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domingo, 22 de junho de 2014

E ela dançou aquela seleção inteira....


Parada em frente à janela, resguardada do frio, olhava para mais longe, através daquelas árvores verdes onde o sol brilhava sobre as flores vermelhas do jardim e pensava sobre aquilo que podia fazer o mundo ser maravilhoso aos nossos olhos. Distraída, ouvia uma daquelas fitas antigas onde gravara um dia, algumas músicas de que gostava. Sem resistência e mesmo sem perceber, seu corpo deixou-se levar pelo ritmo de Willie Nelson cantando "Always on my mind" e logo balançava suavemente de um lado para outro. E ainda mais soltou-se, descruzando os braços, quando ele cantou "Valantine".
   Tão antigas aquelas músicas, nossa! De olhos abertos vendo só o pouco que queria ver e imaginando o outro tanto, deixou-se levar... de repente sentiu que estava sendo observada e um minuto antes de desmanchar seu sorriso, de parar, envergonhada, os movimentos suaves com que acompanhava as músicas, olhou para ele. Estava sentado numa poltrona ao lado de uma estante cheia de livros e DVDs. Não era mais em sua sala que estava, como antes, mas sim num ambiente sóbrio e íntimo como um escritório ou biblioteca pode ser para aqueles que gostam de abrir sua alma e ali, escrever. Sentiu-se quase em casa.
 
Sorrindo, ele estendeu-lhe a mão e pegando a dela, fez com que continuasse a girar em torno da poltrona em que estava. Levantando em seguida, olhou-a nos olhos e ela pode ler neles o que a música cantava naquele mesmo instante - " You are so beautiful...to me..." De mãos dadas, mantendo-a distante de si como se quisesse mais olhar pra ela do que abraçá-la, ele a fez rodar e dançar em movimentos lentos ao redor dele. Aliás como cabia aos dois, nesta idade, os movimentos eram lentos mas intensos. E ela sentiu-se leve. E não importava mais o tempo nem a idade, e assim dançaram enquanto Louis Armstrong cantava para eles "A wonderful world".

E quando Riccardo cantava "Margherita" eles se abraçaram, dançaram juntos, beijaram-se... e ela o ouvia dizer baixinho : perché tu è dolce, perché tu è vera, perché tu ama, è un sogno, il vento e adesso è mia...

Tudo era extremamente intenso e leve ao mesmo tempo, e puro embora sensual, e forte, e o tempo parou por uma eternidade....sentiram-se vivos por saberem que tristes são aqueles que não sabem o que é amar.... Mas aquela música que falava do coração dos puros quando amam a deixou muito leve, tão leve que já não parecia real mas uma bolha de sabão colorida, pelo sol, feito arco-íris, indo para o alto.

Foi quando olhou novamente para as flores vermelhas atrás das árvores verdes que ficavam em frente sua janela e, ouvindo a última música daquela seleção, ainda com o sorriso nos lábios e alguma leveza na alma, pensando que pelo amor é que a vida segue em frente, acompanhava em pensamento a mesma pergunta da canção....
...." Quem poderá explicar o espírito secreto de uma vida?..."


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