaba.
 A foto é de Carlos Alberto Muzzili.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

- "Conversa com Uma Bruxa no Sótão "... Parte II e final


Parte II -
- Agora você foi cruel. Hei, olha esta foto! Ah, era tão bom quando a gente ia dançar... quase toda 6ª.feira, com o Toninho, a Valéria.Depois, passamos a ir só nós dois.
- O convite partiu deles não foi?  Ainda bem que vocês tinham estes amigos! Nunca vi, alguém tão pouco criativo em relação a  proporcionar momentos que os fizessem sorrir juntos! Por isto, toda vez que ficam sózinhos é assim. Vocês não se bastam, como você esperava. Só você parecia querer cuidar deste jardim que ele adora, do qual se orgulha  mas não cuida! E ele era tão animado pra jogar futebol, tomar cerveja com o pessoal do escritório, para as reuniões após o trabalho...
 - Eu sei, acho que era este meu jeito reservado, de não contar piadas, mas eu queria ir! Ele achava que o pessoal do escritório era gente simples, ia ficar sem jeito perto de mim. Eu também era simples.
 - Tolinha, você era tão bonita e jovem. Vamos voltar para mais perto no tempo, que este mofo está me fazendo mal. Há poucos anos atrás quando vocês quase perderam tudo e foram recomeçar a vida, lá longe. Finalmente se levantaram com a sua arte, criatividade, sua mania de não deixar a peteca cair.Será que ele não via que você só queria que ele a admirasse um pouquinho?! Quem não é visto, pensa que não existe! Depois de tudo, você se sentia como uma barata, lembra ?
 -  Se não fosse pela persistência edisciplina dele, eu não saberia ganhar dinheiro!  Ele sempre foi um batalhador! e tem jeito para vender! Nós dois juntos, seríamos invencíveis para sempre.
 - A empresa deu certo! Dai a “Cesar o que é de Cesar!” Sei que você reconhece o que ele tem de bom. A pergunta aqui é, por que, quando está tudo bem, ele volta a te tratar com esta desconsideração? Que tipo de amor ele sabe dar? Vocês trabalharam duramente juntos durante 14 anos! Você, minha fada, já tem idade pra ver que isto sempre se repete e você alimenta. Já esqueceu da última crise? Quando um homem fica doente, parece que o mundo desaba! Você esteve ao lado dele, por mais de um ano, apoiando, trabalhando. Por acaso, você era alguma “matricinha” ? Não, nunca foi! Como ele reage, quando você diz que está precisando de apoio dele ? Como ele reage quando você diz que está meio preocupada com seu esquecimento? Onde está a paciência dele, gratidão ele sabe o que é? E pare de jogar tanta coisa deste baú, pra cima ! Coff, coff. Vou ficar alérgica! Quanto mofo!!  Atchin ! O que tanto procura aí??
 - São 37 anos juntos ! É minha vida, a única que conheço! Ele, sempre foi minha vida!
 - Você não parece ser a dele, pois do contrário ele a faria feliz, tanto quanto é.Você não reclamava antes  e agora, não reclama das dificuldades da vida mas dele! Quem sempre faz o que quer, parece ser mais feliz. Podia ter uma conta de divisão, aqui nesta escola....haveria mais respeito. Pior, é que ele diz que está tudo bem, até que você precise gritar. Será que ele é surdo? Cego, tenho certeza!! Já teve 500 funcionários, perdeu quase tudo por causa de outra pessoa alheia a todo o seu esforço de construção. Foram experiências, não aprendeu que as coisas podem ir embora assim, num piscar de olhos, porque a gente não vê os alertas a tempo?  E na empresa? ele investiu muito. Ninguém investiria tão pouco na própria empresa, como ele investe em você!  Hei, o que foi?  Já sei, peguei pesado. Desculpe, você sabe, fiquei assim um tanto realista, meio revoltada. Vem cá minha fada, encosta sua cabeça aqui no meu colo.Quero te dar um abraço, afinal estou aqui pra te apoiar. Diz pra mim, o que você está sentindo, de verdade ?
 - Tenho medo. Me sinto tão velha. A situação financeira tá tão difícil. Estou decepcionada.Queria que ele gostasse de conversar comigo.
  - Ele gosta só que, como é muito convencido e competitivo, quando você questiona o assunto ele se sente desautorizado. Talvez só queira que você o ouça e admire o que ele fala, e fim. Por que não se conforma em ficar quieta, apenas ali, presente ?  
  - Você exagera, e eu já fiz isto muito tempo. Sabe, eu olho para ele, gosto da aparência, admiro sua coragem, sua honestidade, eu não deveria precisar de mais ninguém, mas detesto sua vaidade, prepotência, disponibilidade para a contenda e falta de compromisso. 
 - Ele tem mesmo qualidades para ser político ! Você poderia continuar a apoiá-lo em uma possível carreira... ele desejava isto. Você o decepcionou.
 - Já tentei, mas quando lhe dava uma sugestão, você sabe, fica sempre na defensiva, é agressivo. Não dá pra participar ficando calada e indiferente. Uma vez me ouviu,chegou a me agradecer quando lhe falei da necessidade de diplomacia e sugeri só acusar seus adversários, se munido de provas! Mas, na maior parte das vezes, interrompe, mal chego no meio de uma frase. Me parecia que ele me queria mais como secretária, do que como amiga. Eu não tenho um botão pra ele ficar me ligando só quando me quer em funcionamento!
 - Que bom que notou! Por falar em botão, vamos pensar - qual o link que você clicou desta vez e a fez sentir raiva de fato? Antes você não sentia...Fica mais fácil se você aceitar seus sentimentos.
 - Foi por alguém me ter dito que eu podia expor minha opinião. E quem disse isto, o fez de modo tão natural que me fez recordar que isto é o correto. Nossa, eu estava anestesiada? Perceber ao redor, que há famílias e pessoas nelas que conversam educadamente, como era hábito na minha família, sem que tudo seja motivo para um debate, onde só um quer ter sempre a última palavra! Alguém  me fez lembrar como é bom ser tratada com respeito, admiração. Como é bom ser elogiada! E eu gostei. Meu Deus, me assustei de ver como gostei e como estou vulnerável. Odiei ver como estou vulnerável!!
   - Huumm.Você parece um fiel cachorrinho, cujo dono mal percebe que você está ali, com exceção da hora de dormirem, já que ambos se aquecem. E todas as manhãs, você acorda, saem juntos para a lida; você volta, fica esperando que ele retorne e se lembre de não rosnar pra você, de te dar o que vai te matar a sede! Sua raiva ? é porque  percebeu que está tão vulnerável, que qualquer um que te oferecer carinho, sorrir pra você e te convidar para dar uma volta pelos arredores, juntos, você vai...
   - Sim, é isto! E não, não é qualquer um! Para mim é uma pessoa especial. Isto me assusta profundamente. Quando eu sentia amor, não notava ninguém mais. Talvez seja pior. É a raiva por eu ter me sabotado, por ser insegura ter me permitido ficar por tanto tempo convivendo com algo que me fez tão mal - a agressividade disfarçada em desvalorização, quase velada mas constante, que mina sua energia, e que não vindo de uma atitude  suficientemente aberta e forte, impede que você possa reagir à altura, sem culpa! É também o medo de me apaixonar por uma ilusão ou nunca mais poder me apaixonar. Admiro homens corajosos, mas nunca pensei em ter que me defender da raiva que ele traz dentro de si, mesmo contida. ele brinca, caçoa, menospreza, isto só pode ser raiva antiga contida. Estou cansada, tudo é motivo para imposições, mau humor, impaciência ! Ele parece uma bombinha, pronta para perder o controle se algo não acontece como quer. Mas explode silenciosamente, e então, fria e calmamente, caçoa, é sarcástico, crítico ou se afasta. E é assim com todos. Eu colocava panos quentes ou nem mesmo via, mas pessoas que me amam começaram a dizer-me que pareço cúmplice, e não é no bom sentido do termo. Sinto-me culpada, porque ele foi um provedor, é um homem bom, só não sabe canalizar sua frustração para a direção correta. Aliás, por que me sentir constantemente culpada? Acho que isto tudo exige mais de mim do que eu era capaz de dar.

 - Hãn, hãn.... Ele é assim. Mas você já retribuiu algumas vezes, não se culpe!
 - Agora, está ainda mais arredio porque viu frustrarem-se seus sonhos. Não queria que ele “desistisse”, mas a gente cai, levanta, se adapta, transforma em outro projeto, ora. Não foi por falta do meu voto que não foi eleito. Não foi por falta da minha ajuda, que não se realizaram os sonhos que tinha, na cidade onde nasceu. Era um sonho bonito... mas muito grandioso, algo que precisava fazer por sua infância.  Eu e os filhos não estávamos nele, mesmo assim,deixei os meninos, fui com ele... Como ele me disse, ou eu tinha de estar cem por cento a seu favor, ou cem por cento contra. Não poderia haver meio termo. Logo pra mim que gosto de ficar sobre o muro analisando os prós e contras, vendo os dois lados de uma questão...
 - Você está divagando novamente. Não fuja! Estes são detalhes, passou, você perdoou e recomeçou. Volte ao ponto, volte ao presente, menina! Não é fácil para ele, ter perdido sonhos e todos os bens que construiu com tanto trabalho! Não deve ser fácil para ele, pensar que pode ter perdido até sua admiração!
 - Como posso admirá-lo em sua teimosia ou quando calma e friamente ameaça tirar- me seu amor, ou  me deixa sozinha no meio de uma conversa, quando não posso estar de acordo com ele? Ele não percebe que poderia usar sua experiência e qualidades para outras realizações que não estivessem voltadas apenas a este sonho de poder? 
 - Foi agindo assim, que sempre teve controle sobre você. Quanto aos sonhos, ele ainda continua lutando por eles e talvez precise disto, não importa quão cego ele te pareça,  acha que precisa disto para viver. E você, foi dar a ele um motivo para culpá-la quando lhe disse, ano passado, que não queria mais viver com ele se ele insistisse em entrar na política! O que espera? Que um independente como ele se conforme em ser ameaçado por você? Agiu como ele, ameaçando tirar-lhe o que ele precisa (note que eu disse o que ele precisa, não o que ele ama!).

 - Eu fui honesta! mas depois cedi, ajudei.
 - Seja honesta agora em ver que, a seu modo, ele tem uma boa desculpa para acusá-la. Porque eu sei, que no fundo, você o apoiaria em qualquer coisa se ele não te desse a impressão de que a está usando! Pronto, falei! Se ele viesse com jeito, com um jeito sedutor, será que...
 - Sabe, você disse antes algo que é verdade, estou parecida com ele. Tenho sentido raiva, não sou o melhor que eu poderia ser com a idade que tenho! Me sinto ainda totalmente imatura para lidar com estas manipulações. Nem a psicologia me ajudou. 
 - Às vezes, o que a gente mais odeia no outro, se descobre capaz de fazer também! É uma decepção ver que temos em nós, o bem e o mal, não é? Mas acalme-se, não precisa me olhar deste modo. Sei que você resistiu bravamente, até agora. E também penso que, quando você ama alguém,  proporciona oportunidades e desperta nele o que há de melhor. Por isto se diz, que o amor constrói. Ah, se os homens soubessem o quanto nos custa tomar uma decisão que envolva tantas emoções!
 - Pois é, mas eu me transformei numa pessoa pior. Mais forte, menos burra e menos mansa, o que é bom, porém alguém que agora não tem mais aquela capacidade de amar como antes, quase incondicionalmente.
    
 - Por que a gente não pode ser mais leve, simplesmente grato por estar vivo e aproveitar o que a gente tem de bom, ao nosso redor? É tanto desperdício de coisas que a gente podia viver. Daqui a dois anos me aposento ! e daqui a um mês, estarei desempregada e mudando para outra cidade! Puxa, é a 18ª mudança !
 - Fada não se aposenta! Desculpe, estou brincando... pensa um pouco, será que vai valer a pena, todo este teu esforço, só porque não quer ficar sozinha? E , de qualquer modo, você não tem se sentido solitária, por tanto tempo, embora ele esteja na mesma casa ? Há muito tempo vocês querem coisas diferentes, só isto. E isto é muito.
 -  Seria justo com ele, agora que estamos nesta situação financeira? Apesar de gostar dos meus momentos para ler, escrever, há os que são melhores para compartilhar. Deve ser horrível, viver sozinha. Eu tinha planos : ao contrário de outros casais, nós  realmente conseguiríamos envelhecer companheiros, rindo juntos!  
 - E ele, só levava em conta os dele ! Você não estaria sozinha, se ele tivesse sido eleito? Você tinha avisado que não poderia, honestamente, acompanhá-lo na política! Mais um sonho incrivelmente grandioso dele, afinal era eleição para "governador"! foi como um meteoro caindo na sua casa, no meio do simples trabalho com artesanato que os sustentava. Uma virada de planos magnífica, mas que te deixava com um sentimento de culpa por duvidar de sua real possibilidade de concretização. Uma inebriante fantasia para ele, mas era você que ficava com sintomas de ressaca, tentando equilibrar opostos impossíveis de se encaixarem até que, no final de tudo, claro, sobrou para a saúde dele também. Falo de quando ele decidiu e te largou lá, sozinha com o trabalho, enquanto saía pelo estado para fazer campanhas. E você estava a 1000 km. dos amigos, filhos. Se lembra da noite que um tornado passou sobre a casa? Que susto! Você foi corajosa, garota! E quando ele lhe disse que não podia “ pautar” a vida dele por seus parâmetros ? Que não podia renunciar a vida dele, por você ?! como se você não tivesse reerguido tudo, junto com ele!! Comprometer-se com você é algo que ele não faz. Tá certo que se tivesse dado certo ele teria resolvido o problema de emprego também, por um tempo estariam seguros vocês dois... isto se você aguentasse ficar com ele naquele ambiente...
  - Eu sei, foi por isto que o ajudei até o final mas não fiquei para votar, pois já havia escolhido vir para São Paulo, qualquer que fosse o resultado. Só que ele não sabia. Eu me senti como se o estivesse traindo.
  - Ah, tá bom, me engana que eu gosto. Pára de dar uma de boazinha, de amorosa, bota esta raiva pra fora, minha filha! Você não aguentaria mais ficar lá, sózinha com ele, vivendo a vida que ele escolheu. Ele queria o mundo, com você ou sem você, como ele disse naquela ocasião.Você precisa de coisas que ele não pode te dar! Talvez você também não esteja a dar a ele, o que ele quer.
  - Ufa!Você não dá folga? Parece um grilo na consciência!Fica lembrando do que gosto  de esquecer, porque não sei mais lidar com isto. É tarde pra mim. Fala como se eu fosse desonesta. Você sabe a verdade, é a única que não pode me acusar disto, nunca! Se  sou tola, toda coração, você que é metida a sabida, seja justa, verdadeira e pelo menos, razoável!.
  - Bem, eu vim pra te ajudar a pensar. O mundo "aí fora" não é fácil. Sei disto. Você acha que a vida é melhor a dois, mas viver deprimida também não resolve. Sua mãe, se apaixonou com 70 anos, lembra?
 - Você está pressionando demais ! Eu só queria encontrar a paixão pela vida novamente. A vida é melhor quando a gente pode amar, se entregar sem medo de ser violentada. A vida é tão melhor quando a gente se sente amada, admirada, quando o nosso  homem quer a nossa presença...basta isso, e enfrentamos tudo. 
 -  Pena que ele demonstre isto só quando quer o seu aconchego. Vocês parecem que  ainda vivem no tempo da música do Chico, em que os heróis saíam para as conquistas e adoravam chegar em casa para se aconchegar no ninho das mulheres de Atenas. Este tempo já era! Você quer um companheiro não um herói, e que ele olhe pra você! Tem gente que se adapta a isto e faz um bom arranjo, mas parece que você não conseguiu e se perdeu. Será que não gostaria de alguém mais semelhante a você ?
  - Só queria curtir a vida em paz, com um pouco de alegria, com meu companheiro, e daí? E bem sei que Papai Noel, não existe. Olha pra mim, se lembra como sou? Já fiquei sozinha muito mais jovem e, não sou de sair por aí,  procurando...
  - Acho que você é também uma pessoa “contida”. Dentro de você ,há uma mulher que não encontrou “eco” em muitas de suas demonstrações de espontaneidade para com a vida, e isto está aí, te faz ficar com o sentimento que tenta abafar a todo custo. Você queria ser perfeita, para ele. Esperava que ele pudesse ser, para você? Ainda bem que não se tornou amarga, como muitas! Foi seu coração por guardar ainda a ternura, que não te deixou amargar. Para isto serviu-lhe este coração, minha amada. Quanto tempo ele vai resistir?  Me responde só mais duas perguntinhas e irei embora. Sei que está exausta! Não é fácil ir contra tudo que se acreditava. E não quero te pressionar.
  - Mas eu tenho que me decidir, logo.Se continuar com raiva, seria como traí-lo.Talvez, eu é que seja a pessoa errada na vida dele. Afinal, a moeda tem dois lados.
  - Eu sempre disse que seu coração não sabe raciocinar! Quer fazer como da primeira vez que, quando ele começou a discutir sobre a divisão das coisas, simplesmente saiu, de mãos abanando, achando que não ia precisar de nada, deixando tudo pra ele? Foi orgulho e ingenuidade demais de sua parte! Você não precisa decidir nada agora enquanto não estiver pronta. Respeite-se, preserve-se! É só lembrar que ele, sempre fez só o que achava que estava pronto para fazer e disse, que sempre faria só o que achasse bom pra ele. Faça o mesmo! Quero lhe dizer que agora, é você que só deve se decidir quando se sentir pronta a fazer aquilo que for bom pra você. Vou deixar algo para que pense ...
  -  Já nem sei como vou organizar tudo que pensamos juntas aqui. Acho que vou escrever..ou nunca mais pensar! Esquecer tudo de vez, deletar memórias...
  -  São duas perguntas, vão te ajudar a saber se estará se decidindo ficar com alguém porque sente que ele te ama e, portanto, vale a pena relevar pelo tempo que for e “ apesar de tudo”.. Se você tem razão de estar aqui, no sótão, mais uma vez  “escrafunchando” o baú em busca das melhores lembranças em que se apoiar, me diga:
 - Primeiro imagine que você pudesse ficar, neste instante, 10 anos mais jovem e sua casa fosse vendida hoje, te dando alguma condição de independência , você ainda ficaria com ele, por este amor , que seu coração diz que você tem? Pense antes de responder!
  - Eu sabia que uma bruxa velha como você, ia saber que tenho consciência e ando me perguntando isto. É por causa da resposta, que estou triste! Você sabe que estou  sentindo aqui no estômago, aquela sensação de não ter mais força para "fazer acontecer" ! Sensação de perda de algo que se foi. O amor bonito que eu tinha, que me animava, que me fazia invencível, mulher amante, mais que esposa, que me cegava até, parece estar indo embora... e eu não sei, se choro  por meu companheiro, por mim, ou por este lindo sentimento que está morrendo! É uma vida inteira!! Talvez eu esteja só muito cansada... Se alguém nos visse diria que penso muito e faço pouco...mas não é fácil... é uma vida inteira! 
 - Humm. Não se importe com a opinião de outros. A última pergunta que te faço, antes de ir embora...  Se você ficasse doente hoje, ou precisasse do apoio dele, como ele já precisou do seu, confiaria que ele teria por você o mesmo cuidado que você teve por ele? Você ainda pode me dizer sinceramente que “confia” nele para  fazer o melhor por vocês dois, ou por você, em qualquer situação ?
  - (silêncio)
 - Difícil responder, minha fada? Era de se esperar que, depois destes  anos, se houvesse o amor que você fala, pudesse haver este sentimento recíproco de confiança, não é? Que vontade de gritar para todos: Acorda pessoal ! Você lembra que tinha decidido que isto não iria acontecer com vocês dois ?
 - São 37 anos de guardados neste baú... a família que eu queria manter unida para não repetir o que ocorreu com meus pais; os netos, sabe, foi bom chegar até aqui.
 - Vocês podem continuar vendo os familiares, cada um, separadamente. Ou você pode decidir continuar, mas então terá que perdoar, de verdade ou não será possível. O baú é indestrutível, cada um tem o seu, é necessário saber perdoar. Se você conseguir, tudo bem. Boa sorte!
- Meu Deus. Que sensação horrível no estômago! Chega ! Nunca tive raiva e tanta pena de nós ao mesmo tempo. Acho que antes nunca tinha raiva suficiente, sempre consegui me reapaixonar, e acho que ele achava que eu estava gostando! Agora.....
 - A “paixão” é algo que você tem, aí dentro de você.  Pare de esperar que ele faça o que você quer. Você já sabe que ele não vai fazer. É como eu disse, pegar ou largar, perdoar ou.... Há muito, a situação se repete feito um disco quebrado.. até que você se quebre de vez ? Está bem, não me olhe assim.
  -  Estou velha demais pra ficar sozinha, para recomeçar do nada...Estou com muita raiva de você agora!!
  - Bom sinal esta sua raiva, pelo desperdício, pelo tempo desvalorizado. Pelo menos você está encarando seus sentimentos , enxergando também o mofo que tentava esconder aí no baú, e, por favor, pare de sentir-se culpada. Você já o amou muito, perdoou sempre. Pode finalmente sentir e  mostrar um pouco de raiva, agora, ora esta! Depois virá o perdão e talvez a cura.
      - (silêncio)
   - Vou embora. Antes de descer e sorrir aos seus vizinhos lá no jardim como se nada estivesse acontecendo com você,seja menos fina por favor, e um pouco mais sincera com você mesma, como procura ser com outros. Quero que se olhe bem neste velho espelho e faça o que tinha decidido fazer, há pouco tempo, quando até escreveu um lindo conto : comece a amar a si mesma! você tem que fazer isto, para não se amargar. Perdoe-se minha querida! 
  Olhe para o espelho e, quando estiver pronta para amar aquela que estiver ali na sua frente,ainda estarei te esperando,independentemente de sua escolha... e nós vamos nos reencontrar. Talvez, todas as nossas faces possam ainda ser como a lua, uma só,  minha querida, parte de mim que eu já quis enterrar lá no fundo de mim mesma! Rezo para que você nunca mais queira destruir ou prender aqui no sótão, a melhor de nós, que é você minha fada, e que possamos juntas sair para o jardim!
   E seremos como a lua cheia, a derramar brilho para os amantes! Porque acreditamos no verdadeiro amor e então saberemos que temos vivido por ele, e em busca dele.
   E se um só casal, ouvindo nossa história puder se comover e acordar para viver, nossa conversa já não terá sido em vão, apesar de nos fazer sofrer tanto!
   E assim dizendo, esta estranha senhora, meio fada, meio bruxa, desapareceu!

texto: Vera Alvarenga
foto retirada do Google imagens.

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