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sábado, 5 de outubro de 2013

Gandalf


- Mentira! é mentira!
O que foi Gui?
- Gato não tem sete vidas! o meu morreu!
Como foi isto?
- Ele pulou lá de cima, vó. E a gente tinha colocado tela de segurança!
- É. E ele pulou por cima do vidro, você acredita? Disse a Lalá, chorando.
Sabe, crianças, esta história de que gato tem sete vidas, é só um dito popular. É uma frase que as pessoas repetem, e repetem.
- Por que?
Tem duas histórias. Uma é bem interessante. Uma vez, há muito tempo atrás, algumas pessoas acreditavam que os druidas e algumas mulheres que viviam isolados perto das florestas e rodeados de gatos eram bruxos. Eles faziam chás e remédios caseiros para tentar curar as doenças e também faziam outras coisas que as pessoas achavam que era bruxaria. Naquele tempo começaram a dizer que o gato preto era coisa de bruxa e até quiseram matar todos eles...principalmente os pretos! mas não conseguiram porque as pessoas que amavam gatos,continuaram a criá-los escondido. É claro que a quantidade de gatinhos diminuiu muito, mas como eles sempre reapareciam, então começaram a dizer que tinham 7 vidas. E sabe de uma coisa? Depois que diminuiram os gatos, os ratos negros aumentaram muito de quantidade e a Europa sofreu com a Peste Negra.
- Que é isso?
Foi uma doença causada por uma bactéria que morava na pulga dos ratos. Muita gente morreu, dizem os historiadores que foi porque não havia gato suficiente para comer os ratos...
- Nheca....mas o nosso Gandolf não comia ratos, vó!
Eu sei, os gatos de hoje que moram em apartamentos,não precisam comer ratos.
- Ele era nosso companheiro, vó. E qual era a outra história? perguntou Gui.
Bem, é que, como eles tem uma grande capacidade de escapar com vida de situações perigosas, e podem pular de um muro não muito alto até o chão sem se machucar, o povo começou a dizer que eles tinham 7 vidas.
Queridos, então vamos fazer um enterro simbólico pra ele?
-Como vó?
A gente pega uma caixinha de fósforo vazia, vocês escrevem o nome dele em um papel, a gente coloca ali dentro da caixinha. Depois a gente vai lá em cima e enterra a caixinha em baixo da amoreira, que tal? perto daquelas florzinhas azuis. E a gente fala um pouco sobre ele, sobre como ele era engraçado com aquele jeito de andar... e faz uma homenagem.
- Mas eu queria chorar. Tô com saudades.
Claro que pode chorar também.
- E pode cantar na homenagem?
Pode, é claro. E dizer a ele que ele sempre vai existir na nossa memória, nas fotografias e no coração. Deixa te dar um beijo Lalá! E você também, Gui. Pronto, vamos fazer esta homenagem. Chama o papai e a mamãe.
Eu já sei o que vou dizer sobre ele.
- O que vovó?
Que ele era o gato mais fofo e bonito que conheci!

Texto em homenagem ao gato dos meus netos, o Gandolf (corrigindo...rs...Gandalf).
Informações retiradas do blog :http://www.muitointeressante.com.br/pq/perguntas/como-surgiu-a-historia-de-que-gatos-tem-sete-vidas
Foto e texto: Vera Alvarenga


domingo, 3 de fevereiro de 2013

O telefonema

  Estava passando, distraída, ao lado do telefone, quando algo acordou-me do tédio que não costumava sentir, mas agora me visita. Telefonei. Ninguém imagina como me custa fazer um telefonema. Telefonar foi um hábito que não criei. Foi uma conversa rápida. Apesar do assunto, ao final terminamos sorrindo como geralmente terminam as conversas de pessoas que se ouvem e se gostam. Do outro lado, alguém de quem gosto bastante contou-me, entre outras coisas, que uma tia distante morreu.
  A tia era bastante idosa e sua morte fora prevista várias vezes, com direito à visita e preocupação , por um ou outro parente. A todos porém, e à própria iminência da morte, a senhora idosa havia enganado. Alguns familiares mais jovens foram-se antes dela que, teimosa, permaneceu por quanto tempo ainda quis. Contudo, ela agora se fora. E como em outros casos, talvez a morte já esperada, não se tenha tornado o personagem mais importante desta história, mas sim, os figurantes que trazia consigo, o cenário que deixava à mostra, o que fazia refletir sobre a vida. Como por exemplo quando marcava um encontro de familiares que já não tinham mais nada a ver uns com os outros, se a amizade houvesse se acabado.Talvez o sentimento nem tivesse resistido verdadeiramente, também em relação àquela que acabara de morrer, por todas as vezes que alguém se sentiu como que traído pelos falsos anúncios daquela visita, que mais dia menos dia, bate à porta de cada um de nós, mas se demorava a levar a velha. Ela enfim, se foi. Quem sabe cansou ou se encheu de tédio.
  Tédio não faz bem, engorda, prejudica o coração e tira o gosto doce da vida. Tédio, o companheiro dos solitários, dos que vivem silenciosamente ou dos que, na ausência do sentimento recíproco de amizade, perderam o caminho que os levava aos momentos mais espontâneos, simples e vívidos que animam o viver. Mesmo que gostemos de nossos momentos de solidão, tem gente que se perde um pouco, se não conseguir ver-se refletido nos olhos de outro. Não é certo nem errado, apenas existe gente que é assim. Evidentemente, sempre há os que digam : - Que se encontre então! Que se salve e por si mesmo descubra a vida! Seria o ideal. Ideal, é quando a razão pensa que sabe o que fazer, mas o resto não acompanha.
Só sei que, quando desliguei o telefone, estava sentindo-me mais viva.
   Incrível o poder que tem uma rápida conversa entre amigos que se gostam. O poder de desatar os nós, até das tramas mais enroscadas de um casulo. Mesmo daquele em que se esconda o mais tímido e comodista animalzinho. Não é culpa de ninguém, nem minha porque conto esta história, eu, que gosto de casulos apenas para me aconchegar. Nem é culpa de quem, já sendo dado à quietude e, ainda mais, não tendo com quem conversar suas próprias falas além de ouvir as do outro, acaba por penetrar no casulo que, se algumas vezes aconchega, ao mesmo tempo, aquieta em demasia.
   Lembrei-me de um amigo com quem conversava de vez em quando. Para mim, era algo raro e precioso a que me permiti. E conversávamos pouco, coisas tolas ou importantes. A gente tem necessidade de ter alguém com quem possa conversar coisas simples, comentar sobre nossos pequenos desejos ou iniciativas que planejamos ter, contar pequenas vantagens. Um amigo que acredite em nós e nos ouça, só por isto nos encoraja e anima. Eu, que por muito tempo pensei que amizade fosse algo precioso mas secundário se não viesse junto daquilo que tivéssemos julgado ser o maior objetivo de nossa vida, hoje sei que não é bem assim.Tenho certeza disto. Hoje me falta o amigo. E ele, apenas por existir, me animava. E quando a gente se anima, acredita em si, faz planos.
A vida passa tão rapidamente. Dura tão pouco! Quanto tempo dura a vida quando se pensa na eternidade? A vida é um bem precioso. Um bom amigo também. Sinto muita falta.   
   Mas tenho a vida. Ouço a voz que conversa comigo. Ainda sou eu, ela dentro de mim, a me fazer companhia. E ela me sacode às vezes, me compreende outras, porque me conhece, me abraça e concorda comigo quando penso que tem de haver alguém superior a nós, a nos dar um sentido maior, a nos consolar quando descobrimos nossas fraquezas. E, de vez em quando ela me convida... – Vem, passa um baton, vamos sair um pouco deste casulo! Eu te faço companhia...  
Foto retirada do Google
Texto:Vera Alvarenga 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Um sentido para a vida...

   Diante da morte, quando perdemos alguém que amávamos, difícil seria não pensarmos, de uma forma ou outra, no sentido da vida, desta que aqui conhecemos. Não só da morte, mas do espanto. Quando estamos em um dos extremos, a morte ou o que nos cause espanto pela visão de algo incrivelmente belo da natureza, pensamos na existência de Deus. Pensamos ou sentimos. Mais sentimos do que pensamos...
   E nestes momentos, as discussões filosóficas e religiosas não nos consolam, mas nos mostram como, há milhares de anos, buscamos o sentido maior das coisas. Tudo e a única coisa que traz consolo diante do nosso medo e espanto é a fé. E tudo porque temos medo. Se o medo nos leva a Deus, se muitos dizem que se não houvesse o diabo, o medo e a dor, não iríamos tão ansiosamente em busca do nosso Deus que nos salve e justifique tudo o que nos parece sem nenhum sentido, como a morte de um filho ou outro ser amado, também o belo nos leva até Ele.
   Porque certamente conhecemos, de nosso futuro, o que mais nos assusta - que morreremos brevemente - temos o medo, o medo da dor, e mais ainda o medo do vazio, da perda de sentido para o que somos, o que vivemos e a própria vida, em si mesma.
   É por isto que diante da guerra, das atrocidades, das calamidades, das tragédias precisamos do consolo da fé. Mas também quando temos um daqueles momentos de espanto e admiração diante de uma flor ou da magia e encanto da enorme variedade de fragrâncias, formas e cores de tantas delas, ou ainda diante de uma paisagem como fiordes, ou simplesmente árvores e um cisne refletidos em um maravilhoso lago ao por do sol alaranjado, pensamos que a existência de um Deus de todos os deuses, o único verdadeiro, tem de ser inevitável. E que seja uma certeza, para nossa sorte. E que não seja um Deus apenas energia, mas um que pensa, nos vê e nos ama. Só isto nos consolaria e justificaria a vida e a morte. Só a fé neste Deus inexplicável mas real, silencioso mas presente, que não interfere mas nos ama e conhece o que está por trás de tudo, nos consolaria diante do anseio por sentido, do nosso desejo de que toda a cor e tudo o que existe de bom e extremamente belo deste lado, seja apenas um reflexo das possibilidades que há no pensamento Dele e em sua criação, e do que possa existir lá, onde Ele não se materializa no mundo de opostos, mas é tudo, sem começo nem fim. Pensar que somos parte dele e que, aquilo que criamos aqui pode ser um reflexo infinitamente menor do que são as possibilidades nele, nos devolveria uma gota de grandeza e de humildade. Mais uma vez dois opostos pois somos hummanos e este é o nosso mundo.
    Só diante de um Deus de amor e verdadeiro podemos entregar nossos filhos e nossos amados... e a Ele, daríamos graças por todo o belo e bem que é possível...

Texto em solidariedade aos pais, familiares e amigos dos 236 jovens mortos no incêndio deste final de semana numa boate no Rio Grande do Sul, e para todos que pranteiam seus entes queridos sem ter ainda encontrado consolo.
Vera Alvarenga. 

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sobre a morte...

 Quantas lágrimas a gente já chorou diante dela?
 Quantas vezes nosso orgulho se desfez diante dela?
   Ela vem por vezes tão inesperadamente, que a gente nunca sabe o que esperar dela. Algumas vezes é tão estúpida, injusta, outras vem de manso e a gente está tão triste de ver aquele que ama sofrendo que chega a bendizê-la. Sei que ela é necessária, de algum modo para renovação de tudo que há neste mundo. Mas de qualquer modo, é inexplicável sempre para mim. E ela sempre vem, infalível, eficiente, inadiável, cumpre seu papel e se vai, sem direito a apelação, sem emoção, sem nenhum sentido para quem fica. Daquela fonte, não podemos mais beber,daquilo que morre não poderemos mais nutrir a vida que há em nós.
   Quem fica é que cai de joelhos, chora rios, ou esconde tempestades no peito. Quem fica é que sente toda a incoerência de estarmos aqui, ao mesmo tempo que percebe como é necessário refletir no modo em que vive a vida, enquanto aqui estiver. Porque quando ela vier, tudo que conhecemos se acabará e não sabemos, de fato o que virá.
   Sim, eu sei, alguns sabem, ou assim acreditam. Que sorte a deles! Eu ainda não sei, procuro crer, há momentos em que realmente creio e outros em que sinto que é melhor nem pensar a respeito porque não posso aceitá-la, a não ser através de minha fé ou crença, que construa para mim, o que me salvará do medo que tenho dela. Porque ela é implacável e soberana, e tão superior a tantas outras verdades relativas, que iguala a todos nós, de todas as raças, de todas as crenças, de todos os amores. Ela vem e acaba com qualquer dúvida, e mostra que enquanto existirmos, ela existirá, e tá acabado!
Por isto, prefiro nem pensar nela e tenho de desprezá-la. Não me entenda mal, por favor, senhora, reconheço sua soberania sobre tudo e todos que conheço, sobre o reino fincado neste solo de tantas mães gentis, e até por isto, e por reconhecer-me impotente, deve desviar meu olhar de si e seguir em frente com sua opositora, feliz da vida enquanto posso sorrir e esquecer-me de sua existência. Perdoe-me por isto, mas é o que posso fazer... levar comigo em meu pensamento, nas boas lembranças, todos os que a senhora levou para não sei onde. É o que posso fazer, o carinho que lhes posso dar. E minha fé em que um dia vou reencontrá-los de alguma forma, sei lá como e isto nem importa, é o que me consola. E lembrar que temos tido pequenas evidências de que, o que vai consigo não é tudo o que temos, e mesmo o que levará um dia de mim não será tudo o que sou, me traz certa tranquilidade ao coração. Só assim, apesar da dor que fica quando perdemos alguém, só assim podemos imaginar que um dia, humildemente estaremos de alguma forma pisando em sua cabeça com algo que será eterno, mas reconheceremos então, que a senhora fazia parte apenas complementar no mundo de opostos, do que a gente chamava de vida! Quem sabe a Vida tenha sido mais esperta e numa tática do preservar o sempre existir, tenha se dividido em duas e, apenas uma de suas partes veio se colocar neste mundo de dualidades de igual força. Assim é que vida e seu oposto seriam apenas uma ilusão, apenas reflexo de uma vida perene. Como seria isto? Evidentemente não espera que eu lhe responda,não é senhora? Afinal, esta é a parte de mim que também não compreendo, mas que, ao contrário de si, ela não se dá a conhecer e ninguém que eu saiba conhece seus segredos. Por isto, não há o que possa destruí-la, perca as esperanças!

   Que os que perderam seus queridos possam ter alguma tranquilidade no coração e jamais desistir de viver a vida de modo a transformá-la numa benção, enquanto for possível beber desta fonte.
Texto e fotos: Vera Alvarenga   

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Onde está ela?

   Me sinto doente. Disfarço para que não tenha de explicar o que sinto e porque. Talvez eu esteja como que suspensa no intervalo antes da cena final e perceba que esqueci as falas! Não sei se o que viria a seguir era o momento da virada onde a vida sairia vitoriosa, ou se tudo acaba com a morte.
  Sei que perdi parte de mim, talvez para sempre. A que foi, perdeu-se na estrada,não foi encontrada nem encontrou por si, o caminho de volta. Foi pura e ingenuamente de encontro ao desconhecido como sacrifício feito pela virgem que acreditava que seu gesto de amor salvaria os iguais a ela. Timidamente, levou consigo a alegria que também me animava. Mesmo ingenuamente, ela roubou-me algo de valor.
   Eu fiquei. Sinto sua falta. Esperei a cada dia que ela, encontrando enfim seu destino, viesse me buscar. Eu fiquei vazia dos sentimentos que ela levou consigo e,  fiel a ela, fui me distanciando mais e mais do que me cerca. Eu, que costumava estar inteira em cada lugar, estou em todos os lugares e já não estou mais em lugar algum. Porque eu fiquei, mesmo estando com ela. Por vezes me sinto oca, como se ela houvesse levado o que me pertence. E sem ele, o ser que sou já não é nada. Ausenta-se para fingir que é. A cada noite, embora sabendo que ela perdeu-se, chamo-a de volta. A cada manhã acordo pensando que ela voltou, só para perceber ao longo do dia, que ainda não estou plena.
  Então, na frente do espelho, jogo água em meu rosto para acordar-me, e com o toque frio e real me faço o mais consciente que possa de mim mesma, e do mundo que me cerca.
  - Deixa de ser egocêntrica! Olha para o lado, vê como antes, que outros sofrem mais que tu! mas cuidado, não te faças tão consciente que acabes por dirigir o olhar para si mesma, pois que então verás que tua tristeza é porque não tens mais teu coração...
Texto: Vera Alvarenga
foto: retirada do google images.

sábado, 8 de outubro de 2011

Vim apenas lhe abraçar...

 Ela sabia que ele estava lá,em algum lugar,mas há algum tempo não recebia notícias. E naquele dia, quando ela já ia partir,com os ventos da primavera, as recebeu. Vieram nas asas do pássaro que entrou pela janela. Seu coração encheu-se de felicidade e o sorriso apoderou-se de todo o semblante.
  Mas o pássaro estava machucado, debateu-se  um pouco antes de sair em seu voo novamente silencioso e cansado. A saudade, que antes tinha sido sua companheira algoz e transformara-se há pouco em oposta alegria, logo vestiu-se com a palavra fria que não consegue descrever os sentimentos, como um abraço ou o olhar melhor fariam. E, como estátua, agora congelara e continha dentro de si, o impulso da vida, pois diante do oposto que lhe foi revelado,era o que lhe cabia. Nada podia fazer para evitar que ele sofresse. Não tinha o poder de protegê-lo, nem ele viera para ser protegido. Encontravam-se como sempre, por algum motivo que não ficava claro, além do querer bem, apesar de tudo e da distância. Quantas lágrimas ele tinha chorado outra vez e ela não pode enxugar? Era assim a vida.
 Mais uma vez, ela o abraçou ternamente. Isto, às vezes, bastava. Contudo, neste período das chuvas de primavera, gostaria de tomá-lo em seus braços, curá-lo de seu ferimento, ou quem sabe, ambos se curariam do que quer que ali houvesse que os machucava de maneiras distintas. Sim, ela também queria ser tomada nos braços, mas não por um momento. Apesar de saber do caráter efêmero de tudo, o que a curaria tinha de estar vestido da certeza do que é verdadeiro por estar ali para se realizar em gestos e olhar...como se fosse para sempre. Só o despojamento das vaidades e a disposição para viver o eterno, seriam capazes de curar os espíritos feridos pela morte, em suas diferentes roupagens. Era sonho. Talvez se encontrassem apenas para darem-se este abraço dos que sabem que não serão julgados.
Antes de sair, ele pediu-lhe um sorriso para lembrar-lhe de que a vida continua... e ela, ao fazê-lo pensou em como isto era difícil quando aquele que amava inconsistentemente do modo como era possível, sofria. Assim, ela aprendeu na carne, porque alguns amam e apesar de tudo, não conseguem proteger o outro. Era um desafio mais uma vez sorrir de encantamento, quando o que parecia realidade era oposto ao que parecia sonho. Por isto ela sabia que era impossível para o ser humano deixar de sonhar. Por isto ela permitia que sonho e realidade se confundissem, por vezes...
Fotos e texto: Vera Alvarenga

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Amanhã, será um dia único!

 Devíamos ter coragem de proteger o que é mais delicado em nossa alma e não envelhece.
 Como a pequena fêmea do beija-flor não desiste de experimentar o doce da vida, apesar de ser como é, a cada dia percebo com mais calma e mais claramente que preciso investir em meu sonho.
 - "Ah! então continuas a sonhar, confias, e deixas para um futuro. És incorrigível!"
 - Não, meu sonho não é mais para o futuro, para uma viagem a Paris, Áustria, Holanda, ou para resgatar a felicidade que o relacionamento deixou sempre para colher num dia, talvez. Ou para aquela viagem de navio que um dia, alguém que eu amava muito, para minha surpresa me disse que faria sem mim, porque lhe disseram que viagens assim não eram boas para pessoas casadas. E o som daquilo feriu meus ouvidos como nota aguda e desafinada para a qual me ensurdeci, porque não soube lidar com a decepção que causou aquela verdade que eu não quis compreender - a de que não era preciso que ele me protegesse contra algo que desejava para si, de tão bom que era. Meu sonho é o de ter renovada minha fé em que eu mereço ser feliz e receber de quem diz que me ama, as melhores coisas, só até logo mais. E logo mais está muito próximo, chega com a manhã do dia seguinte.
Como próxima está a morte, portanto, o futuro, não me ilude mais.
- "E o dia seguinte não seria o mesmo de um futuro distante?"
- Não. Porque começará pela manhã, logo após esta noite, será meu primeiro dia seguinte. E eu  quero dele, grande parte para meu sonho. Quero talvez o dia todo de cada dia seguinte. Quero-o único, porque quero viver um dia de cada vez, no ritmo que me for possível, às vezes com calma, outras com intensidade. E nele, quero criar e dar minha atenção a um único momento de paz e felicidade que talvez dure o dia todo ou o pouco tempo que tem para durar. Que este dia me dê a certeza de que valeu a pena tê-lo vivido e de que sou única. Reconhecer-me deste modo, será uma experiência nova. Quero buscar com o olhar um instante de beleza, seja num gesto ou onde a possa encontrar. Disto, não posso abrir mão. Foi preciso me decidir. Não sei exatamente como farei para despojar-me das crenças que não eram minhas, mas vou começar amanhã, porque cansei de dar atenção ao que me faz triste. Muitas vezes, o que vemos na atitude do outro, não é algo dirigido pessoalmente apenas a nós, mas a maneira como vê o mundo, são suas crenças, não as quero todas para mim. É trabalho árduo este, pois desde pequenos somos fortemente influenciados pelos gestos e olhares dos que são fundamentais em nossa vida. O primeiro passo, penso que é distinguir e então filtrar, a bem de nossa felicidade, o que não serve para nós.
- Quero poder sorrir por um momento, mesmo sozinha. Melhor ainda, como é de minha natureza, será dividir esta alegria com quem deseje o mesmo que eu. Imprescindível, contudo, é reconhecer quando algo não está a nosso alcance, nem depende do que somos e então, resolver a questão como fez a inteligente raposa, que se afastou pensando que aquelas uvas estavam verdes e, em seguida foi procurar alimento de outra forma. E assim, de qualquer maneira, que a alegria ou riso de cada dia lave minha alma, porque sei agora com certeza que meu espírito, como os demais, de fato, não envelhece. Já percebeu isto?
 - Quero um instante de ternura, neste meu único dia seguinte, que começará logo mais, depois desta noite. E esta ternura me fará lembrar com orgulho que não sou rocha nem vegetal, mas mulher, e só comparável à delicadeza de uma flor, mesmo apesar de tudo e dos limites que possa ter, aos seus olhos ou aos meus. Eu quase me esqueci disto!
  - E no fim deste dia único, mesmo que tenha sido difícil,quero saber que teve seus momentos especiais e que nele,  fiz as melhores escolhas que podia ter feito pelo sonho de não desperdiçar a benção da minha vida.
 - "Isto não é muito diferente do que você pensava antes".
 - Sim, mas agora, tenho mais urgência e certeza, ao mesmo tempo que sou mais livre para assumir a responsabilidade por minha crença. Percebo que há muito, conquistei este direito. Só quero ter disciplina para não me esquecer disto.Finalmente, antes de dormir, seria bom evitar sentir pena porque não tive ajuda para colher aquelas uvas tão altas ou pensar que o dia que passou poderia ter sido melhor, pois deste modo estarei eternizando a sombra que faz em mim, a impossibilidade do que provavelmente nunca será. Há pomares que já conheço, e sei o que é possível para nós que ali estamos. Outros, que ainda não fui visitar. Engraçado pensar que, em questão de felicidade, talvez devamos ser espertos como a raposa e não apegados como um cãozinho doméstico. Apesar da importância de reconhecer o que está fora de alcance, ao fechar meus olhos só por esta noite ou para sempre, quero ter a certeza de que alcancei o queria do possível, neste meu único dia, e isto me fez acreditar que na manhã do dia seguinte, valeria a pena acordar disposta a experimentar mais um dia único, onde talvez me seja dado viver novos momentos especiais. E por eles, sorrir ou fazer sorrir.
 - Você vem comigo? Vamos tentar um único dia, único e especial, de cada vez?
Texto e fotos: Vera alvarenga  

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Carta de uma filha, a seu pai...

Resolvi postar aqui a carta que Juliana, filha do nosso amigo Toninho Scardua escreveu ao pai. É uma despedida e uma homenagem de uma filha amorosa ao pai...
Com respeito e meu carinho, um beijo para vocês.Vera.


Pai...
Uma semana sem você!
Como é difícil encontrar palavras para definir tudo o que você representa para nós. Isso por um lado é muito bom, pois mais uma vez me mostra o tanto de importância e qualidades que você sempre demonstrou ter.
Hoje, mais do que ontem e menos do que amanhã te nomeio LUTADOR. Um lutador constante. Um lutador que teve sempre muito bem definido o seu grande adversário: a própria vida. Digo que foi sua vida pois você lutou contra a pobreza, as barreiras, as dificuldades, as dúvidas, as dívidas e por fim a própria vida. Você foi um cara que desde cedo teve uma historia de luta, mas uma luta com a vida, sempre pelo melhor.
Você veio de uma condição de vida muito simples, que segundo suas próprias estórias, tinha apenas um sapato e um chinelo para dividir com seu irmão mais novo. Algumas vezes iam cada um com um, mas muitas vezes, vocês trocavam para os dois poderem ir de sapatos, enfaixavam um dos pés (para dizerem que estava machucado) e nele colocava um pé do chinelo e no outro pé o sapato. E assim os irmãos iam de pés invertidos para a escola, porém ambos de sapato como queriam. Este primeiro exemplo que me lembro dele ter me contado mostra um pouquinho de tudo aquilo que ele foi, realmente um cara sem limites, em todos os sentidos, para alcançar o que desejava.
Meu pai não se importava de chamar a atenção, ele não se importava de se expor, ele não se importava de fazer trapalhadas ele simplesmente se importava com uma coisa: a sua família. Família esta que Deus quis que se formasse e que meu pai construiu junto com minha mãe, família que em nenhum momento, por mais difícil que fosse, deixou-se abater. Sempre fomos unidos e assim continuaremos, pois aquilo que Deus constrói o tempo não destrói.
A criatividade e a sorte sempre foram suas aliadas em sua luta, luta esta para sempre proporcionar o melhor impossível em primeiro lugar para nós, mas ele nunca, jamais, se esqueceu daqueles que vinham em segundo lugar... sempre tentando agradar e ajudar todo mundo, ele não tinha jeito. Meu pai foi o maior exemplo que se pode ter para o velho termo “frita o peixe e olha o gato”, ele fazia isso como ninguém. Está certo que muitas vezes ele “fritou o gato e olhou o peixe”, mas posso afirmar com toda certeza que tenho em meu coração que em nenhum momento ele fez qualquer coisa, o mínimo que seja para prejudicar alguém.
A sua incomparável alegria de viver encantava e contagiava a todos por perto, e não havia que não deixasse escapar um sorriso com as sacadas dele. Uma pessoa sem igual.
Assim como eu disse para a mamãe, a nossa vida é como um grande e colorido quebra-cabeças, muitas vezes temos peças de uma mesma cor, do mesmo tamanho, mas nunca de um mesmo formato. Assim são as pessoas, muitas podem ser parecidas, porém nenhuma será igual a outra, nenhuma pessoa ocupará o espaço de outra pois estas “peças” são únicas e especiais, portanto insubstituíveis. Meu pai é, foi e sempre será uma dessas pessoas únicas e insubstituíveis, terá sempre seu lugar em nossos corações.
Enfim, a homenagem que eu queria deixar para você meu pai e para todos aqueles que gostam de você é que você foi um grande lutador, e até o último minuto da sua vida eu sei que você lutou com todas as forças que tinha para mostrar a sua bravura e vontade de viver. No entanto, todo grande lutador merece o seu descanso após enfrentar um grande adversário. Você enfrentou meu amigo, sou prova e companheira da sua luta e sei mais ainda que o grande lutador não se importa só com o resultado final do placar, mas sim com a vontade de vencer que faz com que permaneça no ringue até o último segundo antes do anúncio final. Agora, só resta dizer uma coisa: DESCANSE em paz. A sua luta deixou marcas e fez estória e, com certeza, ainda que tenha perdido a sua última grande luta, você é um VENCEDOR.
Esteja onde estiver sei que acompanhou cada palavra que escrevi, assim como cada sentimento que tive ao colocar no papel (ainda que virtual) esta mensagem. Fique em paz e contagie com sua alegria aqueles que aqui ficaram rezando por você, àqueles que aí onde está te receberam muito bem e àqueles que continuarão ao seu lado.

Até qualquer dia.
Com saudades e amor
Sua filha, Juliana




domingo, 26 de dezembro de 2010

"Meu presente chegará atrasado...."

Final de ano. Por segundos, deixei rodar o filme do balanço anual,  e as cenas passaram rapidamente, como acontece quando faço retrospectos do passado.Observei apenas as sensações do saldo que ficou.
Sentimentos muito fortes e opostos estiveram presentes neste ano, mas isto não me surpreende. Aceito e sinto a vida com seus movimentos. A tentativa de adaptação ou de convivência com opostos que nem sempre se complementam da forma como gostaríamos, o sonhar com o que não temos, o tentar alcançar este sonho transformando-o em realidade palpável - é a nossa forma de participar desta dança, em que o destino está sendo construído conforme nossas crenças e modo de reagir, mesmo diante do imprevisto.
E neste movimento,este ano deparei-me com lições bem difíceis, alguma aprendi, outras não. Encarei uma mudança de cidade e residência. Diante disto, revi, me orgulhei de minha coragem e disposição para enfrentar o novo, com atitudes criativas e de fé. Dei de cara com as consequências por decidir considerar meus limites diante da realidade que estava inaceitável, tudo porque ainda me debato na luta por manter coerência entre palavras, gestos e sentimentos. Cometi pecado semelhante ao daquele que, tendo consciência do que está acontecendo e um vislumbre do que poderia ser, resolve "contestar" o que há anos está estabelecido.
     Sonhei, desejei e acreditei que seria possível transformar meu sonho gentil e amoroso, numa realização. A partir daí, o equilíbrio se perdeu, veio a culpa e a raiva, e seu peso depende geralmente de como conseguimos nos conformar com o que tínhamos, ou ainda do quanto cobramos de nós mesmas a perfeição de viver conforme a verdade. Sentir raiva foi ruim,mas me ensinou sôbre mim mesma!
   A despeito da minha crença de que ninguém é perfeito e tudo vale para manter a família unida, e ainda apesar de eu saber por experiência, que prefiro manter uma dança a dois para o ritmo da vida,tomei a decisão de uma nova caminhada sozinha a partir dali! Susto e loucura total, diante das circunstâncias precárias! Mas isto não ocorreu. Então, vivi como tantos, aquele momento em que afastamos qualquer ilusão para nos adaptar com sinceridade e nos esforçar para que tudo dê certo! Devo reconhecer que falhei desta vez, porque meu coração não estava mais lá, como antes.
   Quase sucumbi, em meio a uma imensa tristeza que parecia que ia me engolir, porque me assustava sobremaneira, como em poucas vezes na vida, não estar sendo coerente com minha capacidade de sentir amor.Neste mesmo instante uma incoerência maior! Quando tudo parecia morte, fui resgatada surpreendentemente pela vida - um desejo mil vezes mais poderoso do que tudo o mais, a descoberta da esperança de uma nova chance de viver o amor com mais responsabilidade, alegria,cumplicidade e respeito - apaixonei-me por esta idéia - o apaixonamento e o amor são o único poder superior à morte! E se eu estava meio morta, minha outra metade era desejo de amor e vida! Isto foi a coisa mais bela e forte que senti nos últimos anos, e já desisti da culpa ou de compreender racionalmente tudo o que motivou este encantamento. Apenas, agora convivo com isto.
   No último mes, estou vivendo a espera da sentença que decidirá sôbre tudo o que consegui manter de patrimônio material de uma vida de quase 39 anos! O próximo ano, me deixa ansiosa, mas não me assusta mais do que este que passou. Neste momento sinto que ainda sonho e abraçarei a oportunidade que tiver de ser feliz, pois o mal que já estiver estabelecido permanecerá independente de minha ação, mas o bem que puder ser construído por duas pessoas que decidem fazer isto com comprometimento, será abençoado. Será meu, isto aprendi, apenas o que for a mim oferecido, ou o que eu puder colher da árvore que plantei no quintal do meu coração. E o coração é livre,só pertence a seu dono.
   Então, neste último olhar que dou para o ano que termina, não posso dizer que estou feliz porque espero ainda a conclusão de 2 assuntos- o da minha casa, e o do meu amor. Contudo estou feliz por ter vivido intensamente e com intenção de ser fiel ao que acredito que pode me fazer levantar com dignidade, qualquer que seja o resultado. Se eu perder minha casa, ainda terei meu amor...se este não puder jamais se concretizar como o presente que pedi a Deus, ainda terei a capacidade de amar dentro do peito, a pulsar e que fluirá em pequenos gestos, durante o resto da minha vida.
  Agradeço ao meu marido, companheiro de 40 anos, pelo desejo de fazer dar certo, pois reconheço que também enfrentou com nobreza as últimas mudanças em si mesmo e em mim. Abraço, em pensamento as pessoas que me ofereceram pequenos gestos de amor,àquelas pessoas que me ensinaram algo e aquela que escolheu confiar em mim e compartilhar alguns sentimentos que estavam guardados em seu coração, que algumas vezes me disse que sou importante e faço parte de sua vida(sempre que esta pessoa precisar,estarei ao seu lado e torcendo por ela). Isto me proporcionou momentos de ternura, pelos quais serei grata, e que me fazem sorrir confiante de que ... no próximo ano, tudo será melhor e que, "se Deus permitir", terei algo belo para receber de presente...de Papai Noel ( ou do Papai do Céu).

Texto e foto: Vera Alvarenga

sábado, 31 de julho de 2010

" Só o amor venceria a morte! é este meu sonho!"

   - Então, hoje está um dia lindo! Vamos ao zoo? Podemos caminhar devagar, na sombra das árvores..
   - Não.
   - Escuta só. Eu levo uma mochilinha com um lanche, fazemos um pic nic! Vai ser gostoso. A gente vai rir, ver gente feliz...
   - Não quero ir não. Já faço meu exercício toda noite no banheiro.
   - Amor, a gente trabalhou, o sol tá lindo, vamos nos divertir um pouco, enquanto a gente tá vivo, pode andar, tem saúde. E posso tirar aquelas fotos que..
   - Vai você sòzinha, então!
   .................................................................
  30´depois....
   - Bem?! onde você está? está muito ocupada aí no computador?
   - Por que?
   - Vamos sair um pouco, então? Vamos comigo ver um carro na concessionária? Se a gente gostar, vou estudar a possibilidade de trocarmos o carro.
   - Ah,... não! Vamos deixar para fazer isto durante a semana, tá bem? E eu já sei como é... nossos gostos são tão diferentes. É melhor você me chamar quando estiver entre duas opções, que realmente a gente possa comprar. Hoje é sá..ba..do..meu amor, não é dia de trabalho, não!  É dia de relaxar, colher frutos, descansar, fazer coisas gostosas juntos, sabe? Pra ter mais vontade de comemorar à noite, a felicidade das coisas simples, fazendo amor...A gente não precisa esperar férias, uma vez por ano, para ser feliz... a gente não precisa esperar ficar velhinho para descobrir que podia ter tido uma porção de dias mais felizes, sabia?
   - Pronto, lá vem você...fique quietinha. Não comece com suas cobranças! Volta para o seu computador, eu vou pra minha TV...
   - Sabe o que é? Você gosta de falar de reencarnação, vida após a morte...Eu ainda estou viva, na única vida que conheço. Sabe mesmo o que eu penso? Sabe o que é realmente meu grande sonho, minha fé, minha crença? Pra mim, só o amor verdadeiro, aquele que quer dividir coisas boas, que é leve como o espírito, seria capaz de sobreviver após a morte, só o amor venceria a morte! Sem ele, a gente tá sózinho e já está meio morto, desde já ! Você pode entender isto? Que não adianta se preocupar tanto com a outra vida, se a gente deixa escapar esta?
   - O que? Tô ocupado aqui com este controle da TV que às vezes falha!... E ela ouviu algo parecido com : "Depois a gente conversa sôbre isto". Teria mesmo ouvido tais palavras? Seria uma promessa, que bom!
   - O que disse, amor?
   - Que não quero mais falar sôbre isto!
   - Ah! Hum..hummm....


texto : Vera Alvarenga
foto: arte Neli Neto(como consta na foto)

 

sábado, 19 de junho de 2010

- " Minha Caixa de Pandora carrega uma maldição?"

Ontem, pela madrugada, lá fiquei eu novamente, macambúzia. Pronto, reconheço, não consigo aceitar a morte!...de nada,talvez... nem da flor que murcha e cai,porque já penso na que vai brotar amanhã... nem das pessoas que eu tanto amava, pois imagino que seu espírito está agora, ainda mais próximo a mim.
  Apesar de admirar as mulheres fortes que conheci, que tem a coragem de romper com aquele ou aquilo que não lhes dá o que merecem receber, apesar de ter no sangue os genes de uma delas, eu, não consigo romper com nada, ou quase nada. Mesmo que concorde que seria o mais correto, em alguns casos.
  Sabem aquela história que sempre repeti para amigos? - " O vazio assusta, mas é necessário deixar esvaziar o copo, para poder enchê-lo novamente e saborear um vinho melhor!" Eu realmente acredito nisto e, queria que alguém dissesse o mesmo para mim, quando eu precisasse ouvir. Só que, não consigo ver o meu copo vazio! O meu, está sempre meio cheio, ou pelo menos guarda lá um "bouquê"...até que eu possa sentir o aroma do próximo vinho.
   Não consigo perceber quando o jogo terminou...talvez porque queira me iludir, que o jogo nunca termine? Ou porque sou covarde demais para enfrentar o resultado?  Nem deixo de querer saber "como você está", mesmo que você há tempo, não pergunte mais de mim, a menos que eu ache que posso estar incomodando(porque então, me afastarei). E já não sei se isto é uma característica minha, ou uma fraqueza. Pensei esta madrugada sôbre estas coisas, fiquei triste, e logo, ao acordar,  só cheguei à conclusão que, embora não me orgulhe disto, sou assim. Se você quiser que eu me afaste mesmo de você, tem que deixar isto muito claro, tem que me magoar de fato, de tal modo que, no dia seguinte, eu não pense que aquele seu aceno de agora, quer dizer que fui eu que não soube compreendê-lo. Serei assim, porque meus olhos passaram muito tempo vendo uma contradição? Gestos que não pareciam demonstrar amor, de alguém que me dizia que me amava, e era eu que estava enganada ao ver o que via? Crianças podem ser assim manipuladas, ou convencidas. Até quando eu fui criança? Ou será que apenas vi no outro, toda a insensatez e insegurança que o fez não saber amar? Claro que, por vezes sinto tanta raiva que, apesar de ser naturalmente terna, gostaria de agredí-lo com toda a força de meus tapas, porque me sinto pressionada e agredida, por esta estranha estupidez que é o desperdiçar a vida, deixando-a passar ali ao lado, fria e vazia de significado maior. E então, onde estará minha ternura?  
   Porque tudo pode ser interpretado de duas maneiras, alguns diriam que sou positiva, tenho fé, que estou certa em pensar que só para a morte não há jeito (talvez por isto eu a tema, de verdade). Os pessimistas diriam que eu...bem, melhor nem saber!
   Serei de fato uma pessoa terna, que acima de tudo vê o amor porque o tem em si e na sua história de vida, ou serei uma vítima de minha tola incapacidade de ver a realidade da vida, como ela é? Com que critério podemos julgar as pessoas e como elas reagem diante do que mais querem, para sua vida?
   Acho que, esta tal  "Caixa de Pandora" que carrego comigo desde a maturidade,como disse ao criar este meu blog, traz dentro de si algo perigoso, como diz a lenda. A ESPERANÇA, será um presente nobre deixado para a humanidade de cada um, ou será minha maldição?

texto: Vera Alvarenga
Foto : Vera Alvarenga

sexta-feira, 4 de junho de 2010

- " Uma segunda chance.." - Parte final

   As perguntas geravam respostas conflitantes. Ela parecia querer testar a validade do que sentia.
   - Até que ponto ele é responsável pelo que sinto? Será que ele sabe como lidar com seus próprios sentimentos? Fui paciente, clara o suficiente,pedi o que precisava receber? Eram perguntas que ela se fazia, como se fosse seu próprio acusador.
   Então sentiu raiva. Tinha vontade de bater nele, esmurrá-lo, sacudir-lhe os ombros, despertar seus sentidos para o mundo ao redor daquele umbigo tão estupidamente egoísta! Ao mesmo tempo, tinha vontade de gritar : - Acorda! me ama! a vida não é fácil; juntos será melhor.
    Então, reconhecia o seu fracasso. Não devia ter caminhado os passos que deviam ter sido dados por ele. Amor era coisa pra dar e receber, não para pedir, insistentemente... ela tinha até que lembrá-lo dos gestos que a faziam feliz! Ele mesmo havia pedido que ela o lembrasse "destas coisas que alimentam o amor", mas ela queria receber gestos espontâneos. Ele não poderia lembrar-se dela, por si mesmo?
   Com o reumatismo e  problemas financeiros,ele tornou-se mais difícil de conviver. E ela desejou assumir de vez o direito a seus sentimentos, até sua raiva, até seu egoísmo.Não lhe parecia egoísmo. Parar de conformar-se com migalhas, só porque achava que a vida era mais importante do que ter seus pequenos desejos satisfeitos! Ele mesmo se gabava de satisfazer o que desejava. Ainda não sabia como, mas precisava separar-se dele. Não se sentia amada por ele, para ficar.
   Então, tudo aconteceu num piscar de olhos. Um dia, uma pressão no peito, ao nadar.Ela, teve intuição de que havia um perigo ali. Por um destes milagres da vida e de Deus, dois meses antes, pensando no reumatismo do marido, ela pedira ao filho mais velho para fazer um convênio saúde de presente para o pai. O filho atendeu prontamente o pedido, mas não haviam contado ainda para ele, que era muito orgulhoso para aceitar receber o presente. Aguardavam o tempo de carência e o cartão para o presente completo.
   Após ficarem por um dia inteiro a espera de consulta e exames, em um hospital estadual, o médico sentenciou: " Internação e cirurgia de emergência!" Durante as horas que ele ficou a espera dos exames, ela andou por lá, encontrou o médico que operou sua mãe dois anos antes, e lhe perguntou como estava o hospital, caso o marido precisasse de alguma cirurgia. O médico conhecido lhe disse : - "se fosse com um parente meu, levaria a outro hospital"! Convenceu o marido a ir para casa,para internar-se só após ter tempo de telefonar aos filhos. Ela estava apavorada, mas, como sempre, disfarçou. Na manhã seguinte, a caminho do hospital, mudou o trajeto e dirigiu-se ao Instituto do Coração, que estava no convênio. Então, contou ao marido sôbre o presente do filho. Ele ficou furioso com a falta de respeito dela, por querer controlar as coisas que eram dele! Quis descer do carro. Ela suplicou-lhe para não fazê-lo.
   Ela se perguntava, até que ponto quem ama pode ficar indiferente ao que acontece ao seu lado, com quem fora o amor de sua vida?! Não participar, não ajudar, deixar o outro sòzinho neste momento é que lhe pareceria falta total de amor, humanidade e intenso comodismo.Como ele podia estar sempre sentindo que as pessoas o desafiavam, quando na verdade isto era um natural comprometimento com o outro? Contudo já entendera que seres humanos sentem diferentemente...
   Ao chegar ao hospital tudo foi muito rápido. Após cateterismo, médicos lhe disseram que ele precisaria de uma cirurgia imediata, mas que não tinham condições de fazê-la devido a carência do convênio e aos remédios que ele precisaria deixar de tomar para evitar hemorragia. O chão lhe fugiu debaixo dos pés,  quase sentiu-se desfalecer, mas não tinha ninguém para apoiá-la e precisava evitar que transferissem o marido para o falido hospital estadual. As coisas foram acontecendo rapidamente. Como visitantes não permanecem nas UTIs, ficou a maior parte do tempo no carro,no telefone público e tomando outras providências, que não sabia que tinha forças para tomar.  Só ia para casa de madrugada, para um banho e a fim de dar insulina para a mãe. Não era corajosa. Precisou buscar forças além de si.
   Durante as noites, enquanto ele estava na UTI,encontrou um modo de entrar sorrateiramente pelas portas dos fundos do hospital e ficava quietinha ali, na sala ao lado da UTI, reservada aos parentes de pacientes graves. Parecia a ela, que se não velasse pelo sono dele, poderia ocorrer o pior e temia ir para casa e transferirem seu marido para outro hospital. Por que não a anestesiavam também? Quando tudo se resolveu, a cirurgia foi feita e os enfermeiros faziam "vistas grossas", deixando-a  ficar - ela não incomodava, estava petrificada! Durante o dia, mal ia ao banheiro, para não ter que passar pela sala de espera na recepção  e assim, evitar que outros acompanhantes criassem problema. Mas uma vez se perguntou, se ela estaria sendo prepotente ou teria ilusão de poder para controlar a vida dele, como ele a acusara. Não, ele é que não sabia reconhecer gestos de comprometimento e amor. Não obteve resposta que a dissuadisse de ficar ali. Para ela, era vital que permanecesse, encontrando doadores de sangue, convencendo o médico a ajudá-la com o convênio, orando, enviando luz em pensamento, pedindo a Deus que lhe tirasse um pouco de sua energia e até seu anjo da guarda, e os enviasse para ele. Não sabia como agir diferentemente. Estava amedrontada.O quarto tinha uma janela que abria para uma grande árvore, onde os passarinhos vinham cantar. Isto, certamente ajudaria na recuperação! Ele poderia vê-los se ela mudasse as camas um pouquinho de lugar. E conseguiu, porque enfermeiros e médicos são humanos...
   Durante aqueles 15 dias e muitos outros após a cirurgia, seu pensamento de uma vida independente dele parecia excessivamente egoísta e sem sentido. Ela o amava. Se Deus queria mostrar-lhe isto, ou como era medrosa, ou como precisava do amor dele, conseguiu!!
   E mesmo pelo tempo de recuperação pós cirúrgica e ainda pelo tempo que lutou para evitar que ele entrasse em depressão, como a haviam avisado que poderia ocorrer, e ainda quando sua mãe morreu, e também sua cachorrinha de 14 anos, durante este período de medo e tantas perdas, ela amorteceu seu desejo de ser tratada com mais respeito; compreendeu que ele a amava mas não sabia como deixar de ser tão egoísta.
   Ela reconheceu que também estava sendo egoísta. E acima de tudo,agradeceu a Deus por ter dado a ambos uma segunda chance, prometeu que faria de tudo para vivenciar o amor e não reclamá-lo, afinal, só para a morte, não havia jeito! E acreditou que podiam sair mais fortes e cúmplices, desta experiência.
   Todas estas coisas vieram como um presente da menopausa, numa Caixa de Pandora, dentro da qual só restou a Esperança!
  texto: Vera Alvarenga
  foto:  retirada da Internet

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

" Morte de meu Irmão..."

" Hoje, por email,soube da morte de meu irmão,5 anos apenas mais velho que eu. Aconteceu ontem.Minha avó diria: "pra morrer, basta estar vivo!"
Foi pneumonia que, segundo os médicos, complicou-se com o diabetes, problemas cardíacos e depressão.
" Não é a dor de perder um companheiro,ou amigo que se tem para todas as horas, o que sinto. É a sensação de aperto no coração,pela constatação da grande impotência diante daquela, com a qual não podemos lutar, discutir, argumentar, enganar ou fugir - a Morte. Nada há que possamos fazer para recuperar o Tempo ou vencer a Morte. Claro que me refiro a esta vida, a qual conhecemos e vivemos agora, com o corpo que temos no presente, e estando neste planeta conhecido como Terra. "
" Não vou entrar em divagações espiritualistas, religiosas, filosóficas, sôbre o que acontece após a morte, porque, não sei. Meu coração fica apertado pois, mais do que o que eu sentia por ele e ele por mim ( sempre houve carinho entre nós), o que me dói é saber que nos últimos anos, meu irmão não teve uma boa vida, com saúde e alegria que todas as pessoas boas deveriam ter ( ou como eu gostaria que ele tivesse). Assim,tenho que recorrer ao espiritual e desejar que Deus exista, de verdade, para estar com ele em seus braços, confortando-o finalmente. Quero crer, com todo o meu coração, que ele está muito melhor agora, do que antes, mas, conhecendo-o como penso que o conhecia, sei que, mesmo assim,deve estar com saudades dos que amava. Ele era emotivo."
" Eu e minha irmã não o víamos há quase 13 anos, eu acho. A vida,muitas vezes, separa irmãos - casamento, novas famílias, mudanças,distâncias, a falta de comunicação ( ele não tinha computador ou email). Nós dois trocamos cartas há alguns meses atrás.Bom que pudemos trocar também palavras de carinho,desabafos e apoio. Mandei-lhe um presente, ele adorou, enfim, nos aproximamos um pouco mais, após longo período, quase sem sabermos notícias um do outro."
" Nem sempre podemos nos manter fisicamente próximos, dos nossos irmãos de sangue... ou outros membros da família. Resta-nos, contudo,em nosso coração guardar boas lembranças e dirigir a eles, o melhor de nossos sentimentos. Era isto que me fazia aguentar as saudades dos meus filhos e de alguns amigos queridos,quando eu e meu marido fomos morar a 1000 km. de distância deles, por 10 anos! Sem telefone, no início, sem recursos para viagens e extras de qualquer tipo, meu coração teria secado, se não pudesse recorrer à crença de que me ligava a eles, espiritualmente,a cada meditar e orar. De qualquer modo, esta nossa experiência e a que tivemos com o afastamento de meu irmão, me ensinou duas coisas importantes."
" A primeira é que, a distância afasta sim as pessoas,portanto, é melhor podermos usar os meios de comunicação que nos for possível,para nos manter relativamente presentes na vida de quem a gente ama e está distante."
" A segunda é que, seria bom cultivar a intimidade, o carinho e o interesse real por aqueles que estão mais próximos de nós, fisicamente (familiares ou até um vizinho, que sabemos estar só),seja aqueles por quem somos responsáveis de alguma forma, seja por termos laços de afinidade e amor. O interesse real é o caminho pelo qual podemos oferecer o "cuidado amoroso".
 "A intimidade que aproxima as pessoas, depende também do outro se disponibilizar a confiar e se abrir para nós. Se nosso coração sente necessidade de amor, e estivermos longe de quem gostaríamos de amar, talvez fosse a hora pra rever a possibilidade de uma mudança para nos reaproximar. E se isto não for possível, é fundamental evitar que o coração murche como flor que não se rega. O único modo de sobrevivermos ( pelo menos foi este pra mim), é olhar ao redor e procurar novos objetos de amor. Desta forma, quando alguém próximo ou ligado a nós for irremediavelmente tirado de nosso alcance, saberemos que fizemos o que era possível para lhe dar o que podíamos lhe dar e, ao mesmo tempo, que tentamos preservar em nós a capacidade de amar."
"Rezo para que meu irmão tenha encontrado em sua vida, muitas outras pessoas com as quais pôde dividir momentos de amor,e que seja assim com todos nós, que temos que nos afastar dos familiares e amigos, pelas mudanças que a vida traz...."

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