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domingo, 9 de novembro de 2014

Voar...para sacudir o peso da terra nas asas...


Quando leio, meio que converso com aquele que escreveu o texto, que mexeu comigo  por alguma estranha razão. Às vezes, nem tão estranha assim. Estranhamento é o que já senti quando li, por sugestão de Sérgio Marcondes ,um amigo do Dihitt, as primeiras crônicas de Clarice Lispector. Não as primeiras que ela escreveu mas que eu tive oportunidade de ler.
   Nossa! Parecia então que sentíamos as mesmas sensações, emoções e aceitação descontente diante de algumas coisas da vida.
  Mas voltando ao que dizia, comecei a escrever algumas de minhas crônicas inspiradas em crônicas de alguns escritores. Não que eu tenha, só agora, começado a fazer isto. Como comentei, já conversava com eles e até discutia, há muito tempo. Só que estou numa fase de escrever sobre o que nossas conversas me inspiram, não mais sobre o que sinto ou meus segredos. É só isto.     Não pensem que copio trechos e idéias, por favor, porque não me atrevo a assinar aquilo que não seja meu, embora saiba, como eles sabiam ao escrever, que nada é só meu ou seu, tudo neste mundo é mais ou menos "nosso" levando em conta os que vieram antes de nós e a forma como estamos interligados nesta trama da vida...tudo vem de algum ponto anterior e então segue adiante. O que acontece é que uma frase algumas vezes me leva a caminhos totalmente diferentes, outras vezes, a uma visão do assunto de um outro ângulo   .
  Certamente eles me inspiram, porque sozinha poderia não ter a idéia de discutir tais assuntos, naquele momento.  E eles me dão ampla liberdade de deixar minha mente voar por estes temas que eles sim, desenvolveram tão bem e eu apenas com eles me distraio. Voar é mesmo próprio de quem tem asas nos pés, como voava Mercúrio, regente do meu signo. E voar em pensamento é natural a quem tem asas atrofiadas como as minhas. Não por culpa de ninguém, não! Atrofiadas porque sou humana e responsável, e não me cabe, nesta condição, voar.
  E eu jamais voaria como as águias, em vôos solitários, nem como andorinhas que seguem o bando num desenho pré fixado, organizado com eficiência e maestria para que tudo corra bem e dentro do esperado.
  Coube-me, contudo, sentir-me livre e libertar aqueles com quem convivi.
  Sou o tipo de asas que ao retornar de um vôo solitário iria logo querer contar o que vi e então insistiria a convidar meu parceiro para o próximo vôo. Estive habituada até agora, a voar somente até as alturas que me possibilitassem voltar aos meus, sempre que ouvisse seu pio. Sempre voltei rapidamente com o alimento no bico.
   Lembro-me como conversei incansavelmente, seja com palavras ou  silêncios com aquele Fernão Capelo, o gaivota! Me impressionou tanto conhecê-lo que fiz até um quadro para ele e o levei à uma exposição de minhas artes, certa vez. Ah! como ele, venho de muito tempo sofrendo acidentes de vôo, desmaios até, quando mais nova, bico amassado, asas estrupiadas, e vertigens, tudo porque também tenho um corpo muito mais pesado do que meu desejo de leveza!
   Gosto de um ninho macio e acolhedor e não apenas do ar. Contudo, preciso dele. Preciso bater minhas asas livremente no ar, e dançar acima de todas as coisas. Acima do barro, da poeira,do cheiro da fumaça que queimou os sonhos e ninhos de tantos, do odor da morte, e até  dos espinhos que por vezes vem junto com a ramagem com a qual renovamos a almofada do ninho, pois que renovar o ninho é exigência da vida, do contrário os fungos, mofo e piolhos tomarão conta de tudo. Não quero voar acima de tudo, por me achar distante ou melhor do que os que aqui estão.
   Sem comparar-me a ninguém, vôo, nem que seja nos sonhos ou na escrita, porque necessito! Porque me pesam minhas asas que sujo na terra onde moro e tenho uma vaga lembrança de que elas já foram muito mais leves, outrora.
   E quando voo, só quando voo, posso sorrir e brincar, e ser tão lúdica quanto era quando tinha meus filhotes e ninguém me observava. Posso abrir meu peito e gritar o amor que desejo, que sinto ou que me falta, deixar toda a luz sair de lá e viajar como raios até o coração do mais confiável dos amantes, ou dos meus mais queridos familiares, e ainda, ser tão sonhadora quanto a mais tola das mulheres...
   Êpa!nem sei porque fiz a comparação...afinal, era de uma ave que falávamos ou de uma mulher???

Texto e foto: Vera Alvarenga

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Até que ponto podemos ir?

Sabe de uma coisa? Por mais delicada ou elegante que eu possa ser, as vezes fico P... da vida!!

Meu marido acaba de receber alta depois de uma semana quase no hospital e na UTI. Teve um AVC !
Saímos para caminhar até o Supermercado...um bom trecho por sinal! Na ida, como é uma subidinha, pedi que fosse mais devagar porque me canso nas subidas. Na volta, vinha eu toda contente pela rua arborizada e vínhamos conversando. De repente ele pára e começa a tirar com o pé, uns galhos de árvore que estavam empilhados sobre a calçada.
Desequilibrou-se por 2 vezes e eu fiquei com medo que caísse e batesse a cabeça. Pedi que deixasse pra lá, a prefeitura mesmo deve ter cortado estes galhos, eu falei, e virá buscar certamente. Mas ele foi reclamar uma atitude do pessoal do condomínio em frente ao qual está a árvore. Não satisfeito, deixou as sacolas no chão e disse que ele mesmo ia tirar tudo dali e tomar uma providência, já que ninguém o fazia!
- Céus! quem é mãe ou esposa compreende como fiquei apavorada! Tentei dissuadí-lo, mas ele é do signo de áries! E foi. E ficou lá abaixando-se e pegando galho por galho dos maiores e levando pro meio da rua, como um protesto! Meu coração que estava feliz e tranquilo com a brisa da tarde naquela descida de rua toda arborizada disparou, claro! ficou pequeno de medo e susto, por ele, por sua saúde!
Será que vale a pena tanta briga e protesto, sem medir consequências para se defender o que se julga certo?    Aliás, sei que ele estava certo em pensar que aquele lixo não podia impedir as pessoas de passarem na calçada, não poderia ficar ali... mas então, qualquer risco vale a pena? E qualquer maneira de se protestar é eficiente? E a saúde que é uma benção que Deus nos dá, onde fica? E a responsabilidade para aqueles que estão aflitos ao nosso lado? e será que a atitude resolveu com aqueles carros todos que num instante formaram fila, buzinando com as mães e filhos que saiam da escola no final daquela rua?
 O homem desceu a rua pálido e quando toquei na mão dele estava gelado. Ele, nervoso falou sem fôlego que fez o que era correto fazer!
Sei não...cada um é livre para fazer o que quiser ( dizem os extremamente independentes) mas, da próxima vez acho que vou ter de deixar ele lá... porque sua saúde pode ser de ferro, mas meu coração tá mais cansado...Ele sempre fez as escolhas dele...eu estou fazendo as minhas - vou respeitar meus limites e até que ponto posso aguentar presenciar certas coisas ou permanecer ao seu lado e ainda manter minha elegância ou meu bem estar.
- Tô pensando... até que parte do caminho vai a nossa responsabilidade pelo bem estar do outro que está a nosso lado?! Sempre acreditei que amar significa também discordar, ou se intrometer quando necessário pois não podemos ficar totalmente frios e indiferentes quanto àqueles a quem amamos... mas, tem momentos que a gente faz o primeiro gesto e até o segundo...rs...para tentar ajudar ou evitar coisas ruins...depois...a gente tem de largar mão e deixar rolar, não é ? Será? Pensemos e escolhamos!...rs... e que Deus ilumine nossas escolhas e nos torne fortes para aguentar as consequências e a incompreensão de quem assistir a nossas atitudes mas não puder compreender...
Texto e foto: Vera Alvarenga
   

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Sonhei que o mundo ia acabar e me coloquei em segurança...

  Esta madrugada tive um sonho...
Estávamos numa emergência! De alguma forma se sabia que o mundo, como conhecemos pelo menos, ia acabar!grandes mudanças iam ocorrer ou sei lá o que! Então, algumas pessoas, como eu, se viam de repente dentro de uma nave, um disco voador do tamanho de um enorme salão. Tinha piso mas desde a altura da cintura e toda a parte de cima era feita com uma película finíssima mas resistente, transparente como vidro, que nos permitiria ver tudo mas nos protegeria ao mesmo tempo que deixaria entrar o oxigênio purificado. Beleza de solução, apropriada para sonhos! para os meus sonhos, que nunca são totalmente catastróficos à primeira vista. Se parte do mundo ia acabar, ali estaríamos a salvo!
 Então eu soube que dentro dele ficaríamos até tudo estar seguro novamente e podermos voltar para nossas vidas. Só que, por uma fatalidade daquilo que, de sonho passa num instante a pesadelo, alguém apertou algum botão errado e sobre minha cabeça começou a fechar-se tudo. Eram 2 portas arredondadas como cabe a um disco voador, de pesado material, da cor verde e que fechou tudo impedindo a nossa visão. O fato de ser da cor verde trazia conforto, porém não resolvia tudo. E por instinto soubemos que, quando acabasse o nosso tempo de puro oxigênio ali dentro guardado, o nosso mundo iria acabar para nós, não importando mais o que ocorresse lá fora....Incrível, estávamos trancados naquilo que deveria ser nossa salvação! ìamos morrer sufocados!( bem realista meu sonho afinal de contas, porque o mundo acaba, de uma forma ou outra, para cada um de nós quando não pudermos mais respirar!)
 Meu sonho terminou no momento exato em que sentia tristeza e uma grande perplexidade diante de duas coisas que, para mim, significavam a maior perda real: - meu Deus! não poderei "ver" mais nada do mundo ao meu redor? e nunca mais fazer amor? nunca mais amar?
   Acho que se não acordasse naquele momento teria chegado à mesma conclusão que reforça o que norteou minha vida.... O que te dá a sensação de segurança e liberdade...é poder sentir o vento ao olhar pra longe e"ver" o que há adiante, seja nos horizontes ou ao redor e, acima de tudo, poder amar! Ou ainda...é poder amar e ainda olhar o mundo ao redor!
  Só nos sentimos realmente condenados a uma prisão que nos limita quando, não podendo olhar para longe nem sonhar o amanhã, também não tivermos junto a nós, o nosso objeto de amor, aquele que nos faz capazes de amar e de enfrentar tudo hoje!
  Contudo, sonhos sempre tem mais de uma interpretação...
Foto e texto: Vera Alvarenga

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Levo-te comigo...


A mesma história pode sempre ter mais de uma versão... eu prefiro esta:
- Amor, não posso levar-te....
- Que pena.
- Mas você sabe que te levarei em meu coração.
- Sim, eu sei.
.....................................................
- Ora, amiga, e como sabes que é verdade? O que ele fez neste momento para convencer-te que te leva no coração?
- Nada. Não foi neste momento que me convenceu!

O sentimento quando é sincero é como um cavaleiro nobre, que se fortalece com sua armadura à prova do tempo, e é coerente com o gesto. E não é preciso ficar pedindo, e pedindo.... ou tentando explicar...

Foto e texto: Vera Alvarenga

Leva-me contigo..

Por vezes vivemos esta versão da história...
- Então, vou me arrumar.
- Não , não posso levar-te desta vez.
- Outra vez? ( "Leva-me contigo para onde fores"... pensou ela, quase pedindo).
- Há lugares que você não pode ir. Você não iria gostar. Compreende, não é?
...........................................
- Então, leva-me em teu coração. ( "Só se me levares contigo em teu coração sentirás que tens liberdade pois meu amor não te aprisionará em momento algum. E só se me levares contigo em teu coração posso tocar-te em alguns momentos, e me sentirei livre ainda que fazendo parte de tua vida. E de algum modo o amor não morrerá. Porque amor é livre opção, mas precisa de contato e cabe em qualquer lugar"....
 -pensou ela, sem dizer porque não adiantava explicar).

foto e texto: Vera Alvarenga

terça-feira, 16 de abril de 2013

Vi tuas asas de esmeralda...

 
Viestes, mas não me deixastes nem uma só palavra. Então, o que ouvi no teu silêncio, não passava do som do meu próprio coração. Tuas asas coloridas roçaram minha pele tão levemente, que só por ser assim sensível pude sentir. Eu sei, nada me querias dar, apenas o que tenho é o que posso imaginar. Então, nem é de ti, é apenas o reflexo, algo do que tenho em minha natureza... e minha natureza é sonhar, é sentir a verdade que há no meu coração, é provar deste mundo o que emociona minha alma... é saber que nem sempre é possível compartilhar.
Voa, leva tuas asas coloridas aos lugares desse mundo... o meu está aqui, encontrei o meu lugar - é onde posso estar... livre mesmo assim, porque não aprisiono as asas do meu pensamento... e planto meu sentimento onde a terra se fizer fértil, mesmo que seja apenas em meu coração.
De lá saem as raízes que, transformadas, alcançam aquele que vem me beijar...
 
texto/fotos: Vera Alvarenga. 
 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O pêndulo...

   Uma vez ele lhe perguntou:
- Você existe?
- Claro que sim, respondeu.
E sabia que existia! porque naquele instante começava a pesar-lhe sua existência. Ela, que sempre tivera asas, vergava agora, diante dele e pesava-lhe  sua simplicidade e mais algumas características que a faziam sentir-se mais concreta e deslocada do que nunca.
   Engraçado como quando a gente se sente parte atuante na construção de um sonho, ou quando a gente ama e se sente amado sem que para isto precise renunciar a alegria que pode acompanhar tal experiência, tudo parece encaixar-se, tudo se torna mais leve, inclusive nós. E o contrário, é consequência de vivermos o momento em que descobrimos que estamos vivendo no mundo de dualidades e opostos. E nele, experimentamos os dois lados da moeda, embora alguns tenham a sorte de descobrir um terceiro. Porque o amor pode ser leve, ou pesado, conforme o modo como se ama ou que se é amado. Por vezes é uma escolha.
   Para ela, era impossível duvidar de sua própria existência, porque debatia-se e por isto, sentia cada limite do seu ser. Isto a tornava bastante concreta.
   Uma outra vez, ele lhe disse:
- Com toda certeza posso afirmar-lhe que você é insubstituível para mim.
  Aquelas palavras eram dirigidas a ela e assim, teve certeza de que poderia libertar seu coração. E logo, era ele que se tornava insubstituível para ela. E quando ele lhe falou que, algumas vezes, a sentia junto a si porque ela parecia adivinhar o que acontecia, sorriu. Porque ela o trazia sempre junto a si, em seu coração, e conversava com ele, e todos os dias dizia-lhe bom dia e boa noite.
   Quando já nada mais esperava, ele era como uma doce promessa, que naturalmente se realizaria em breve, algo que seria como colher o fruto que já está maduro - o melhor sabor, o melhor cheiro - a promessa da leveza de poder ser. Então, ela passou a viver entre o sonho e a realidade, entre a esperança e a desistência, alternando sentimentos de impotência e poder, limite e liberdade - o desejo da liberdade de caminhar livremente, não por estar só, ao contrário disto, por sentir-se plenamente reconhecida e capaz de ser. O sonho parecia mais real do que tudo o mais, porque refletia o que estava nela.
 Chegou o dia em que ela viu que nossa vida pendura-se, por vezes, no pêndulo do relógio do Tempo. E o tempo não parou para ela descer, nem recomeçou. No pêndulo, ora estamos de um lado, ora em seu oposto.
  Agora, era ela que perguntava novamente:
- E você, ainda existe?
Mas não ouvia mais nenhuma resposta.
  E, com as pernas penduradas no ar, sentada no grande pêndulo do relógio da vida, observava. Talvez nunca mais descesse de lá e se adaptasse por fim, ao balanço ritmado. Sentiu a brisa no rosto. Seria o vento que leva tudo? Mesmo que antes ela não acreditasse nisto, reconhecia agora, que era possível que ele tudo levasse. Ainda assim, ela procurava o equilíbrio, mesmo sabendo que o pêndulo jamais pararia enquanto ela vivesse... a cada dia ela o cumprimentaria pela manhã e se despediria, com um beijo, à noite...
Foto e texto: Vera Alvarenga
  

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Corrupião....

 Com o tempo, apegara-se a ele. E tudo nele a agradava. Foi um gostar aos poucos. Cada um se aproximando devagar, com cuidado para não ferir ao outro, não assustar, não invadir o espaço.
 Ela tinha sentido medo. Talvez porque adivinhasse o que estava por vir.
  De vez em quando, podia senti-lo perto de si, mas ele não se deixava ver. Saía antes que ela tivesse tempo para ver a luz do sol entrar pela janela ou, quem sabe, nem estivera de fato ali, mas apenas dentro de seu coração. Por isto o sentia ainda tão próximo a si.
  Quem sabe o assustara naquele dia, ao abrir a janela tão impetuosamente, alegre com sua já habitual presença, desejando olhar nos seus olhos e compartilhar com ele o que tinha nos seus. Quem sabe, foi porque começara de novo a soltar a voz, incentivada por ele, pensando que ainda sabia cantar. Ou quem sabe aproximara-se demais, quisera tocar no que era intocável. E ele estaria bem? Algum menino cruel teria lhe tirado a vida com uma pedra lançada de um antiquado estilingue de mira certeira? Estaria preso em algum lugar distante?
  Se ele voltasse, ela não saberia mais como se aproximar. Teria de ter mais cautela, ser mais cuidadosa do que já era? Isto, então, lhe tiraria a alegria que tinha pensado ser possível. Ocorreu-lhe, pela primeira vez, que apesar de tanto em comum, o mundo deles talvez  fosse demasiadamente diferente. E que a união de dois mundos só valeria a pena se houvesse igualdade no desejo de fazer o outro tão feliz quanto a si mesmo - duas aves livres a aninhar-se juntas num imenso viveiro com portas abertas.  Era preciso ter a mesma natureza. Isto, a vida lhe ensinara. Então, apesar da saudade, agora, tudo estava em paz. Ela nada mais queria ser,do que era, e nada mais queria ter, do que já tinha. Nada mais desejava... a não ser, talvez, ouvir seu canto novamente, só para saber que ele vinha porque queria cantar para ela... e então, por sua natureza, talvez ela ficasse calada e encantada, ao sentir o coração iluminar-se outra vez...
Foto e texto: Vera Alvarenga.

domingo, 1 de julho de 2012

Pra você, esta foto e meu carinho...

Muito já se falou a respeito de amigos e quão diferentes podem ser. Dizem que temos um para cada fase de nossa vida, alguns que ficam, outros que se vão.
Hoje, quis me dar um presente e decidi ter coragem para dirigir até o parque Ibirapuera, a fim de tirar fotos. Queria captar a luz do final da tarde e fotografar à contra luz. Levei meia hora só para conseguir estacionar. Após alguma caminhada e poucas fotos, minha máquina travou, avisando que eu precisava formatar o cartão de memória - era novo. Bem quando o sol dourava o lago! Então, tive de voltar!
Contudo, entre a chegada e o problema com a máquina, recebi um telefonema de uma amiga que gosto muito, desde quando tivemos nossos primeiros contatos. Ela tem uma experiência de vida totalmente diferente da minha. Inteligente, já encarou problemas difíceis que lhe exigiram atitude firme e coragem tanto em sua profissão, quanto na vida particular, mas não é pretensiosa e não pensa que tem as respostas para tudo. Deste modo, não nos sentimos encabuladas por ser o que somos, cada uma de nós, pois sabemos que ambas temos nossos valores. Encontrar momentos de tal interação respeitosa e cuidadosa num relacionamento é algo mais fácil de se dizer, como é moda hoje em dia, do que de se encontrar de verdade. Confesso que, ultimamente, ela e outro amigo foram os raros tesouros que encontrei neste nível e deles, meu coração será para sempre cativo ( mesmo que a amizade não seja para sempre, já que eu mesma detestaria me ver limitada pela "obrigação" de uma eternidade, o sentimento será).
 Ás vezes, com aquele seu jeito de contar as coisas sem dizer realmente com toda a clareza, ela fala comigo e não entendo tudo o que quer dizer. Mas não me importo, e ela também não. Eu pergunto, ela ri e explica, ou então, "deixo por entendido" aquilo que careceria de explicação, quando percebo que o mais importante é traduzir os sentimentos e não o significado de cada palavra. Penso que nosso "encontro" se dá em outro nível - o de um bem querer sincero como o de duas crianças que apenas brincam juntas e se aceitam como são. Nos aceitamos como somos. Ela me colocou um apelido com o qual me chama, algumas vezes, caçoando carinhosamente da minha ingenuidade, a qual aceita e crê, porque pressente que é real.  E por isto, ela me fez lembrar hoje, desta parte de mim mais singela, doce e terna. Me fez lembrar de como raramente podemos deixar estas nossas características virem à tona, sem que tenhamos de dar explicações ou camuflá-las, sem que pensemos que precisamos nos proteger. É muito raro termos tal liberdade, pois a maior parte das pessoas está sempre a comparar-se e a comparar-nos com outras, ou a dizer como seríamos mais "aceitáveis" e simpáticos se agíssemos dentro de determinados padrões, que nem sempre seguem os nossos padrões de valoração da vida.
  Enfim, para ela e todos que consigam aceitar alguém como ele é, e quando discorde dele consiga fazê-lo com o cuidado e respeito que os relacionamentos e as pessoas merecem, dedico esta foto, simbolizando o  encontro de duas pessoas sob o reflexo de tal amizade que proporciona momentos de ouro.
  Minha alma, quando se encontra com a sua, fica em paz. Namastê.


Foto e texto : Vera Alvarenga

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O desejo ...

 O primeiro desejo no momento em que se vai concretizando é como o escravo que, libertado, corre com medo de ser ainda apanhado, antes de sentir o gosto da liberdade. E vai afoito e desenfreado, sôfrego e meio cego,sem destino certo, sem saber até onde pode ir. Vai como barco levado pelas ondas e abençoa a praia onde chegar. Embora cego, contudo, é desbravador de novas terras e delas traz o vírus com o qual, muitos ficam contaminados.
O outro desejo, o que vem do que é conhecido, falo daquele selecionado entre tudo o já por vezes experimentado, o que nos ensinou sobre ter o gosto apurado...deste, a gente quer tudo. Por saber o caminho, vai saboreando devagar e, mesmo assim, com cuidado,porque sabemos que agora, somos escravos da liberdade. E esta é para tudo, até para o que fomos buscar e, surpreendentemente, pode nos escapar no último momento.
O desejo daquilo que experimentamos uma vez ou muitas, e se foram muitas mais marcados ficamos, o desejo daquela experiência do dissolver-nos sem medo, do nos entregarmos à plenitude, este tem alvo certo, e traz em si tremenda contradição. Nos reconhece livres,mas nos leva a uma doce prisão!
A esta prisão ficamos presos por magia, a ela queremos retornar, como aquele que conhece o sabor de doce alimento, ou aquela que sedenta bebeu de fresca fonte. Somos escravos do que não tem nome, mas está na lembrança, na pele, no olhar. Ao lembrar dela, o desejo nasce e volta a arder. Como se no corpo ressurgisse e ardesse  a marca que ali foi tatuada para sempre. E todas as células do corpo guardam em si a memória. É a marca que trazem aqueles que já estiveram livres o bastante para provar do ritual mágico levado às últimas consequências, o que nem a todos é dado participar. Porque é preciso perseverança no tempo, empenho e extrema vontade ao mesmo tempo que, exige grande desprendimento da vaidade quanto ao que se quer realizar.Muitos se iludem nesta questão, e talvez seja melhor assim, pois quem sabe onde chegou, torna-se prisioneiro, como aquele que ouve o canto da sereia ou a mulher que sonha jamais envelhecer. É o querer doar-se inteiro e receber tanto, que se completa. É de fato, uma contradição. No mesmo instante em que não se pode exigir, é que se tem a harmonia e o ritmo perfeitamente combinado, como se fosse ato, durante muito tempo,ensaiado. E ensaiar é o melhor...pode levar anos e anos de prazer.
E, apesar disto tudo, que nos lembra que também e ainda somos corpo e emoção, a razão quer em vão, nos convencer de que, em um momento dado, melhor seria ficar só na lembrança, ou mesmo esquecer, do que desejar de novo e de novo, mergulhar nas águas cristalinas do ser nada e tudo, a que nos leva o ato de amar.
Texto: Vera Alvarenga   foto: retirada do google e modificada.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Asas de andorinha!

Deixou os outros entretidos numa conversa destinada a se estender e da qual não queria participar. Voltou sozinha ao local por onde haviam passado há instantes.
Ia tirar as últimas fotos.Com esta desculpa, afastou-se de mais uma provável discussão.
Discutir democraticamente, faz parte do pensar. Contudo, há ocasiões em que isto é um sacrilégio, quando situações,como este passeio, são criadas exatamente para que se possa sentir momentos de paz.  Por que as pessoas precisavam resolver suas diferenças de opinião, justamente quando tudo estava bem, e em meio a uma paisagem linda como aquela? Por que não relaxar? Talvez seja porque a vida não pode esperar e, cada um tem suas prioridades. Por isto ela respeitou, mas se afastou.
À sua frente, o mar estava azul, lindo, brilhando à luz do sol de um final de tarde.  
 Tirou fotos. Tinha medo de altura. Aproximou-se do barranco, mas guardou uma distância segura. Ùltimamente, desejava sentir-se em segurança. Segurança era o que aquele local devia representar no passado, afinal era um "Forte". Ela, porém, não queria a segurança das armas. Hoje, ela queria voar.
   Atrás de si, sabia que estavam suas coisas já conhecidas, alguém mais forte do que ela, pessoas que amava,o mundo ao qual ela pertencera até então.
   Olhou para o horizonte distante. Sentiu o vento no rosto. Ah, se tivesse asas!
   Voaria, e alguns dos seus iam finalmente admirá-la por ousar conquistar novos horizontes? Antes lhe bastavam aqueles que seu olhar alcançava! O que haveria para lá daquelas montanhas, para lá de onde seu olhar podia alcançar? Sentia-se em paz como quem já cumprira sua missão.Todos que amava tinham sua própria vida, encaminhados, cada um por sua própria conta,cumprindo seus destinos. Ela bem que poderia voar dali, com sua máquina fotográfica, antes que o cansaço a vencesse.
   Ora, quem não gostaria ? Voar, e voar. Alguns prefeririam voos solos, outros, conquistar alturas, outros ainda sentiriam o prazer em vencer os desafios dos ventos,das distâncias. Ela não. Ela queria apenas se encontrar, em si, mas também, no outro.Aves não fazem voos sem planejamento, sem intenção, sem direção. Ela também não.
   Quem estaria lá, do outro lado daquelas montanhas no horizonte distante? Sim, era distante, distante por demais. E ela ainda seria a mesma, buscando o mesmo. E, com certeza, não era a liberdade para atravessar sozinha aquela imensidão azul! Não eram as conquistas de liberdade para altos vôos solitários que lhe dariam prazer ou significado. Suas asas não teriam forças! Não, certamente, não. Sem o vento para ajudar, sem pontos de apoio em meio ao caminho, sem outras asas a bater a seu lado, ou um olhar à frente a lhe inspirar? Isto seria aventura para aves solitárias, águias talvez, que quisessem voar apenas a grandes alturas. Ela gostava de voar e depois sentir o imenso prazer de planar, como as gaivotas, para experimentar a imensidão e sentir o vento,mas o ninho tinha de ser confortável, seguro e próximo. Não temia a solidão dos momentos de intimidade consigo, mas como as andorinhas, queria saber-se acompanhada por outra ave semelhante a ela, que experimentasse o prazer de uma especial companhia durante os vôos .
   Se tivesse asas, talvez hoje ela se arriscasse... e cometesse um crime contra sua natureza de andorinha.
   Ah, por isto Deus não lhe dera as asas de uma águia!
fotos e texto : Vera Alvarenga

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Aprender a nadar,aprender a viver...

   Como era bom estar na água novamente!
   Final de uma tarde muito quente. A água estava na temperatura ideal. Envolveu seu corpo, proporcionou prazer. Conseguiria atravessar a piscina? Há meses que não nadava e mal havia aprendido! Ainda tinha medo. Uma vez, engoliu um pouquinho de nada de água mas como não dava pé, tossiu, se engasgou, foi horrível. Não queria lembrar. Não podia lembrar, ou não chegaria do outro lado! Afinal a piscina não dava pé, a não ser no início...ou no final de todo esforço.
   Deu uma braçada e mais outra. Estava indo bem.    
   - Engraçado isto! No início as coisas são fáceis, não parecem oferecer risco.Sim, era uma armadilha, sedução, um convite que parecia levar à ventura desejada, mas então no meio do caminho, tudo ficava mais difícil, quase impossível. Ela tinha certeza de que não dava para desistir...tinha que chegar até o final. O final, apesar de tudo,sempre traz uma possibilidade de sucesso e é seguro novamente, mesmo quando tristemente for apenas o final. Mas é preciso chegar lá, ver a linha de chegada claramente, ver as possibilidades. É impossível ficar em luta o tempo todo, para se manter na superfície e não se afogar...calma...mais um pouco, mais um pouco e você consegue.
   - Nossa, como isto cansa, vou desistir... seguro na borda,descanso e saio daqui. Respiro aliviada, no meu ritmo, volto para minha rotina e pronto. Não, não posso! Concentre-se. Sinta o corpo, pense nele, na sensação boa que vai ser poder entregar-se sem medo. Como é bom isto!
   Ela pensou nele. Por que não? Serviria de incentivo. Fazer algo bom para si mesma, a fez lembrar dele.
   - Dele quem? Do corpo? Atenção, calma, respire... Pra que fui inventar isto?
   - Ora porque é bom! pense, como é gostoso sentir o corpo cheio de vida, fresco...
   - Quem é gostoso? Ele ou o corpo? ou estar com ele?
   - Nada disto, estar aqui! Quase se engasgou...teve vontade de rir de si mesma. Valeu! O escuro da raia demarcada, dos limites estabelecidos, tinha terminado. Então, faltaria apenas mais uma braçada, duas e ...
   Não aguentou, parou antes do final. Frustrada,tirou a cabeça da água, como se há muito não respirasse! e respirou como para se devolver à sua própria vida. Ar é pensamento,raciocinar... precisava respirar devagar...recobrar o controle dos sentidos, acalmar seu coração que disparava quando nadava e também ainda quando pensava nele. Pensar nele ainda a fazia sorrir dentro de si. Sentiu-se frustrada. Não queria desistir. Disto não! Mas não queria fazer feio, engasgar, passar ridículo... Ora, para o inferno seus medos! Olhou para frente. Piscina quase vazia. Liberdade para tentar, errar. Como era difícil aprender a nadar ( e a viver!), como era difícil coordenar a respiração, o racional, com a água, tão teimosamente macia e perigosamente emocional! Contudo, valia a pena. Se conseguisse  sentir-se segura, se pudesse entregar-se totalmente a ele, sem medo...
   - A ele quem?
   - Ao coração, ao corpo, ao amor... juntar tudo e ela mesma, à vida, à emoção, à água... seria tão bom.
   Respirou fundo, procurou o salva vidas, estava lá, lá longe. Colocou novamente nos olhos o que a faria enxergar melhor dentro de tanta água, tanta emoção e foi, entregou-se ao seu exercício em busca do prazer de viver! Mesmo que tivesse de aprender a nadar sòzinha!

Foto e texto: Vera Alvarenga
   

terça-feira, 10 de agosto de 2010

MULHERES QUE NÃO SABEM COMO DIZER “NÃO” -


 Algumas mulheres tem dificuldade com esta palavra(confesso ser uma delas). Ela fica engasgada, às vezes na garganta, e não a podemos dizer, por medo, por falta de apoio de uma sociedade que se cala, ou simplesmente pela convicção de que temos a missão de sermos apaziguadoras, o que nos faz parecer permissivas demais.  Penso que, isto acontece principalmente àquelas, de minha geração, que não tiveram oportunidade de treinar ser auto-afirmativas! E como sê-lo? É preciso preparo, ter condições de apoio... não podemos simplesmente sair dizendo não, de repente, depois de tanto tempo convivermos com limites impostos por crenças e por um tempo em que fomos educadas, desde pequenas para sermos obedientes, cordatas, responsáveis pela manutenção da harmonia em nossos lares e no trabalho! Antes a mulher tinha que escolher entre o não e a família, e muitas vezes, entre esta palavra e seus significados, e o sonho de lutar por um amor maior que tudo! Sim, é verdade. Era nossa, a responsabilidade de entender que à mulher caberia o “colocar panos quentes” e o priorizar os valores espirituais, evitando provocar discussões simplesmente por questão de vaidade do ego, ou de mostrar que se tem razão. A mulher não precisava ter razão, mas tinha que ter força o bastante, para tudo o mais! À mulher não cabia a negativa. Foi nos ensinado, com exemplo e palavras que, quando um homem dizia “não”, era próprio dele, e, se tivéssemos certeza de que isto era impróprio, então teríamos que ir “com jeitinho”, e tentar com calma e carinho, fazê-lo refletir melhor sobre aquele assunto, para decidir se não valeria a pena se flexibilizar. Era nossa a tarefa de pensar, ponderar e da diplomacia.
   Estas três letrinhas podem parecer uma palavra dura demais, dependendo das circunstâncias, do modo como é dita e da sensibilidade de quem a usa ou ouve. Esta palavra nos ajuda tanto a nos proteger, mostrar nossos limites, esclarecer intenções, como a reconhecer o limite do outro,quando não o conhecemos ou mesmo, quando insistimos em avançar os sinais, que talvez já tivessem o mesmo significado, mas que não haviam ficado bem claros.
     Dependendo do histórico de vida e de seu modo de encarar frustrações, algumas mulheres tem dificuldade em aceitar, ouvir e receber este “não”, porque não sabem lidar com a frustração... Entretanto, não é sobre isto que quero comentar hoje, mas sobre a dificuldade que muitas mulheres, de minha geração encontram, para DIZER esta palavra tão difícil de ser dita, mas igualmente necessária. E isto ocorre, por vários fatores, mas principalmente por falta de exercício desta arte – a arte de dizer “não”, com firmeza e tranqüilidade! E, na minha opinião, isto está ligado a auto-estima e à auto-afirmação, que mulheres da geração atual, estão, finalmente, podendo aprender a exercitar.
     Evidentemente, este exercício significa que a mulher deve estar preparada, inclusive financeiramente, para arcar com os riscos e responsabilidades que isto implica. A maioria das mulheres de minha geração, não está! Mas estavamos preparadas para educar melhor nossos filhos,as filhas e netas, com pequenos exemplos dos primeiros sinais de uma maior consciência de nossos próprios limites e de que, não conseguiríamos ser para sempre violentadas, de diferentes maneiras, por uma sociedade que nos impedia a liberdade de aprender e usar esta palavra. A mulher precisa ser educada para se proteger, inclusive contra a violência da qual tanto se fala hoje e o uso da palavra, junto com a atitude de negar-se, é fundamental. Mesmo que a gente ainda queira manter a paz e a cordialidade, e bem por isto, aprender a dizer um “não” requer coragem, mas pode significar um largo passo em direção a uma sociedade mais consciente e humanitária. E, em conseqüência, mais feliz para todos.      
   Ouvi um relato de um policial, que muitos crimes e violência seriam evitados, se as mulheres ouvissem sua intuição e se sentissem seguras para dizer "não"! Outros abusos não físicos e prejuízo emocionais, frutos do uso que a sociedade faz da mulher e da família, também diminuiriam, pela educação da mulher a liberdade de decidir negar-se!
     Homens e pais conscientes disto, não os trogloditas do passado, certamente saberão apoiar e educar suas filhas e mulheres amadas, quando estas estiverem dando os primeiros passos para aprender o uso desta palavra, pois com isto, todos estaremos juntos aprendendo a construir um mundo mais justo e impedindo a violência e preconceito, em diferentes graus. 
texto : Vera Alvarenga
foto: pode ter direitos autorais - tirada de email recebido pela internet

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