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sábado, 28 de novembro de 2015

Faltou energia..e agora?!

                                         
                                              Com a Primavera vieram as chuvas e com elas, o vento forte e  pluft, lá se vai a luz.
E agora? Dá aquele susto. O que vamos fazer sem a TV, sem a Internet, em plena tarde de sábado? Caminhando pelo condomínio logo vimos o motivo. Desta vez não foram galhos de árvores caídos sobre os fios na esquina lá fora, mas uma grande folha de palmeira que sacudiu, com a ventania, o cabo do poste que se soltou com um estouro.
- Cuidado, não passa por aí!
   Avisavam os rapazes enquanto colocavam sinais e faixas para impedir que alguém passasse por baixo do grosso fio de alta tensão que estava apoiado lá em cima e por um triz não caía balançando sobre a calçada e sabe-se lá, sobre algum carro ou pior, sobre alguém!
Depois de algum tempo, caminhão e homens da Eletropaulo estavam lá para dar jeito na situação.
   Nada mesmo pra fazer, então resolvi descer e ver tudo de perto. Um dos homens já lá em cima, naquele pequeno compartimento que sobe e desce a seu comando. Eu acho um barato! Coisa importante para facilitar o trabalho destes homens que precisam fazer emendas nos fios.
   Ao chegar perto percebo que muita gente teve a mesma idéia - distrair-se olhando os homens consertarem o cabo para que cada um de nós pudesse se recolher e voltar logo à intimidade de suas casas, tomando uma cervejinha gelada ou um banho ( hoje está muito quente), sentar-se à frente de uma TV ou computador.
   Enquanto a vida não voltava ao normal, a televisão improvisada na rua, bem no meio do condomínio, mostrava para alguns, as cenas dos homens trabalhando. Cada um dos espectadores sentou-se num banco ou pedaço da mureta. Uns comentavam que os homens bem que poderiam cortar as folhas da palmeira que continuariam a representar um perigo. Discutiam sobre o absurdo que já acontecera semanas antes num dia de chuva, quando o pessoal da Eletropaulo não cortou galhos de uma árvore próxima dali porque diziam que só a Prefeitura poderia fazê-lo. E disto resultou horas de falta de energia quando um destes galhos caiu de fato como estava previsto, e se enrolou nos fios! Nosso bairro, como alguns outros, tem muitas árvores lindas e antigas mas que deveriam ter seus galhos cortados na altura em que encontram com os postes de luz. Contudo, ninguém toma providência, a menos quando um acidente acontece. Evidentemente deve ser muito mais caro consertar do que prevenir, por esta razão não compreendo porque a prefeitura não toma as medidas preventivas necessárias.
   Eu acho que me cansei um pouco de ter vivido tão quietinha no meu canto. Ali sentada, junto ao marido, conversei com um recente amigo, animado e divertido. Ouvi comentários de alguns que achavam que tudo era muito simples para demorar tanto tempo para ser consertado - sempre tem quem apenas observa mas acha que faria melhor. Conversei com um homem jovem que por sinal tem a idade de meu filho mais novo. Acabamos falando sobre crises, recomeços de vida - a nossa e a dele- pequenos milagres que surgem em momentos de grande dificuldade - e eu tinha alguns exemplos para contar - falamos de sonhos, projetos, fé, força apesar de tudo e sobre os filhos e ele falou igualmente de suas coisas porque foram alguns minutos de uma conversa que podemos honestamente chamar de diálogo. Interessante como  gostei de ter saído do meu cantinho para ir até aquela imitação de TV comunitária, onde, por um acidente, as pessoas se viram compelidas a se aproximar e olhar para a mesma direção, enquanto jogavam conversa fora.
   Alguém bateu palmas( confesso, fui eu). Viva! o homem na cadeirinha suspensa cortou 2 galhos da palmeira. Beleza. Além de emendar os cabos, fez o serviço completo! Mereceu as palmas.
   E logo, todos voltamos para nossos apartamentos. E lembrei-me de minha adolescência quando morava numa casa térrea lá em Moema e aos sábados meu pai assistia futebol ou tirava um cochilo na sala, minha mãe fazia pipoca e eu tocava violão no jardim da casa e conversávamos com os amigos e irmãos, ou jogávamos ping pong. Em meu tempo de casada, raras vezes recebemos amigos em casa. Meu marido é carioca e sempre preferia sair, a receber. Crises, a vida corrida enfim, falta de hábito dificultado também por muitas mudanças de residência, o que nos impedia de conhecer as pessoas por tempo suficiente para convidá-las para nossa casa. Me deu saudades também de uma amizade adulta num tempo mais recente, quando eu tinha um amigo com quem era muito bom conversar.
   Apesar de eu ser uma pessoa que gosta de seus momentos de solidão criativa ou relaxante, que é mais introspectiva do que social, acho que hoje em dia muitos de nós sente falta de amigos com quem conversar e mais que isto, com quem apenas conviver, ficar ao lado pra relaxar sem a obrigação de puxar conversa mas partilhando momentos.
   Quem diria que alguns momentos de falta de energia pudessem me trazer tantas lembranças, um bom papo, um convite para o almoço amanhã e o prazer de presenciar um homem que soube tomar sob sua responsabilidade, além do dever de consertar algo, a decisão de prevenir para evitar novos acidentes. Beleza.
   


sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Quando não sentirei mais este amor me tocar?

Você!
Você nunca sente saudades?
Nunca sentiu saudades de algo que vislumbrou, e era tudo o que jamais antes pensou que lhe faria tanta falta?
Nunca olhou naquele lago e de repente viu refletido nele tantas coisas que agora, pareciam  sem sentido, diante do que estava a um passo de o tocar?
 Aquilo que você jamais pensou precisar, pois que tudo você acreditava ter e amar, e nada mais queria de sua vida, porque você era uma pessoa doce e simples e pouco era o que precisava para viver...aquilo que você experimentou sentir tão intensamente, mesmo sem compreender como antes estivera escondido. Aquela ausência do que podia ser, nunca o assombrou?
 Não sei que coisa em mim me faz pensar assim! Que tudo o que parece intocável, na verdade está a um palmo de nosso alcance uma vez que tenhamos consciência de onde está. Bastaria estender os braços e o tocar...tomar para si ao mesmo tempo em que todo milagre estaria, finalmente em se dar, inteira e simplesmente, ao verdadeiro amor maior, pelo qual, todos nós ansiamos....
   Ah! que pena...mas não é tão simples assim....

foto/texto:vera alvarenga

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Saudade Renato Teixeira(poesia de Mário Palmério)


- Hoje to triste, cara.
- É o vinho, Moraes. Você não tá comendo nada. Pega aí o provolone.
- Não é não. É que me bateu uma saudade danada, sabe, daquele sentimento que quando a gente tem, faz todo sentido, faz a gente...
- Ou daquela mulher?
- É. Dá no mesmo. Você sabe, a gente se sentir vivo novamente, pulsante, como dizia o Silva. Aliás, aquele, entendeu-se lá com aquela amiga dele, bem mais nova. Bonita até.
- Mas a tua, não era nova, né?
- É. Tem a minha idade. Portanto não é velha! Madura eu diria. E me fazia sentir o maior e o melhor dos homens... Sabia o que queria.
- Ela estava apaixonada, não é? Sem dúvida, meu amigo, isto é bom. Eu, por mim, desconfio um pouco dessas que agradam tanto...
- Não é isso. Você tá enganado. Para ela, eu era melhor do que aquele com quem convivia. Sei lá, um relacionamento daqueles que a gente não entende porque duram tanto! Não é por nada, mas acho que ela cometeu aquele erro que é fatal para a efêmera felicidade. Comparação. De repente, como ela mesma disse várias vezes, ficou perdida lá naquele quintal dela. Sabe o que ela me disse? Que diante do amor..o que não é amor, de repente, parece grosseiro. Parecia ter uma sede de pular aquele muro, de conhecer o mundo. Pular, não! Voar comigo, como ela dizia. Até emociona, viu? Aquela ingenuidade com a qual me falava do que sentia, lembrar o jeito como ela me via, como alguém que...
- Ah! e quem ia pagar este voo para um novo mundo?
- Você não acredita em ninguém? Ela era diferente, confia em mim. Era sincera. Acho que me superestimava até! Como pessoa, porque não sabia o que tenho. Hã... Ela queria poder conversar, aprender, ouvir, enfim, queria alguém um pouco mais parecido com ela, sabe como é. Tinha uma solidão tamanha que... Bom, confesso que seria melhor se tivesse também uns anos a menos.
- E por que você não foi atrás dela? Por que, aliás, não vai atrás dela?
- Águas passadas meu caro. E não quero problemas, alguém me endeusando, mimando, somos de mundos diferentes.
- Talvez de nível diferente, eu diria. Mas eu me lembro que você me disse que ela tinha uma simplicidade que o encantava. Tinha ou não tinha? Não era nenhuma ignorante ou coisa que o valha?!
- Não, claro que não! Mas, começar tudo de novo? Sei lá. E ela certamente não pensa mais em mim. O meu silêncio foi bem eloquente. Foi só uma lembrança...
- Poxa Moraes. Então tá resolvido. Esquece. Toma mais vinho e come provolone que a saudade passa. Eu te falei. Isso é fome, amigo. E falta de..
- Você me subestima. Me dá a garrafa. E vamos mudar de assunto, que não quero problema na minha vida. Passa o provolone também...

( o ser humano é criativo em momentos de crise, ou de saudade. Fazemos de tudo para viver bem, até inventamos histórias...rsrs....) texto: vera alvarenga






terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Quem mandou voltar a escrever?

  Ela teve medo de escrever. De voltar a escrever.   Fazia tempo que estava assim como numa mar calmo, sem ondas, sem marés nem tempestades. Entretanto ela sabia que lá no profundo do mar ou do lago, fosse o que fosse,  havia vida e luz. Todo mundo sabe.
  Ela teve medo de voltar a escrever, porque as palavras quando começavam a vir não conseguiam esconder a vida. Podiam disfarçar, brincar de esconder, não dizer tudo que havia pra se dizer, porque afinal, há coisas que não são mesmo para serem ditas. São como o suave e íntimo perfume de cada um. Não dá para descrever. São como o cheiro de certas coisas, como o abraço no qual a gente se deixa envolver.    Certas coisas são para serem compartilhadas naquele abraço que de terno, de repente passa a ser mais envolvente, e forte e vivo e audaz... e por fim passa a ser tudo e a única coisa... e como a única coisa de fato que pode nos dissolver... Assim pensava ela, enquanto sentia aquele medo de escrever.
  - Nossa! pensei que estivesse tudo acomodado, morto e enterrado!
   Porque escrever era sentir, era saber-se viva, era reviver emoções que surpreendentemente mexiam até com seu estômago, sem falar, em certos casos, com uma saudade funda. Porque escrever era conversar consigo mesma. E ela não mentia pra si.
   - Existe isto de saudade funda? ela pensou...
  Estava lá um sentimento ainda, que ela não sabia como,e nem queria mais ter de explicar, mas era saudade profunda...sim profunda. Era uma vontade de ter sido algo, qualquer coisa, melhor do que aquilo que nunca foi. E o que nunca foi, não poderia ter força! Contudo, era forte o que ela sentia quando cometia o deslize de sentir-se viva e deixar as palavras saírem alvoroçadas, como a vida mesmo o é. Mesmo que ela não escrevesse, a mente já as tinha escrito, plasmado no ar... Estavam lá, soltas no ar e agora, tinham peso.
   As águas daquele lago tranquilo se ondulavam neste momento, balançavam o barco atracado na beirada. Coloriam a cena com tons fortes.
   - Quem foi que jogou uma pedra aqui?
  Bem feito! Quem mandou ela voltar a escrever....
  

terça-feira, 3 de junho de 2014

Coisas pra dizer enquanto é tempo...

Eu já tive muita coisa para dizer, e dizia, as vezes.
Já tive muita coisa que queria escrever, mas não tinha tempo.
Veio o tempo em que eu encontrava tempo para escrever, e precisava fazê-lo porque os sentimentos estavam efervescendo. E eu escrevi, e escrevi, e escrevi por vezes como quem estivesse falando para alguém em quem confiava, e que compreenderia. Contudo,  pessoas são desconfiadas e nem sempre compreendem quando a gente abre o coração e desnuda a alma, como criança feliz quando não tem medo de nada.
A maioria das pessoas inteligentes são também muito desconfiadas. Pensam que se derem ouvidos aos corações eles vão querer mais do que elas podem dar. Isto é um pouco triste, ou pelo menos deixa saudades. Porque algumas pessoas as vezes se afastam, com medo, como se lhes fosse faltar um pedaço se nos mandassem o mesmo abraço de volta. Mas eu também sou assim, as vezes me afasto das pessoas porque penso que não posso dar nada de importante a elas, então dou meu coração em pensamento e pretensiosamente tento enviar a algumas, uma energia boa, em forma de luz... é uma luz que esquenta mas é invisível.
Agora tenho todo o tempo do mundo, mas não estou mais tão ligada ao mundo, eu acho. Estou com preguiça. E, apesar de algumas vezes sentir saudades de alguma coisa, estou em paz.
  É tanta paz que não preciso escrever tanto. Mas isto me assustou por algum tempo, porque nem queria mais ler. É como se meus sentimentos estivessem dormentes ou talvez ao contrário, tenha voltado meu coração em direção a algo que não pode me abandonar, se eu não quiser - um amor que temos incondicionalmente porque depende unicamente de nós mesmos, em certo sentido. Depende da fé. Aliás eu sempre tive fé nas pessoas, mas nós somos complicados.
De qualquer modo, meu coração queria tanto sentir uma outra forma de amor que ao me dirigir para ele, talvez minha capacidade de amar a vida como ela é tenha me trazido de volta um bocado de carinho que não me passa desapercebido, de jeito nenhum, é claro.
Ainda sonho, mas não como quem deseja e sim, como quem lembra.
Então, quem é o filho do amor? O próprio amor. Quem seria a mãe do Amor? A vontade de amar e ser amado. Ou a fé...ou a auto ilusão, diriam alguns mais desconfiados.
Mas tudo está tão tranquilo, que  quase me assusto, mas acho bom. Tudo está tão tranquilo que até esqueço que estou envelhecendo e desta vez, é pra valer! Tudo está tão tranquilo que as vezes tenho de afastar o medo com meus bons pensamentos. Então lembro de alguém ou alguma coisa que me faça sorrir.
   Será que as pessoas sentem isto que sinto quando estão envelhecendo e pisando nas folhas do outono?
Tudo está tão tranquilo que até me esqueço que sinto saudade...Penso que as transformei em lembranças.   E lembranças eu não esqueço. Sei que há buracos pelo caminho cujo fundo nem mesmo consigo ver e que parece que nunca serão preenchidos. São assim os caminhos. Nem tudo é apenas encantadora paisagem. Não estou mais triste. Digamos que só fico triste porque acho que não é bom sentir saudades porque alguém foi embora. A gente devia poder abraçar, de vez em quando, as pessoas de quem sente saudades. Mas, desconfio que mais uma vez, adocei meu caminho, e mesmo no silêncio parece que estou encontrando favos de mel. Quando era menina, comia uma parte de uma flor porque sabia que era doce. Ainda bem que meu olhar não se amargou. Que bom!
Não quero ficar eternamente no silêncio ou hibernando como uma mamãe ursa. Quero deixar aquele meu beija flor sair do meu peito em direção ao sol. E quero ter fé, porque só assim se recebe aquele tipo de amor que não nos abandona. E se o amor preencher nosso coração, como uma coisa leva a outra, a gente recebe mais amor de quem ainda não quiser nos deixar apenas saudades...
Foto e texto: Vera Alvarenga

sexta-feira, 7 de março de 2014

O silêncio...





Há uma coisa que existe que, quando a gente pensa nela, já não é.Não que não existam outras assim mas me refiro a algo realmente raro.
- Penso, logo existo! Ah! Mas para esta coisa, o pensamento é como intruso que vem às escondidas tirar-lhe a vida. Rubem Braga escreveu que no silêncio vive a última palavra ou o último gesto. Fiquei encantada quando li isto.
   Há o silêncio no mundo que nos cerca e que às vezes emudece, e o silêncio que está entre nós nos envolvendo ou nos separando, mas também há aquele particular que se esconde no interior de cada um. Penso que no silêncio, que era ao qual me referia desde o início, naquele que eu posso chamar de "meu" porque a ninguém mais pertence e dele posso fazer o que quero, habitam também sentimentos mais antigos impressos como tatuagem, que vem inesperados como pássaros em revoada ou como água do mar quando enche o buraco que uma criança cavou na areia. Quando a gente olha para ele é como se visse, num dia de sol, o brilho daquele anel antes de cair no mar, ou como o desejo de sentir o abraço do homem amado durante um sonho numa noite fria. A visão dura apenas um segundo... se a gente estende os braços, já não está mais lá.
   Em alguns momentos ele vale ouro, em outros incomoda ou é melancólico.
   Nos meus momentos de silêncio, já viveram gestos de amor, pela lembrança daquele sentimento vivido tantas e tantas vezes. Em alguns outros, a saudade veio doida como jamais tinha sentido antes, talvez porque jamais tenha tido antes uma visão como aquela. Talvez porque no silêncio viva o último sonho, precisei deixar o barulho de mil palavras e dos ventos e também dos gestos passarem sobre mim, como se eu fosse deserto varrido por tempestade de areia. Tudo para cobrir em mim aqueles sinais, que como cicatriz ardia ao sol  mas se acalma quando protegida, ainda que sempre esteja lá.
  Nos momentos do silêncio do mundo, sentia saudades do que ficou de você, em mim. Já nem sei se é você que ainda está lá, se o que há de você é mais meu que seu, mas ainda sinto saudades.
   E houve alguns raros instantes do silêncio ao qual eu mesma me entreguei, pelo qual me deixei absorver em meio a natureza ou pela meditação, nos quais, surpreendentemente experimentei paz... e nela, eu nada mais precisava, a não ser me deixar ficar ali sentindo aquela presença. E assim como o silêncio, também esta paz a mente não conseguia compreender, e o tempo desta indescritível visão durou apenas um piscar de olhos, como quando a gente vê o brilho do sol refletido naquela pequenina onda no meio do imenso oceano...

foto e texto:Vera Alvarenga

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Ponderações de uma tartaruga...


 -Nunca mais venho aqui!
- Pronto, lá vem a mais emocional de nós...
- Por que não poderemos mais vir?
- Porque não consigo apenas vir, e sair como se tudo estivesse bem, sem nada deixar, mesmo nada tendo encontrado...
- E o que você queria deixar?
- Um abraço, carinho...
- E o que queria encontrar?
- O mesmo!
- E nada encontra?
- Nada...nem a presença... bem, às vezes sim, às vezes não...Bem podia ser só o abraço, então...
- Mas tens uma presença, aquela que sempre esteve lá ( quando queria estar - não ouso te dizer que não quero botar lenha na fogueira!)
- Eu sei. Agora sempre está lá. Nunca a desprezo a despeito de tarde ter percebido o quanto esteve ausente.
- E afinal, o que tu terias para dar, se mais vezes tivesse o que encontrar?
- Bem queria que pudesse ser tudo... tudo do melhor que eu pudesse...e o mesmo receber!
- Ah! Vejo que há sinceridade nesta tua conversa hoje!
- Mas observei que pontes são construídas com certa lentidão, pois há nelas um grande espaço que fica pendurado no ar, sem mesmo ter onde se apoiar, não é mesmo? A própria ponte, imagino eu, acima de tudo, precisa confiar e ter motivação. Ou simplesmente decide não chegar ao outro lado.
- Então se sabes disto, aprende a nada esperar e apenas vem a cada vez que tiveres vontade...ou saudade..Paciência...afinal, pensa bem! você que quer esconder de si mesma os sentimentos e os coloca em historietas, imagina então! Imagina que para alguns de nós, atravessar uma ponte é o mesmo que para... para... olha só aquele bichinho ali! Tá vendo?
- Sim. Uma lesma carregando um caracol em suas costas... e daí?
- E aquele outro ao lado dela?
- Taturana pendurada em vésperas de sua transformação.... e daí?
- Pois é. Alguns de nós estamos assim, numa situação ou noutra... ou ainda em tantas mais. Você mesma está dentro de seu casco e não quer mais sair!

- Não quero mais sair, verdade...Mas parte de mim envelhece, o tempo passa, parte de mim permanece e sofro de uma irremediável saudades, ao passo que fico feliz quando...
- Eu sei.
- A espera foi longa. Já não tenho mais tanto tempo quanto os elefantes.Afinal, na verdade tenho pouco do tanto que ousei desejar ter...A ousadia nos faz descobrir um mundo que por vezes permanece intocável, apenas paralelo.  Eu era antes tão mais paciente e cordata, não é mesmo?
- Apenas lembra que nossa vida não é feita somente dos teus momentos de diáfana felicidade, mas de todos os teus movimentos, mesmo que lentos, e acima de tudo, de tua insistência em crer na própria vida e no que há de bom nela, então...
- Tá. Voltamos amanhã. Quem sabe sairemos daqui com um sorriso na cara! e aquela tola alegria no coração. Vamos então, ouvir música e cuidar do que é nosso.
- Você não se emenda... é tanto terra quanto ar... e ainda me queima neste teu fogo que tua água não consegue totalmente apagar.
- Agora é você, velha rabugenta?! Pára de reclamar e vem... rs...

( como dizer tudo que se sente sem se reportar às fábulas? Como chutar o pau da barraca, se é ela que protege da chuva? e se minha natureza amorosa me faz amar cada palmo deste chão em que construí minha história? Terá sido a paciência e a confiança no outro uma benção ou uma prisão? minha convicção de que minha natureza sensível e amorosa permaneceria a mesma em qualquer tempo e lugar, e de que seria ela a motivação de minha vida, é ao mesmo tempo minha esperança e o que me aprisiona. E minha prisão será agora este desejo que pela primeira vez não pude realizar, porque os anos de uma tartaruga fazem-na ver mais nitidamente algumas coisas? Ou isto será apenas o que me tira da rede em que antes me balançava confortavelmente?! Ah! Por vezes o grito quase sai! Temo que para sempre estarei assim, deste modo, a conviver com meu inconformado desassossego! em busca do amor eterno que ousávamos crer que conhecíamos, sonho que muitos ousamos ter, como naquela música....como, após pensar em tudo que se sente, seria possível viver se não pudéssemos deixar nossa alma voar por alguns segundos, tocar de leve o amor novamente, para então voltar ao solo com a alma mais mansa, a fim de poder ainda dar deste amor?
Como enfrentar com coragem e força aqueles que não compreendem a natureza de uma tartaruga e a história que marcou o que vai em seu coração?) .

Foto e Texto: Vera Alvarenga

domingo, 20 de outubro de 2013

Penso que te conheço...

   
  Penso que te conheço, começava assim aquela carta, mas me engano.
    E ficou olhando para fora, olhar distante, procurando em algum lugar, ao longe, encontrar finalmente o que ela procurava, em pensamento. Mas ele parecia não estar mais em lugar algum, a não ser, apenas em seu coração e na lembrança. Ela sabia que era assim que devia ser, uma lembrança de um sonho que ninguém arriscara ver se daria certo. Ninguém?
    Ela sabia, que já nada mais sabia dele.
   O ímpeto, o impulso, se acomodavam agora, nas malhas da realidade, e permaneciam quietos como os leões velhos, feridos e cansados depois da luta pela sobrevivência, e que se acomodam sob a sombra porque precisam dormir. Talvez para sempre...talvez até amanhã....
    Quem és, que somente me prometias dar-te a conhecer e não o fizeste, de fato?  ainda preciso adivinhar-te? Quem és, que te escondes, que silencias, e, de repente, vem me beijar?
    Qual o tempo de tua vida? Sonhas comigo? Desejarias me abraçar, me tomar em teus braços, me conhecer, me tocar e com tuas mãos acordar de novo cada parte do meu corpo, já quase todo adormecido? Tudo porque o desejo era maior do que o sonho e cansara de idealizações! Alguma vez, como eu, acreditaste que tudo era possível, e que serias para mim, o suficiente, o desejo finalmente realizado, para depois, logo depois, duvidares de ti e sentires que este teu sonho não era mais do que simples pretensão?
   Tinhas o mesmo desejo que eu, de novamente pertencer? O mesmo sonho de paz? A mesma canseira e indisposição quanto às coisas que permanecem sempre as mesmas, e se repetem como viciadas, como se não quisessem melhorar, porque não há mais tempo ou porque não querem se dar ao trabalho?
   Alguma vez durante este tempo, durante o tempo nosso, pelo menos uma vez fizeste como eu, quase deixaste tudo que era conhecido, unicamente pelo desejo de conhecer a possibilidade de realizar este teu sonho? Alguma vez te faltou coragem e, mesmo sentindo que parecias perdido, foi a fé em mim e naquele sentimento que te impulsionou a fazer o que, de outro modo não farias? Alguma única vez a saudade parecia doer no peito, e tanto, e de um modo tão incompreensível porque não tinha cheiro, nem cor, nem som, que a única saída era engrossar tua pele e negar os teus sentidos, para esquecer o quanto ainda és sensível?
   Por algum tempo eu permaneci contigo, em teu pensamento, e tantas vezes quantas imaginavas que poderíamos estar rindo e compartilhando algo, que nos faria transcender qualquer das limitações que afastam aqueles que vivem de aparências? Quantas vezes tu imaginaste que poderíamos estar saciados, mesmo no silêncio, de todas as juras, promessas e palavras? Ou que todo dinheiro ou coisas juntadas só teriam significado por estarmos juntos? e que aquele vinho tomado numa noite em Paris ou em qualquer outro lugar teria o sabor do que é conquistado? Alguma vez, ao imaginar estar comigo, sentias que o tempo não passaria para nós e tudo valeria a pena? Por quanto tempo desejastes  partilhar comigo o melhor de ti, e me ver sorrir, e me abraçar se eu sentisse vontade de chorar? E acabar com a nossa solidão, sem culpa?Quando pensaste que eu era insubstituível, desejaste pelo menos tentar descobrir se este sentimento era recíproco e se poderia vir a ser uma vivência real de amor?
   Acho que nada sei de ti, pois teu coração estava fechado para mim. Pois se assim não fora, terias, como eu, atravessado aquela ponte! Eu fui, até um pouco mais da metade do caminho, rompi barreiras e laços, mas voltei, porque tu não estavas lá, porque aquela ponte ainda estava lá, e eu... já não sei mais viver sozinha.

   Quando ela terminou de escrever a carta, olhou novamente pela janela. Já estava escuro. Respirou fundo. Apagou o endereço do email e devagar, apagou tudo o mais que ele continha. E jamais enviou.
    Este era um daqueles dias em que a saudade daquele sonho apertava o coração. E ela ficava assim, quase com raiva, quase muito triste... Mas era um bom sonho, e ela preferia pensar em como ele lhe trazia sorrisos e a inspirava até mesmo para sentir a alegria de estar viva. Levantou-se e foi buscar uma taça de vinho....

Foto retirada do Google
Texto: Vera Alvarenga


   

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Sensibilidade, razão e saudade...

  Às vezes bate uma saudade e sinto uma enorme vontade de abraçá-lo. E abraçá-lo, eu penso, do modo como jamais o abracei. Do jeito que a gente sempre sonha abraçar aquele que a gente ama. Sabe como é, não é?
 Quantas vezes imaginamos estar com alguém e, sem precisar dizer muitas palavras, compreender que muito já está subentendido e, com um abraço selar um acordo íntimo de cuidado e confiança eternos. Quem não sonha com este tipo de encontro onde  desprendimento e comprometimento não se fazem contraditórios, mas complementares? Algo como se as almas tivessem finalmente se encontrado...
   Ah! nossa! quão delicado e profundo pode ser o sentimento de que somos capazes quando estamos apenas a vislumbrar o encontro, seja com um filho, um amigo ou a pessoa por quem estamos ou estivemos apaixonados.
   E quantas vezes nos acontece que, ao estarmos diante daquela pessoa nos toma, de corpo inteiro, uma inércia desconcertante. E esta, é filha da dúvida entre o desejo de demonstrar espontâneamente o carinho que queríamos dar( ou trocar), e o conjunto de crenças ou afirmações que tantas vezes ouvimos - "é preciso respeitar o momento do outro", "não podemos apenas pensar no que desejamos mas nos perguntar se o outro o deseja também", "demonstrações de afeto não esperadas podem fazer o outro sentir-se invadido" ( ainda mais no tempo em que as pessoas se habituaram a manter-se resguardadas, isoladas do outro e a verdadeira "intimidade" não é muito bem vinda, a menos que seja através dos toques em um teclado). Evidentemente são regras do bem viver. E necessárias, sem sombra de dúvidas! Eu mesma hoje, sou assim - sei que aquilo que sentimos e tem um toque de divino e verdadeiro, é diferente do que podemos transformar em gesto real. Sei que nem tudo que parece ser, é. Somos seres humanos racionais e deve fazer parte de nosso desenvolvimento, o saber controlar desejos e impulsos, o aprender que a vida é feita de frustrações e alguns momentos de felicidade ( por isto mesmo, também é melhor evitar nos apegar ao que pode ser colocado apenas em palavras e jamais em gestos).
   E sendo assim, não estando mais presente, onde estiveres, certamente não recebes nem precisas de meu abraço, penso eu. Quantas léguas me separam de onde estás agora?
  Ao pensar nisto a saudade fica mais forte, mas hoje, já sei como estancar o sentimento como aquele que impede que o corpo se veja inteiramente tomado. E é preciso fazê-lo antes que se torne quase insuportável, porque então, ia doer. E só masoquistas precisam sofrer, diz mais uma crença. O melhor é apenas lembrar, sorrir, deixar ficar e seguir. Então, acalmo meu coração, viro as costas e saio... livre, agora, de tua lembrança...
  - Hei! Espere ai! Quem é que disse que viver é fazer de conta que nada sentimos? E que todos estes pensamentos e sentimentos contraditórios de um mundo que mal conheço e pelo qual minhas pernas mal caminharam, podem me roubar assim, tão totalmente de mim ( daquilo que acreditava) ? Penso, logo existo? Creio, logo sou! Ah, como sou terrivelmente influenciável e fraca neste ponto! Traí a mim mesma mais do que a estranhos.
  Decidida volto então a buscar-te em minha lembrança, porque viver é lembrar também. Descuido da razão. Escolho minha sensibilidade. Procuro tua face e cara a cara te digo que, neste momento em que quero ser fiel a mim mesma, não importa teu silêncio, a distância ou mesmo tuas escolhas. Coloco em prática o gesto que aprendi... ( Psiu! ninguém vai saber e só quem crê, sem soberba, poderia compreender...) e na calma do meu coração me coloco como em meditação, e para ti envio o melhor de um singelo e forte sentimento envolto em luz azul, junto com meu carinho, desejo que fiques bem e que Deus esteja contigo. Neste momento tenho asas e é o melhor de mim que vai em tua direção. Pronto, feito!
   Mas, um minuto após este doce instante de meditação, guardo meu espírito e minha viola no saco, no mesmo instante em que, sem nenhuma razão, passa por meu corpo e minha vontade um pensamento furtivo...
  - Ah! tivesse o destino permitido que ainda houvesse tempo para que tudo pudesse ter sido mais concreto, como ainda sou...
   
Texto e foto: Vera Alvarenga:
  

sábado, 5 de março de 2011

Um oceano dentro do peito...

   Ao ouvir aquela música, todo aquele sentimento que ela pensou que já se tornara parte dela, de sua história, como algo que se assimila, se dissolve no sangue e se dilui pelas células, bateu forte no peito. Pulsava ainda vividamente, como se não houvesse perdido nada de si, como se tivesse vida própria, ou imprópria como era desde o começo!
  Colocou a mão no peito como se o pudesse conter, surpresa por ver que ainda estava inteiro. Como era possível isto? Agora, que tudo começava a ficar em paz, novamente, por que este sentimento ainda resistia? Porque permanecia dentro dela como tatuagem que entranha na pele e faz parte! Que teimosa agonia esta de permanecer vivo,mesmo que tímido,quando nada há que o alimente. Por que não conseguia esquecê-lo? O que ele representava? Já nada era mais em si mesmo, a não ser sinais, signos de uma linguagem, que algumas vezes ela quase cansou de interpretar. E era então, que ele a trazia de volta. A voz dele se fazia ventania e lhe desvendava pequenos tesouros, claras palavras que a deslumbravam e a prendiam ali naquele quase desértico sambaqui - ponto exato de intersecção entre duas histórias distintas, campo arqueológico em que ambos procuravam sinais de vida, que lhe dessem razão para uma outra, mais rica.
   Não conseguiu tocá-lo,embora ele tivesse dito que sim. Só ele a tocara, só ela se deixara tocar verdadeiramente, por todo este tempo? Exatamente um ano. Olhou para os lados. Ninguém ousaria supor adivinhar seus pensamentos. Como alguém podia fazer uma música falando de si, se nem a conhecia? Queria sair dali, mas a música a envolvia mais e mais.
   Tinham um jeito próprio de se tocar, de se abraçar...era como se algo dentro deles soubesse o caminho, apesar de tudo. Quando a dor de cada um se misturou com a letargia e tudo parecia se dissolver, foi que se encontraram. Uma vez, ele lhe disse que sentia sua falta, que ela se tornara real. Ele sempre fora real e ela  o ouvia chamar. Os céus sabiam que já estava na hora, os anjos eram testemunhas do quanto ela se surpreendeu ao perceber que, ao seu chamado, voltara a sonhar,desejar e respirar, porque vivia! Não soube como controlar a vida que assim nascia.
  Quando ele a abraçava com o seu olhar e lhe desejava um bom dia, tudo parecia ficar bem e ela esquecia de tudo que não era bom, e sorria, porque não precisava mais esconder a luz do sol que agora brilhava.
   Lembrou de quando morava à beira mar. Sentiu os pés na areia molhada.
   No horizonte, a lua nascendo, cheia, feminina, levantando-se do leito de seu amante-amigo que era dono de seu brilho, pois era para ele, só para ele, que ela ousava ainda brilhar.
  O mar estava em seus olhos, descia por suas faces, inundando seu peito, ou ela se afogava no mar? Ou seria a lua, que de saudade chorava?
Texto : Vera Alvarenga
Vídeo youtube.- David Gray cantando

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

" O Mago e o inexplicavelmente real..."

Num campo de alfazemas, as mulheres colhiam as flores que mais tarde seriam transformadas em poções aromáticas ou de cura... Conversavam muito entre si.
Uma delas, mais quieta, trazia no olhar uma lágrima contida há algum tempo.
A observá-la, duas mulheres mais velhas conjecturavam:
- Você viu? está assim novamente. As vezes sorri, como se estivesse lembrando algo bom, e de repente, fica com  olhos brilhando como se fosse chorar...
- Estará doente ou apaixonada? ou será algo impróprio, uma dor talvez...
- Quando lhe perguntei o que tinha, me disse : - Ontem recebi um presente. Hoje tenho saudades e esta dor no peito!
- Só pude rir, não é mesmo?
- Ah, é frescura, então!
- Aconselhei-a a procurar Maestrus, o mago, ainda hoje, pois não é mais a mesma mulher, eficiente como era. Ele dará um jeito! Vai curá-la.
E assim, no fim do dia, lá estava ela, no alto da colina, junto ao Mago que acabara de meditar. Ele sabia que ela viria. Assim que se aproximou, ele já pegou em seu bolso o vidro e o estendeu para ela.
- Aqui está. É amargo, mas vai colar seu coração partido.Ninguém pode viver com o coração assim dividido!
- Não sei se é isto que preciso. Meu coração está num só lugar, que não pode estar. Meu corpo é que parece estar em outro. E me sinto culpada porque não sei resolver isto.
- Pois dá no mesmo. Bem, então você tem um tipo de fome que...hummm... tome este! E pegando no outro bolso um vidro menor, o mago lhe disse que em pouco tempo ela veria a realidade com mais clareza e não seria mais atormentada por sonhos e ilusões. Vai voltar a ser a pessoa eficiente que todos apreciavam.
- Mas, então este líquido que me dá é como "água com açucar"... já estou cansada disto. Por alguns dos últimos anos foi o que me deram. Isto não me cura, é placebo, efeito é passageiro..isto sim é uma ilusão, não tem consistência, não alimenta de verdade!
- Ahah! então mulher, está querendo me ensinar meu ofício? Eu não queria chegar a este extremo! mas aqui está! E, de seu peito tirou um minúsculo vidrinho. Abrindo a tampa, ordenou:
-Tome tudo de uma só vez. É de sabor adocicado no início, depois queimará você e tudo o mais por dentro através da garganta até o coração, mas em segundos vai curá-la de vez! Você verá a verdade do que é realmente possível. Então, deste exato momento em diante nunca mais terá falsas ilusões sobre qualquer desejo que te faça crer que realizado, saciaria sua fome! Nem sentirá culpa, pois isto destruirá a visão distorcida que tem sobre a vida e o amor! Decida-se, pois em um minuto, esta potente poção se transformará em fumaça e não poderei mais ajudá-la.Tome-a !
Ela olhou fixamente para o Mago e lhe disse:
- Não! O que isto destruiria é a coisa mais bonita que me aconteceu em muitos anos! É apenas um sonho, mas de algo que seria mais real, se pudesse realizar-se, do que você, bruxo velho!
Determinada virou as costas e se foi, pisando duro na terra, para provar-lhe o quanto era decidida. Contudo, alguns passos depois, deixou-se quase flutuar no ar! E aquele olhar meio distante, e o sorriso meio idiota, meio doce, voltou ao seu rosto.
E o Mago sorrindo, abriu imensas asas prateadas e como um anjo, voou para a imensidão dos céus:
- Por enquanto, está curada! Ainda aceita o presente de amor que lhe dei...

Texto: Vera Alvarenga
Foto:  imagens  do Google.

domingo, 8 de agosto de 2010

Hoje, senti saudades do meu pai!

Eu ia me calar, mas não deu.
Já tenho cabelos brancos, como falar das saudades que a gente sente, como se fosse outro dia, que ele esteve presente em nossa vida? Parece que não combina dizer :
- " Que saudade sinto do meu pai!", quando os cabelos estão tão brancos como os dele estavam, da última vez que o vi.
Hoje, foi um lindo dia dos pais, para meu filho, minha norinha e os pais deles! Apesar disto, senti sim, saudade imensa do meu.
Por que ?
Ah, não é apenas porque ele me carregava no colo, assobiava ou cantava para mim...
Não é apenas porque, mesmo depois que cresci, ele continuou me elogiando pelo que eu sabia fazer e me incentivando a continuar gostando de música, poesia, escrever, pintar...
Não foi apenas porque trabalhamos juntos e, eu vi como ele tratava os colegas de trabalho, desde o mais humilde até o chefe, da mesma maneira respeitosa e polida.
Um dia, eu já era casada, e ele foi me visitar. As visitas eram raras, porque ele sabia que minha mãe, depois que se separaram, não nos perdoava por ainda tentar vê-lo. Neste dia, ao acompanhá-lo até o carro, pude ver seu desespero ao ver que o carro havia sido roubado e ele não tinha seguro, nem condições de comprar outro. Suas primeiras palavras, ao constatar o fato foram algo que não esqueci:
- " E meus doentinhos? E agora?"
Não sendo ele um médico,logo compreendi que, ele estava preocupado porque havia trazido no carro, alguns exames RX de pessoas pobres, da cidade onde morava e que precisavam de atendimento no Hospital das Clínicas. E ele, ex-funcionário, contador aposentado e também doente, ao ir ao Hospital, iria interceder por estas pessoas!
Acima de tudo isto, o que me fez sentir saudades dele, foi porque ele foi o primeiro homem que amei! e pude amar, sem medo. E seu amor foi algo que ele nunca "retirou" de mim...sempre me ofereceu seu amor, sincero, verdadeiro, sem nenhuma condição, a não ser, estar disponível para receber este amor.
Então, foi por uma porção de coisas que eu recebi dele e aprendi com ele, que aos 20 anos, percebi que ele já tinha conquistado meu coração para sempre! E isto foi muito importante para que eu não tivesse medo de amar um outro homem!
     Nesta ocasião, nas vésperas de meu casamento, ele mostrou que era frágil e cometia erros! Minha mãe separou-se dele porque descobriu que ele estava apaixonado por outra mulher.Foi um desastre! Ela sofreu muito. Poucos meses antes de meu casamento, isto mexeu com meus conceitos a respeito de fidelidade e sôbre a eternidade do amor. Aprendi, também com ele, que o amor era coisa a ser cuidada com carinho, e que uma esposa tinha que ser uma boa amante também. Mas não sei se era esta a questão. Ele me disse que não sabia  que diabos havia acontecido com ele, para que se apaixonasse assim por outra mulher, sendo minha mãe uma mulher de tanto valor, mas que não pode evitar, pois havia encontrado a mulher companheira para o resto da vida dele. Todos nós , 4 irmãos, sofremos algo indescritível: como poderíamos amar nosso carinhoso pai, sem culpa, se ele havia feito nossa mãe sofrer tanto? A partir daí, penso que todos nós ficamos divididos, o que não é muito saudável, nem confortável! Minha mãe não perdoou nossas pequenas traições de filhos que queríamos continuar a amar aquele pai. E, cada um resolveu isto como pode! E tirou daí as lições que conseguiu ver.
   Não sei quanto isto influenciou em minha vida como mulher e esposa. E certamente, isto aconteceu. Contudo, sei o quanto o amor que ele me deu como pai que era, e seu jeito simples de amar a vida e as pessoas me influenciaram, e me permitiram não querer me fechar ao amor. Quem recebe, em criança, amor dos pais, ou de um deles, nunca esquece e, é deste amor incondicional, que aconchega e abraça, que a gente sempre vai sentir saudades. Isto ocorre, mesmo que o tempo passe, e seja a gente que venha a amá-los desta forma, quando estão mais frágeis, de cabelos brancos, e precisam mais do nosso amor. Amor dado, amor retribuído, com o mesmo coração e disponibilidade. É assim a vida, e sou feliz por ter saudades de um pai que foi amoroso!

domingo, 29 de novembro de 2009

" Revendo Florianópolis, por outro ângulo..."


Voltei! Foram poucos dias pra rever o mar, o lugar onde morei por 10 anos, matar saudades das flores, da natureza, cuidar da casa, providenciar consertos, comer muito camarão, peixe...

Não vou falar muito sôbre o que fiz ou não pude fazer porque não deu tempo. O céu estava um pouco nublado( foi bom, pra poder ver tudo sem precisar ficar forçando o olhar e sem me preocupar muito com queimaduras de sol, além do mais, eu tinha muito trabalho e pouco tempo para a praia).
Entre uma coisa e outra, tirei fotos que vou postar aqui. As primeiras, tinham que ser da praia,não é?
As outras fotos.. sinto muito.. vão ser de duas coisas que eu percebi que realmente me fazem falta:
- meus amiguinhos pássaros e as flores !
Descobri, nesta viagem, que minha fase de ficar caminhando na praia, ou em baixo de um guarda sol cheia de protetor solar, lendo livros, por horas e horas... já passou!Acho que agora, prefiro uma piscina e, na sombra!
Acreditem ! não deu nem um pouquinho de tristeza de sair de lá, deixar aquele "marzão" que lembra imensidão ( e Deus), aquela praia com pouca gente que lembra calma, liberdade, mas também solidão... mas me deu uma saudade danada de ouvir e ver os pássaros, que por lá habitam e vinham ao meu jardim, todos os dias. Revi até o lagarto, que mora no condomínio!
O condomínio fica a 50mts. da praia - não é no meio do mato, não! A uma quadra estão os restaurantes, o shopping,etc.. Só que, ao lado do condomínio há uma pequena área de mata natural e um riacho, com enormes mangueiras, um casal de gralhas azuis e seus filhotes, além de muitas outras espécies de pássaros.
Canários, pássaro preto e outros com seus cantos doces; curruíras, bem te vis, joão de barros, quero-queros, gaivotas e tantos outros mais barulhentos.
Gente, é uma alegria poder viver num lugar onde há tantos pássaros livres, pertinho de você!
Desta vez, pena, não vi na praia nenhuma baleia, nenhum golfinho!
Se eu pudesse, traria para cá, todas as flores que me encantam e também me lembram que existe um Deus ( tem que existir !) que permite que todas as cores possam se combinar de modo surpreendente e harmonioso - arquiteto maior, artista dos artistas, idealizador da beleza que há neste mundo!  Quando ouvi, de manhã, o canto dos pássaros e vi as flores tão coloridas nos jardins de quem gosta delas, percebi que é disto que mais sinto falta aqui.
Ah ! se eu pudesse, traria também um pouco da brisa que é constante em Floripa - a Ilha da Magia - para o interior de São Paulo, lugar onde moro agora ( porque aqui, é danado de quente e, por isto,as flores não aguentam, a gente fica melada de suor não de maresia, e as mulheres na menopausa como eu, sofrem um pouquinho mais no verão que dura quase  ano inteiro! ).
Tô pensando em fazer um Blog de fotos... daqueles que as pessoas podem se inscrever e usar as fotos em seus blogs também, tendo o cuidado apenas de colocar o nosso nome nelas. Não sei como fazer isto ainda, mas vou pesquisar.
Se alguém puder me dar uma dica, agradeço.
Abraço.



sexta-feira, 6 de novembro de 2009

" Morte de meu Irmão..."

" Hoje, por email,soube da morte de meu irmão,5 anos apenas mais velho que eu. Aconteceu ontem.Minha avó diria: "pra morrer, basta estar vivo!"
Foi pneumonia que, segundo os médicos, complicou-se com o diabetes, problemas cardíacos e depressão.
" Não é a dor de perder um companheiro,ou amigo que se tem para todas as horas, o que sinto. É a sensação de aperto no coração,pela constatação da grande impotência diante daquela, com a qual não podemos lutar, discutir, argumentar, enganar ou fugir - a Morte. Nada há que possamos fazer para recuperar o Tempo ou vencer a Morte. Claro que me refiro a esta vida, a qual conhecemos e vivemos agora, com o corpo que temos no presente, e estando neste planeta conhecido como Terra. "
" Não vou entrar em divagações espiritualistas, religiosas, filosóficas, sôbre o que acontece após a morte, porque, não sei. Meu coração fica apertado pois, mais do que o que eu sentia por ele e ele por mim ( sempre houve carinho entre nós), o que me dói é saber que nos últimos anos, meu irmão não teve uma boa vida, com saúde e alegria que todas as pessoas boas deveriam ter ( ou como eu gostaria que ele tivesse). Assim,tenho que recorrer ao espiritual e desejar que Deus exista, de verdade, para estar com ele em seus braços, confortando-o finalmente. Quero crer, com todo o meu coração, que ele está muito melhor agora, do que antes, mas, conhecendo-o como penso que o conhecia, sei que, mesmo assim,deve estar com saudades dos que amava. Ele era emotivo."
" Eu e minha irmã não o víamos há quase 13 anos, eu acho. A vida,muitas vezes, separa irmãos - casamento, novas famílias, mudanças,distâncias, a falta de comunicação ( ele não tinha computador ou email). Nós dois trocamos cartas há alguns meses atrás.Bom que pudemos trocar também palavras de carinho,desabafos e apoio. Mandei-lhe um presente, ele adorou, enfim, nos aproximamos um pouco mais, após longo período, quase sem sabermos notícias um do outro."
" Nem sempre podemos nos manter fisicamente próximos, dos nossos irmãos de sangue... ou outros membros da família. Resta-nos, contudo,em nosso coração guardar boas lembranças e dirigir a eles, o melhor de nossos sentimentos. Era isto que me fazia aguentar as saudades dos meus filhos e de alguns amigos queridos,quando eu e meu marido fomos morar a 1000 km. de distância deles, por 10 anos! Sem telefone, no início, sem recursos para viagens e extras de qualquer tipo, meu coração teria secado, se não pudesse recorrer à crença de que me ligava a eles, espiritualmente,a cada meditar e orar. De qualquer modo, esta nossa experiência e a que tivemos com o afastamento de meu irmão, me ensinou duas coisas importantes."
" A primeira é que, a distância afasta sim as pessoas,portanto, é melhor podermos usar os meios de comunicação que nos for possível,para nos manter relativamente presentes na vida de quem a gente ama e está distante."
" A segunda é que, seria bom cultivar a intimidade, o carinho e o interesse real por aqueles que estão mais próximos de nós, fisicamente (familiares ou até um vizinho, que sabemos estar só),seja aqueles por quem somos responsáveis de alguma forma, seja por termos laços de afinidade e amor. O interesse real é o caminho pelo qual podemos oferecer o "cuidado amoroso".
 "A intimidade que aproxima as pessoas, depende também do outro se disponibilizar a confiar e se abrir para nós. Se nosso coração sente necessidade de amor, e estivermos longe de quem gostaríamos de amar, talvez fosse a hora pra rever a possibilidade de uma mudança para nos reaproximar. E se isto não for possível, é fundamental evitar que o coração murche como flor que não se rega. O único modo de sobrevivermos ( pelo menos foi este pra mim), é olhar ao redor e procurar novos objetos de amor. Desta forma, quando alguém próximo ou ligado a nós for irremediavelmente tirado de nosso alcance, saberemos que fizemos o que era possível para lhe dar o que podíamos lhe dar e, ao mesmo tempo, que tentamos preservar em nós a capacidade de amar."
"Rezo para que meu irmão tenha encontrado em sua vida, muitas outras pessoas com as quais pôde dividir momentos de amor,e que seja assim com todos nós, que temos que nos afastar dos familiares e amigos, pelas mudanças que a vida traz...."

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